sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Acho que perdi minha arma!

Certamente um dos maiores temores que uma pessoa pode ter é ser vítima do crime e da violência. Às vezes, não é a figura do criminoso que assusta tanto, mas a capacidade que alguém egoísta e insensível tem para agir com selvageria mortal apenas por uns trocados.

Mesmo surpreendido por um assaltante, seria de algum modo reconfortante saber que ele não está armado. Com o bandido desarmado, você poderia lutar ou fugir com menor risco. E que tal saber que o criminoso está, de fato, armado? E se for uma arma de fogo? Uma pistola, por exemplo. Mas o que você sentiria se soubesse que o assaltante empunha uma das melhores pistolas do mundo? Como seria se esta arma estivesse completamente carregada com munição expansiva do tipo +P+? E se o calibre desta arma fosse 9 mm ou .40, ou seja, apenas para uso militar ou policial?

Não há dúvida que em qualquer operação policial, a preocupação com um possível tiroteio é sempre uma constante. E esse nível de apreensão aumenta na medida em que os calibres e as armas usadas por criminosos ficam maiores. Confrontar alguém que empunha uma pistola .380 ou uma carabina .22 é completamente diferente de se defender daquele que atira com uma pistola 9 mm ou um fuzil 5,56. Todas são letais, concordo, mas umas são mais destrutivas e eficazes que outras. Se policiais já ficam apreensivos durante as operações (quando atuam em grupo e tomam a iniciativa da ação), o que dizer quando estão sozinhos e são pegos de surpresa. E quem não é policial?!

Agora, imagine uma destas armas mais poderosas apontadas para você, para um familiar ou para alguém indefeso. Que tal se esta arma possuísse o Brasão de Armas do Brasil (Brasão da República) ou a sigla de uma organização policial estampada em sua estrutura. Que beleza, hein! Armas adquiridas com os impostos dos cidadãos sendo usadas para ameaçar, roubar e matar cidadãos. Uma arma comprada e importada com sacrifício após um difícil trabalho de convencimento de autoridades sