quarta-feira, 16 de junho de 2010

Jamais devemos esquecer!

Percorrendo os corredores da Academia Nacional de Polícia, mais uma vez me deparei com a Galeria de Heróis. E apesar de algum tempo na polícia, ainda me restam 10 anos até a aposentadoria. Mas se eu tivesse que trabalhar mais 30 anos, isso só confirmaria que não há fardo maior do que suportar as dificuldades do trabalho ou a perda de um amigo policial. Então, no ano em que se comemora a formação de seiscentos novos policiais federais, é preciso lembrar aqueles que deram as últimas gotas de sangue em benefício do nosso país.

Hoje, estampam-se os nomes de alguns colegas nas paredes de memoriais, mas são incontáveis os policiais perdidos ao longo do tempo, e em alguns casos, muito antes de qualquer um de nós ter nascido. E é por causa de suas ações corajosas e desses memorais que o legado desses homens se perpetua na história e na memória daqueles que ficaram.

Nossos heróis possuem origens e histórias tão diversas quanto o próprio país que defenderam. Porém, todos juraram proteger o inocente contra a malícia; o fraco contra a intimidação; a paz contra a violência e a desordem, e, sobretudo, a liberdade de pessoas que sequer conheceram. Portanto, eles estarão sempre unidos pelo laço inabalável da honra, pois fizeram o que juraram fazer. E embora não haja discurso, cerimonial, continência e salva de tiros que possam aliviar essas perdas, é preciso sempre homenagear esses homens e aprender com os ensinamentos deixados por eles, mesmo após seus últimos suspiros.

É preciso estar alerta, vigilante. Vigília significa a privação voluntária do sono ou o estado de quem se conserva desperto durante a noite. Quer dizer, precisamos estar despertos para não esquecermos os heróis que perdemos e atentos para continuar com segurança o trabalho que poucos homens conseguem realizar, mas que criminosos insistem em destruir. E ainda que possamos ter medo, desânimo e desilusões, temos que rejeitar a covardia, pois ao contrário das outras profissões, aqueles que abraçam o trabalho policial sabem que um dia podem ter que lutar pela própria vida durante o cumprimento do dever.

Aqueles a quem devemos nossa lembrança escolheram essa profissão de bom grado, e é por isso que seu sacrifício final tem um significado tão importante. Eles trabalharam e se sacrificaram por um propósito maior do que eles: a humanidade.

Para aqueles que atenderam ao chamado íntimo para tornar nosso país seguro e melhor, é preciso reconhecer a importância de cada beijo do cônjuge, cada sorriso dos filhos, do abraço dos pais e das palavras dos amigos e heróis policiais que ainda vivem, pois sem o amor e a ajuda dessas pessoas nosso fardo seria ainda mais pesado.

Devemos assumir a responsabilidade por nossa segurança; tomar uma atitude contra o crime e a violência; fazer o que é certo; e sempre ajudar uns aos outros nos bons e maus momentos de nossas vidas para honrar aqueles eternizados em nossas galerias e memorais.

O Livro de João, Capítulo 15, Versículo 13 diz: “Ninguém tem amor maior do que este, de dar alguém a vida pelos seus amigos.” Portanto, jamais devemos esquecer essas palavras e nossos amigos policiais que se foram antes de nós.


segunda-feira, 22 de março de 2010

Aprenda com os policiais mais experientes!

Após 21 anos de serviço, uma das coisas mais importantes que fiz foi ouvir e observar os policiais mais antigos ou experientes, principalmente durante os seis anos em que trabalhei na Delegacia de Repressão a Entorpecentes da NO/NO/NO.

O termo ANTIGO é relativo, pois pode significar alguns anos a mais de serviço ou a experiência prévia trazida de outra força policial. Mas mesmo assim esses policiais sabem das coisas.

Então, o segredo é ouvir os policiais experientes, acreditar nas histórias que contam e colocar seus ensinamentos em prática na sua própria vida. “Quando você estiver chegando, tire o cinto de segurança!”; “Eu só atiro quanto tenho certeza!”; “Se puder beber, comer e descansar; beba, coma e descanse. Você não sabe quando poderá fazer isso de novo!”; “Policial não trabalha sozinho!”; “Calma! Ele vai continuar traficando, então a gente prende ele depois!”; “Algeme pra trás!”; “Fale pouco e ouça muito!”; “Não vá fazer m... hein!” e “Polícia não foi feita pra ajudar ninguém, mas no mínimo para atrapalhar!” são algumas frases que ouvi destes policiais.

Portanto, o que eu aprendi a partir disso abrange desde técnicas de sobrevivência até regras de comportamento que talvez tenham salvo minha vida em ocasiões que eu sequer percebi.

Não acredite em ninguém

Provavelmente, uma das coisas mais importantes que aprendi nesses anos é que as pessoas mentem. E não importa se são avós, pais, filhos, esposas, maridos, irmãs, irmãos, vizinhos, amigos, trabalhadores, desempregados, ateus, crentes, testemunhas ou mesmo suspeitos, pois todos eles mentem. Apesar de não mentirem sempre, com certeza todos eles mentem quando você conversa com eles.

Criminosos sempre mentem. Sempre. E eles vão lhe encarar direto nos olhos, transparecendo seriedade e inocência, e você será tentado a acreditar neles. Não acredite, porque eles estão mentindo.

Observe as mãos

Se um suspeito for lhe atacar, ele vai usar as mãos. Então, algeme qualquer um que transmita a impressão de que vai dar mais trabalho, mesmo que ele não goste disso. “Minha segurança em primeiro lugar, depois o sentimento alheio!” foi o que ouvi de alguém. Certa vez um preso me disse que eu não precisava algemá-lo porque ele iria se comportar. Bem, eu o algemei e disse que aquilo era para a segurança dos policiais e não pra dele. Ele não gostou nada, mas o fato é que eu ainda estou vivo, e aproveitando cada dia de sol. Lembre-se, quem diz como o trabalho policial deve ser feito é você e não o preso.

“As mãos matam!”. Foi o que disse um professor de tiro da Academia Nacional de Polícia. Então, observe as mãos constantemente já que você estará correndo risco até que consiga controlar as mãos do criminoso. Além disso, nenhuma academia de polícia ensina como algemar presos pela frente; e se o mundo inteiro algema criminosos para trás, você deve fazer o mesmo.

Sempre trave sua algema. Se ela não dispõe de um sistema de trava, então você deve descartá-la. Por quê? Porque todo delinquente é mentiroso, chato e folgado. Por isso, se sua algema não estiver travada, ele vai reclamar que ela está apertando até que você o algeme para frente. O problema é que algemado para frente, o bandido pode fugir, lutar contra você ou sacar sua arma.

Se você estiver entrevistando um suspeito e ele olhar para um lado, depois para o outro, e então sobre os seus ombros, provavelmente ele está procurando um lugar para onde correr. Algeme-o antes que ele fortaleça esta ideia e tome uma decisão.

Não adquira o hábito de colocar suas próprias mãos nos bolsos ou cruzar os braços na frente de um suspeito. Isso pode transmitir a impressão de que você é relaxado ou negligente. Além disso, você pode precisar dessas mãos para se defender. Então, é preciso que elas estejam disponíveis logo.

Faça uma busca pessoal. Faça outra busca pessoal

Em 28/05/2009 um policial civil foi assassinado e três foram feridos durante a condução de um preso. O preso foi detido pela Polícia Militar por estar embriagado e perturbando a ordem.

O suspeito foi levado à delegacia da Polícia Civil de Confresa/MT e colocado numa cela. Ao ser retirado do local, ele tirou um canivete da cueca e golpeou os policiais.

O investigador O.S. foi atingido no ombro e morreu em seguida; a escrivã A.G. recebeu dois golpes, um na cabeça e outro quase no pescoço; o policial M.M. foi gravemente ferido no abdômen e a investigadora M.S. também foi ferida.

O preso só foi contido quando a policial R.M.M. atirou na perna dele. Ao que tudo indica, as buscas pessoais realizadas pelas polícias foram mal conduzidas ou não foram feitas.

Portanto, se outro policial lhe entregar um preso, faça uma nova busca pessoal antes de assumir a custódia, mesmo que você tenha acabado de ver aquele policial fazer isso.

Faça uma busca pessoal em qualquer pessoa que esteja perto o suficiente para manter contato físico numa situação que pode se tornar crítica ou se você tiver a menor suspeita sobre algo.

Se você não se sente à vontade em “apalpar” alguém, você ainda pode realizar uma busca pessoal minuciosa. Assim, leve o suspeito até um cômodo reservado (cela, quarto, etc.) e mande que ele retire toda a roupa, mas uma peça de cada vez que deve ser entregue na sua mão. Reviste cada peça de roupa. Ordene que o suspeito, ainda nu, se agache de frente e de costas. Mande que ele levante os braços e depois as solas dos pés. Ordene que ele esfregue os cabelos com as mãos, depois abra a boca e ponha a língua para fora.

Dê uma geral em qualquer pessoa que entre na viatura, mesmo que seja aquele informante que já ajudou a polícia centenas de vezes. Afinal, informantes também são criminosos. Faça o mesmo ao colocar ou retirar um preso da cela. Reviste os bancos e o cubículo da viatura antes e depois de colocar um custodiado dentro do carro. É quando você pode achar drogas, lâminas, anotações, celulares, armas, etc.

Armas e equipamentos

Sua arma deve estar pronta, envolvida por um coldre de qualidade ou por suas mãos, e de mais ninguém. Dedo fora do gatilho. Já falei sobre isso em outros artigos.

Leve um carregador sobressalente. Se puder leve dois carregadores reservas. Conheço um policial que disparou 15 tiros contra dois assaltantes armados. Num piscar de olhos o policial ficou sem munição, mas por sorte os criminosos também ficaram sem munição. Você provavelmente deve conhecer casos semelhantes. Então, aprenda com as experiências dos outros.

Só atire quando tiver certeza de que é para salvar sua vida ou a de outra pessoa. Armas foram feitas para incapacitar pessoas, e muitas vezes até isso é difícil. Tiros não param aviões, automóveis ou motocicletas a não ser que você acerte o condutor – o que normalmente não é uma ideia razoável. Tiros também não abrem portas, sendo provável que o projétil atravesse a porta e acerte um inocente. Já vi esse tipo de ocorrência duas vezes!

Tenha sempre à mão um canivete tático dobrável e um alicate multifuncional. Certa vez, durante uma operação de DRE, aquela velha camionete D-20 de cor azul teve o cabo do acelerador quebrado numa estrada entre os municípios de “São Ninguém” e “Lugar Algum”. Mas foi o alicate multifuncional e um pedaço de arame de um antigão que nos tirou dali. Ele olhou para mim sorrindo e disse: “É pra isso que eu carrego estas coisas!”

Em algumas situações você pode levar alternativas menos letais, como um spray de pimenta, um bastão retrátil. Um bastão é o melhor substituto para a coronha de uma arma e para as mãos. Imagine que você precise quebrar o vidro de um carro para socorrer alguém. Sem esta ferramenta, talvez você se sinta forçado a quebrar a janela usando objetos que não foram desenvolvidos para tal fim.

Isso me lembra uma orientação muito importante: proteja suas mãos. Como são elas que vão salvar sua vida, você não deve fazer com elas aquilo que deve ser feito com uma ferramenta. Não ponha as mãos nos bolsos de um suspeito porque você pode ser ferido por lâminas ou agulhas.

Compre uma caixa de luvas de látex para procedimentos (luvas cirúrgicas). A caixa com 100 unidades custa cerca de R$ 15, o que é pouco pela proteção oferecida contra a imundice e o mau cheiro que normalmente são encontrados nas casas de pessoas investigadas. Recentemente, recebi um e-mail de um colega (que ganha R$ 7.500,00 por mês) dizendo que não iria comprar um kit de limpeza de arma (que custava R$ 20,00) porque isso era tarefa da União. Espero que ele compre pelo menos a caixa de luvas que custa 25% menos!

Cuidado com objetos que parecem inofensivos

Pessoas desesperadas podem atacá-lo com qualquer objeto à mão, especialmente na cozinha, no gabinete ou no cartório. Portanto, tenha cuidado com canetas, grampeadores, ferramentas, tesouras, facas, garrafas, etc. Lembre-se, observe as mãos e as algeme se suspeitar de algo.

Luzes

Compre uma lanterna de qualidade. Ser capaz de ver bem é tão importante quanto estar armado. Jamais compre estas lanterninhas xing ling que são vendidas nas feirinhas de importados. Compre logo uma lanterna Surefire, Streamlight, Fenix, Blackhawk, Inova, Ultrafire ou Pelican para situações táticas. Tenha sempre uma Mini Maglite 2AA ou Police para buscas diversas (o que economiza a bateria e a vida útil da lanterna tática) e uma lanterna de bolso 1AAA afixada no chaveiro do seu carro para as emergências.

Isso pode parecer um exagero, mas infelizmente tudo que depende da energia elétrica cedo ou tarde falha ou apaga.

Cuidado ao dirigir a viatura ou perseguir alguém a pé

Não dirija como um doido e ziguezagueando pelas ruas, mesmo numa situação de emergência. As pessoas demoram a ouvir as sirenes, a entender o que está acontecendo e o que devem fazer. Com uma viatura é muito fácil você chegar num cruzamento antes que os outros motoristas percebam. E se você se envolver num acidente, sua missão acaba aqui porque você não poderá ajudar ninguém se estiver incapacitado. Portanto, mantenha-se na faixa da esquerda, pois é isto que manda o código de trânsito e é o que os outros motoristas esperam que você faça.

Se você estiver perseguindo um criminoso a pé e notar que seus colegas sumiram, pare – eles terão dificuldade para encontrá-lo caso você precise de ajuda. Se você estiver perseguindo um criminoso e de repente ele sumir, pare – talvez ele tenha preparado uma emboscada.

Portanto, não banque o herói. Haverá outra chance para você prendê-lo algum dia ou ele será morto por um desafeto. De qualquer modo, você vence.

Entrevistando suspeitos

A primeira coisa que você deve fazer ao entrevistar algum suspeito é evitar perguntas idiotas. Isso parece óbvio, mas mesmo assim cito algumas perguntas que já foram feitas. Prepare-se! “O que você comeu hoje?”, “Você está armado?”, “Onde está a droga?”, “Este documento é falso?”, “Você vai fugir?”, “Esta arma é sua?”, “Por que você não diz a verdade?”.

O segundo aspecto numa entrevista é deixar que o suspeito fale. Quanto mais ele fala, mais mentiras ele conta. Ouça o que ele diz, tome nota e confira as informações. Se forem falsas, simplesmente diga ao suspeito que ele está mentido e que você sabe disso.

Quando você tiver alguém sob sua custódia, jamais comente assuntos relacionados à investigação. Não diga como você chegou até ele, nem revele qualquer informação que possa ser utilizada por ele para aperfeiçoar suas técnicas criminosas. E jamais conte o que ele fez de errado para que você conseguisse pegá-lo. Isto dificulta o trabalho da polícia depois. Recentemente, um preso reclamou que a polícia havia entrado muito cedo em sua casa. O policial respondeu que na verdade a polícia estava no local às 05h30, mas que ela só poderia entrar no local a partir das 06h. O policial ainda disse que era costume aguardar alguns minutos pra que todos os relógios marcassem este último horário. Em outra ocasião, um policial disse ao preso que tinha sido muito fácil prendê-lo porque ele foi desatento e não percebeu que estava sendo seguido. Infelizmente, alguns policiais querem mostrar que são bons profissionais, e acabam revelando informações que não deveriam.

Dê atenção ao instinto

Sempre use o bom senso. Sempre. E se você sentir que há algo errado, simplesmente acredite que há algo errado. Mantenha este foco mental até ter certeza se está tudo bem.

Sempre confie na sua intuição. Sempre. É o acúmulo das experiências que fazem sentido para você e que está trabalhando de modo subconsciente para mantê-lo a salvo. Isso me leva ao item “Não acreditem em ninguém”.

Abra seus olhos

Saiba que não existem presos “tranquilos” ou “gente boa”. As unidades prisionais espalhadas pelo país estão repletas de ladrões, assaltantes, homicidas, latrocidas, estelionatários, falsários, sequestradores, torturadores, estupradores, traficantes, etc. E nenhum deles é “gente boa” ou “tranquilo”. Se você ainda tem alguma dúvida, basta perguntar às vítimas!

Dos direitos dos presos

O artigo 42 da Lei 7.210/84 diz o seguinte: “Aplica-se ao preso provisório e ao submetido à medida de segurança, no que couber, o disposto nesta Seção.” A expressão NO QUE COUBER implica dizer que o preso não tem direito a tomar cafezinho, comer pão de queijo, fumar um cigarrinho, perambular pela delegacia como se fosse um funcionário ou ficar abraçadinho com a namorada.

Sugestões

Há dezenas de dicas que você pode acrescentar neste texto para torná-lo melhor. Faça isso e depois leia o artigo de vez em quando.

E não se esqueça de preparar uma BOROCA. Mas se você não sabe o que é isso, pergunte aos colegas mais antigos ou experientes.

*Este artigo é também uma homenagem aos colegas com quem tive a oportunidade de aprender.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

O que eu faço quando alguém está atirando?

A resposta para esta pergunta é: depende.

Depende de onde você está, com quem você está, quem está atirando, quais opções você tem, e da sua habilidade.

De qualquer modo, os resultados mais comuns quando alguém está atirando em você são:

1) Você morre;
2) Você vai para o hospital;
3) Você foge;
4) Você atira de volta e o agressor foge;
5) Você atira com tanta concentração na tarefa e tão bem que o agressor é ferido ou morto;
6) Outra pessoa aparece e também atira, resultando num dos itens acima.

E as pessoas que querem matar alguém normalmente não param até que:

1) Tenham sucesso;
2) Acreditem que foram bem sucedidas;
3) O perigo aparece e elas têm que parar.

Então, a primeira questão é se o atirador está disparando especificamente em você ou se ele está atirando em outra pessoa e os projéteis estão indo noutra direção. Estes dois cenários são relevantes para a escolha da melhor estratégia de reação. De qualquer modo, seus objetivos devem ser:

1) Sair da linha de tiro;
2) Sair da visão do atirador;
3) Sair da área.

Enquanto estes objetivos também se apliquem para quando alguém está tentando matá-lo, devido à gravidade da situação, você provavelmente precisará fazer algo mais para se salvar. Mas quando o atirador está disparando noutra pessoa, provavelmente ele vai estar muito ocupado para se preocupar com você. De qualquer forma, as estratégias mencionadas são padrões de comportamento muito eficazes.

Agora observe a ilustração ao lado. Imagine que as setas que formam o V representam a fatia de um bolo e que o atirador está na ponta mais estreita (o vértice). Assim, quanto mais distante do atirador, mais larga é a fatia, e do ponto de vista dele, menor é o alvo (perspectiva). Do modo contrário, quanto mais perto do atirador, mais estreita é a fatia, e maior o alvo.

A distância é um fator importante porque se o atirador não apontar a arma direito, mesmo que ele queira atirar no alvo, existe uma boa chance dele errar. Desse modo, quanto mais longe do atirador, maior a margem de erro. Assim, o problema aqui não é o tamanho da arma ou do calibre, mas o tamanho do alvo que você representa para o criminoso. Voltando à ilustração, se você se distancia do atirador, isto significa que seu corpo preenche apenas ¼ da fatia (representada pela figura oval de linha pontilhada), e não um inteiro (se você estiver próximo demais). Quer dizer, quanto mais você se afasta do atirador, mesmo dentro da fatia, menor a chance de você ser atingido.

Mas não interessa só se você está perto ou longe, porque o que importa também é que você ainda está dentro da fatia, e os projéteis lá dentro só vão parar quando atingirem alguma coisa ou alguém. E enquanto correr pode ajudar, o que você precisa fazer é sair da fatia.

Por isso é importante saber se o criminoso está atirando noutra pessoa. Se ele está disparando contra você, há uma grande chance de que ele se mova para colocar você dentro da fatia de novo.

Então, a segunda questão que vai determinar sua conduta é: você está dentro ou fora da fatia? Você está em uma área ampla e aberta ou num local onde existe uma cobertura (quando você não pode ser visto) ou um abrigo (quando os projéteis não podem lhe atingir)? Aqui também há uma diferença.

Se você está num local fechado com um atirador, SAIA JÁ! Infelizmente, muitas pessoas se abaixam ou tentam se esconder atrás de mesas e portas. Se for preciso jogar uma cadeira na janela para criar uma saída, faça isso! Correr para outro ambiente pode lhe fornecer tempo para criar outra rota de fuga também.

Outra coisa que você precisa fazer quando estiver saindo de um tiroteio em um ambiente fechado é NÃO PARAR. Quando mais longe você estiver, menor a chance de ser atingido por um tiro.

Mas se você está num local aberto e um tiroteio começa, ENTRE EM ALGUM LUGAR, mas não pare para ver o que está acontecendo. Entre no prédio e ganhe distância da entrada. Fazendo isso, você sai da linha de tiro, da visão do atirador e está coberto e abrigado.

Se você está um local aberto e muito amplo onde não existe cobertura ou abrigo, CORRA! Aumente ao máximo a distância entre você e o atirador. Lembre-se sobre o que foi dito a respeito da distância. Se no meio do caminho, você encontrar algo que possa protegê-lo, continue correndo, e coloque o objeto entre você e o atirador para que sua fuga fique protegida.

Talvez o mais importante seja saber o que não fazer. Portanto, quando alguém estiver atirando não fique parado de pé para ver o que está ocorrendo. O som típico dos tiros já diz que alguma coisa complicou. Ficar parado de pé faz você um alvo estacionário que pode ser visto pelo atirador.

A terceira consideração é se o criminoso está realmente querendo matar você. Se ele está decidido em fazer isso, então ele vai rastrear você até colocá-lo dentro da fatia do bolo e se aproximar o máximo para acertar o maior número de tiros. E é aqui que os seis resultados mais comuns de quando alguém está atirando em você ocorrem.

Se você for atingido uma vez, mas socorrido com qualidade e rapidez, sua chance de sobrevivência é muita grande. Mas se você ficar parado suas chances diminuem à medida que você leva mais tiros à queima-roupa.

O quarto aspecto se refere às pessoas que estão com você. Ser capaz de proteger a própria família é um item importante na decisão de ter e usar uma arma de fogo.

Desse modo, você precisa reconhecer que sua tarefa se assemelha ao trabalho de segurança de dignitário, no qual a primeira prioridade é conduzir a pessoa para longe do perigo ao invés de ficar parado trocando tiros com os agressores. Ou seja, você leva a pessoa para a primeira entrada disponível, para dentro do carro ou do edifício, mas sempre para longe do perigo.

Contudo, se você sente que tem de atirar também, a primeira coisa que precisa fazer é se mover para uma posição diferente. Fazendo isso, você vai forçar o atirador a mover a fatia do bolo para reenquadrá-lo. Por quê? Porque o criminoso perceberá que a resistência (e o perigo) vem da sua parte e não da sua família. Assim, sua família ficará fora da área de ação do criminoso e poderá se salvar.

Porém, se o criminoso estiver atirando em você de propósito e você estiver sozinho... é para esta situação que serve seu treinamento de tiro de combate, de autodefesa, em ambiente confinado, tático, defensivo, etc. Não importa o nome que se dê para isso, pois você ainda precisa se afastar dele, sair da fatia e não parar de atirar até que o perigo desapareça. Aí você vai ficar surpreso com a rapidez com que o criminoso irá fugir quando você estiver atirando nele.


quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Pelo menos faça a sua parte!

Quem determina o destino? Talvez esta seja a mais antiga indagação de todo ser humano!

Muitas pessoas acreditam que o destino é imutável porque é controlado por uma força maior. Uns chamam esta força de Energia, alguns chamam de Natureza, e outros avocam Deus. “Ele é um predestinado!”, “Ninguém morre antes da hora!” e “Morreu porque sua hora chegou!” são expressões que exemplificam esta crença.

Outros indivíduos creem que o homem vive como pode até que seu destino se mostre e o guie nos momentos decisivos da sua existência. E eles dizem: “Meu anjo da guarda é forte!”

E alguns ainda entendem que o destino nada mais é do que o resultado das escolhas e do comportamento de cada pessoa, não obstante a presença divina. Estes afirmam: “Ele fez por merecer o melhor!” e “Morreu porque quis!”

Apesar da diversidade de crenças e das frases feitas, só uma coisa é realmente certa: ninguém conhece verdadeiramente o próprio destino; ninguém sabe previamente o resultado final de uma escolha, seja ela boa ou ruim.

Mas imagine que todas as vítimas do crime e da violência pudessem, horas antes de serem atacadas, visualizar o futuro por um breve momento. Quantas pessoas se salvariam? Agora pense quantos policiais seriam salvos se eles pudessem conhecer o futuro. Se isto fosse possível, com certeza cada um de nós teria um, dois ou, quem sabe, dez amigos policiais ao nosso lado novamente.

Assim, o detetive da Polícia Civil de Minas Gerais A.B.A.S (32 anos) não perseguiria o suspeito que o emboscaria numa rua escura e o mataria com um tiro na cabeça em 23 de janeiro de 2003 na cidade de Belo Horizonte/MG.

Se soubessem que um dos presos, levado para a 25ª DP do Engenho Novo, conseguiria se livrar da algema descartável, desarmar, atirar e matar um dos colegas, os policiais do 3º BPMRJ teriam contido o criminoso com uma algema convencional e mantido a segurança do armamento durante todo o tempo em que preenchessem o boletim de ocorrência em 07 de agosto de 2008.

Em 28 de maio de 2008, o policial civil do Estado de São Paulo C.P.S. (57 anos) não teria ido sozinho ao Morro do Kibom para entregar uma intimação se soubesse que a pessoa que assinaria o documento aguardaria que ele virasse de costas para esfaqueá-lo, tomar-lhe a arma, abrir fogo, e depois arrastar seu corpo por cerca de 100 metros até a viatura na tentativa de incendiá-la junto com seus restos mortais.

Os instrutores da Academia de Polícia do Barro Branco não realizariam a instrução de tiro do dia 20 de janeiro de 2004 se soubessem que um disparo acidental ceifaria a vida do soldado PMSP 2ª classe F.G. (23 anos).

Os policiais federais F.L.F (42 anos) e J.G.R não permaneceriam horas à fio dentro de uma viatura descaracteriza durante uma campana se soubessem que quatro criminosos armariam uma emboscada que mataria F.L.F com um tiro no tórax, em 13 de dezembro de 1989, na cidade de Campo Grande/MS.

E com certeza, na manhã do dia 17 de janeiro de 2010, o soldado D.A.W. e o 3º sargento W.A.C. (41 anos), ambos da Polícia Militar do Rio de Janeiro, não estacionariam a viatura na região central da cidade e ficariam dentro dela se tivessem a convicção de que em 30 minutos, três ou quatro criminosos se aproximariam num carro preto, sairiam do veículo e disparariam ininterruptamente contra os dois, provocando ferimentos no primeiro e a morte imediata do segundo.

Não há dúvida de que o treinamento e o trabalho policial seriam mais fáceis e seguros se existisse esta tal vidência. Afinal, bastaria treinar continuamente e à exaustão cada aluno predestinado ao confronto com criminosos ou alocar estes policiais em outras atividades. Mas isso é pura ficção, e a realidade é tão dura quanto o chão no qual tombaram estes heróis.

Por isso, você precisa considerar sua crença, seja ela qual for, e se perguntar se ela encoraja ou não sua capacidade para se defender; se ela impõe a aceitação incondicional de que tudo na vida é obra de um destino inflexível ou se o estimula a aceitar total responsabilidade por sua segurança pessoal.

Por que isto é importante? Porque alguém que acredita que seu destino é controlado por uma força externa tende a relaxar e não ser bem sucedido em uma situação de sobrevivência se comparado a um indivíduo inclinado a confiar em sua própria capacidade para decidir e tomar uma atitude. Aquele que se considera no controle das coisas boas e ruins que experimenta tem mais chance de superar situações difíceis do que aquele que acredita que as coisas ocorrem por acaso. Este último se entrega facilmente às adversidades, pois seu destino não lhe pertence, não importando o que ele faça para estar a salvo.

Logo, cada policial deve assumir total responsabilidade por sua própria segurança fazendo aquilo que lhe cabe. Ou seja, pelo menos não cometendo os mesmos erros que têm levado as vidas de milhares de policiais em todo o mundo.

No centro deste tema estão o estado de alerta e o comportamento preventivo. O comportamento preventivo começa quando você simplesmente acredita que pode ser o alvo algum dia. O estado de alerta ocorre quando você presta atenção nas pessoas e nos acontecimentos à sua volta.

Mas sabendo que não é possível permanecer 100% alerta 100% do tempo, você pode avaliar quais os momentos da sua vida requerem um nível maior de atenção. Sem dúvida, estar dentro de uma viatura num local perigoso exige um nível de alerta maior do que se você estivesse num supermercado. Ficar na viatura é confortável, mas perigoso. Fora dela é ruim, porém mais seguro. Fora da viatura, você vê o que ocorre na redondeza e pode reagir mais rápido do que se estivesse confinado dentro do veículo.

Com isto em mente, pode-se dizer que a morte não tem hora ou data marcada, a menos que você vacile e faça seu próprio agendamento. Deus deseja o seu bem, contudo certas tarefas são da sua responsabilidade. E ficar vivo é uma delas!

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Retrospectiva policial: preparando-se para 2010!

O ano de 2009 está acabando e é vital que cada policial faça uma retrospectiva sobre suas ações durante e fora do trabalho.

É importante considerar quantas vezes você se afastou, inocentemente ou não, dos elementos básicos da autodefesa na atividade policial e nas horas de folga. Quantas vezes você permitiu que desconhecidos se aproximassem sem serem notados com antecedência. Quantas vezes você esqueceu ou deixou sua arma em casa ou dentro do carro. Quantas vezes você não algemou o preso porque ele parecia inofensivo. Quantas vezes você trabalhou sozinho. Quantas vezes você deixou de adquirir um equipamento de qualidade porque achou que era caro ou não era importante. Quantas vezes você agiu por impulso sem antes realizar uma análise da ocorrência. Quantas vezes você foi rude com um colega e outras coisas mais.

Sem esta retrospectiva, talvez você possa voltar ao trabalho em 2010 e, dia após dia, cometer os mesmos erros que cometeu no ano anterior. Você pode negligenciar os componentes críticos da sua estratégia de prevenção contra as ameaças à sua vida. Você pode cometer os mesmos erros que outros cometeram desde que a luta pela justiça e pela paz teve início.

Por isso, talvez a falta da lembrança do passado tenha sido um dos ingredientes que conduziu à morte nossos amigos policiais que trabalharam em 2009 em Osasco/SP, Belém/PA, Feira de Santana/BA, Rio das Ostras/RJ, Belo Horizonte/MG, Ji-Paraná/RO, Rio Branco/AC, Recife/PE, Cariacica/ES, Samambaia/DF, Confresa/MT, Foz do Iguaçu/PR, Manaus/AM, Picos/PI, Murici/AL, Porto Alegre/RS, Anápolis/GO, Areia/PB, etc.

Sua experiência e a prática de vida de outros policiais são uma das melhores ferramentas de aprendizado que você pode utilizar, principalmente numa profissão na qual uma decisão incorreta pode matar alguém, inclusive você. Experiências, boas ou ruins, devem ser revistas com o propósito de encontrar aquilo que fez toda diferença para o sucesso da ação quanto para localizar as falhas que conduziram à infelicidade.

Você não precisa mudar (na essência as pessoas não mudam), mas você é capaz de melhorar. E se tudo que você fizer na atividade policial possuir este espírito, então você corre menos riscos. Se você avalia as situações de perigo ocorridas no passado tanto quanto aquilo que foi feito de certo ou errado e o que precisa ser melhorado, então você tem a confiança e a coragem para enfrentar uma ocorrência perigosa.

Portanto, pergunte a si mesmo o que faria em determinadas situações; conte com um ferimento como preço justo pela sobrevivência; treine; permaneça pronto; cuidado com a rotina; saiba quanto vale sua vida; saiba por que você quer viver; porte sua arma; limpe sua arma; estabeleça sua segurança como primeiro objetivo; trate bem o amigo da força policial e diga que se 2010 for o ano em que sua sorte será lançada, então você fará o que precisa ser feito para vencer.

Pense positivo, revise sua conduta e permaneça em alerta, porque ao longo do tempo seus pensamentos se tornam suas ações. Observe suas ações porque elas se tornam hábitos e experiências, boas ou desagradáveis.


quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Será que funciona?

A posse de uma arma de fogo impõe uma série de responsabilidades, e após uma divertida sessão de tiros, um treinamento ou mesmo o porte num coldre dissimulado vem àquilo que alguns ainda consideram o trabalho duro, a parte chata, o desnecessário.

Mas a limpeza do armamento é o mais básico e importante item para quem tem uma arma. Com o cuidado e uma limpeza regulares, uma arma de fogo pode durar muitos anos. E isto é especialmente importante se você confia sua vida neste instrumento e pretende se aposentar usando a mesma arma que utiliza hoje no trabalho.

Contudo, uma breve inspeção durante a manutenção das pistolas usadas por 50 policiais demonstrou que apenas oito delas estavam limpas. Fios de cabelo, poeira, fiapos de pano, terra, cinzas de cigarro, tecido morto e resíduos de pólvora foram alguns dos itens encontrados nas armas. O curioso é que esta displicência abrangeu desde os policiais antigos e experimentados até os mais novos. Com certeza não é culpa da inexperiência e nem culpa da formação básica recebida. E o pior é que todos estes policiais sabiam que suas armas estavam em péssimas condições de limpeza. Só para constar, das oito armas em boas condições, quatro estavam assim porque seus usuários só as utilizam durante as operações policiais. Então eu não sei o que é pior: deixar uma arma limpa em casa ou uma arma porca no coldre!

Há alguns anos, os policiais reclamavam da qualidade das poucas armas existentes, da falta de munição, da ausência de treinamento, etc. Doze anos atrás, o policial recebia um revólver .38 SPL, conhecido por “canela seca”; os cartuchos eram contados como se fossem pedras preciosas; e quem desejava treinar pagava pela munição recarregada e pelo aluguel do estande. Hoje, cada policial recebe uma arma (cuja qualidade é internacionalmente reconhecida), três carregadores, 400 cartuchos para treinamento anual, além de contar com excelentes instrutores de armamento e tiro formados pela academia de polícia e um programa de treinamento instituído por norma. E o que alguns policiais fazem? Esquecem o passado, deixam as armas sujas e continuam reclamando.

Então será que na hora da verdade sua arma vai funcionar? Será que cada vez que você apertar o gatilho, um projétil será lançado em direção ao alvo ou àquele que quer matar você? Você garante que sua arma, na condição que está agora, é capaz de salvar sua família? Das 50 pistolas analisadas, é possível garantir que quatro funcionariam, pois estavam limpas, alimentadas e no coldre do policial. As outras quatro, apesar de estarem limpas, não funcionariam no momento da necessidade porque seus usuários simplesmente não portam armas. Quanto às demais, não é possível garantir coisa alguma!

Portanto, a primeira coisa que você pode fazer para garantir que sua arma funcione é adquirir um kit para limpeza de armas (que custa cerca de R$ 20). Estes kits estão disponíveis em lojas de acessórios de armas de fogo ou de caça e pesca, e são projetados para tipos específicos de armas (pistolas, fuzis, espingardas). Normalmente cada kit possui três varetas metálicas (com cerdas de latão, nylon e tecido), óleo, solvente e uma flanela. Velhas escovas dentais e pedaços de pano complementam o material. Com este equipamento em mãos, você pode fazer o seguinte:

Passo nº 1 – Certifique-se de que a arma está descarregada.

Passo nº 2 – Desmonte a arma sobre uma mesa plana, limpa e desocupada de modo que possa observar todas as partes e trabalhar com cada item de cada vez. Se você esqueceu como desmontar sua arma, pergunte ao colega instrutor de tiro ou leia o manual de instruções. Após a desmontagem, você terá cinco componentes sobre a mesa (o cano, o ferrolho, o conjunto da mola recuperadora, a armação e o carregador).

Passo nº 3 – Dependendo do nível de sujeira (chumbo e pólvora) grudada no cano, passe um pouco de solvente no interior do mesmo usando um pedaço de tecido. Depois, passe outro pedaço de tecido limpo para retirar o excesso de solvente. Introduza a vareta no cano (a partir da câmara até a boca) e a movimente para frente e para trás no sentido da rotação das raias. Utilize primeiro a vareta de cerdas de latão e depois a de nylon. Continue a passar um tecido limpo até que o cano esteja limpo. Se só houver poeira, dispense o solvente e limpe o interior do cano apenas com a vareta de nylon. Limpe a rampa de alimentação e a câmara até que não haja impurezas. Não lubrifique o interior do cano após a limpeza. Não use escova com cerdas de aço.

Passo nº 4 – Limpe o ferrolho com a escova dental e um pedaço de pano levemente embebido em solvente até remover qualquer depósito de pólvora visível e resistente. Use a flanela para retirar as impressões digitais e qualquer vestígio de óleo/solvente que existir. Lubrifique apenas as partes indicadas no manual de instruções usando uma ligeira camada de óleo.

Passo nº 5 – Use a escova dental e um pedaço de pano levemente embebido em solvente para retirar resíduos de pólvora resistentes encontrados na armação. Na ausência destes resíduos, dispense o solvente e apenas escove a armação para retirar a poeira.

Passo nº 6 – Limpe os carregadores com a escova dental. Se for preciso limpá-los por dentro, desmonte-os observando a posição das peças. Utilize a escova ou a haste de cerda de nylon até remover todos os sinais de sujeira. Remonte os carregadores. Não use óleo ou sprays.
Passo nº 7 – Remonte a arma, evitando o excesso de óleo em qualquer componente. Não use grafite. Não use desengraxantes.

Passo nº 8 – Limpe o kit de limpeza de vez em quando.

Talvez você gaste 15 minutos, e por ser um procedimento tão simples e rápido não há desculpa para não colocá-lo em prática pelo menos uma vez por mês.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Por que evitar o perigo é a melhor estratégia?

“O Policial Civil L. foi encontrado morto em Sobradinho/DF com um tiro no coração. A vítima estava em serviço, sozinho, em uma viatura descaracterizada. Houve tentativa de reação por parte do policial, que estava com a arma na mão. Como ele estava em serviço, existe a hipótese de que tenha recebido um chamado de um informante e sido vítima de uma emboscada. L.C. era um policial antigo, experiente, atleta e fazia um excelente trabalho. Ele era um ótimo policial, investigador e linha de frente.” (Tribuna do Brasil, 09/10/2009).

“O Policial F. foi morto com sete tiros na madrugada desta quinta-feira. Segundo a polícia, ele teria reagido a um assalto, sendo assassinado com sua própria arma.” (Portal ORM, 08/10/2009). “Elas são garotas de programa e atraíram a vítima. Elas entraram em contato com os assaltantes e eles já estavam à espera do carro, mas não sabiam que ele era policial. As meninas são responsáveis por fazer a ‘casinha’ para atrair as vítimas até o canal, onde posteriormente são abordadas pelos assaltantes. Para disfarçar, as garotas fingem que são vítimas.” (Portal Gterra, 09/10/2009).

Logo após saber sobre os terríveis assassinatos desses policiais, o primeiro em Brasília/DF e o outro em Belém/PA, um colega disse transtornado: “Eles só morreram porque eram policiais!” Mas embora esta afirmativa seja verdadeira em muitos casos de homicídios de policiais, é preciso perceber outro elemento importante nas ocorrências.

Esse outro elemento se combina com a escolha profissional para formar a razão principal pela qual policiais acabam envolvidos em ocorrências perigosas e violentas. E então só é preciso uma fração de segundo para que você seja arrastado para uma situação além do seu controle. E o estrago que você vai sofrer como resultado da violência irá durar a vida toda, de um jeito ou de outro.

A violência é uma situação extrema, e as regras convencionais não se aplicam em situações desse tipo. As prioridades do cotidiano e os conceitos de civilidade que você possui não se aplicam. O importante é reconhecer quando você está se comportando de maneira arriscada para que saiba quando seu modo de vida não é suficiente para mantê-lo protegido. Para estar a salvo, você deve estabelecer uma prioridade maior em relação à sua conduta cotidiana: sua segurança.

Assim, ostentação, vaidade, despreocupação, orgulho, preguiça, falta de tempo, EXCESSO DE AUTOCONFIANÇA e BOEMIA parecem muito importantes até que você esteja diante do cano de uma arma.

Mas se você nunca se viu diante dos horrores da violência, as chances estão contra você reconhecer os sinais de perigo. E sem conhecer sinais óbvios, são boas as chances de que você continue agindo na sua forma habitual. Fazendo isso, você aumenta sua possibilidade de ser vitimado pelo crime e pela violência, pois não está efetivamente evitando o perigo.

Para muitas pessoas, inclusive policiais, a ideia do uso da força física é ao mesmo tempo terrível e repulsiva. Sabendo que muitos não desejam ou não querem usar a força física para se proteger, evitar o perigo se afastando de conflitos e de indivíduos perigosos (homens ou mulheres) é a razão principal para você utilizar o mecanismo da PREVENÇÃO. Estado de alerta, hábitos saudáveis, CONVÍVIO COM PESSOAS DISTINTAS EM AMBIENTES SELECIONADOS e TRABALHO EM DUPLA são estratégias muito mais compensadoras que o uso da força física ou letal. Lembre-se: sua primeira linha de defesa é a prevenção; depois a sua arma de fogo.

Para evitar ser vitimado, você deve ter certo grau de flexibilidade mental. Isso significa permitir a você mesmo fazer o que for necessário para vencer um combate, tanto quanto evitar o confronto violento sempre que possível.

Em resumo, toda vez que você sai de uma situação potencialmente violenta sem ser roubado, espancado ou assassinado, e sem usar a força física, já é uma vitória. E não importa como você evitou a situação.

Mas você está em perigo? A resposta é: DEPENDE. Risco é uma questão de graus. Seu risco aumenta ou diminui dependendo de sua atividade e comportamento.

Existem estilos de vida em que a violência é generalizada. Se você vive de certo modo ou ASSOCIADO A CERTOS TIPOS DE PESSOAS (como garotas de programa das periferias e informantes), seu grau de risco aumenta. Por exemplo, se você frequenta boates, botecos, áreas de prostituição, chega bêbado em casa, namora dentro do carro e se encontra sozinho com um informante numa estrada isolada, então sua chance de ser vitimado um dia é grande. Crime, violência e suas infelizes consequências são o resultado natural de modos particulares de pensamento e comportamento. Dessa maneira, não é uma questão de “se acontecer”, mas “quando”.

Enquanto pesquisadores tentam estabelecer razões sociais, fisiológicas e psicológicas para a criminalidade e a violência, está claro que pessoas violentas e delinquentes tendem a serem violentos. E isso é o que basta para você manter distância desses indivíduos!

Comportamento de risco consiste largamente em se envolver com pessoas ou situações perigosas. Essas situações conduzem você a estar próximo de pessoas predispostas a cometerem atos violentos. De um modo ou de outro, elas estão mais inclinadas a se tornarem violentas com as pessoas que conhecem ou que estão envolvidas com elas. Então, quanto menos você se envolve em certos tipos de comportamento, mais você reduz sua chance de ser selecionado como alvo de criminosos.

Se suas ações ou comportamento não o colocam em uma categoria de risco, então simplesmente seu bom senso pode reduzir a possibilidade de você se tornar uma vítima.

Contudo, se você está envolvido em uma conduta de alto risco, como policial sua arma pode até ajudá-lo em alguma coisa, mas não será suficiente para salvar você. Por quê? Porque é mais fácil fazer algo para evitar a violência do que se safar no meio de um confronto armado repentino e a curta distância.

Sua segurança SEMPRE deve estar em primeiro lugar!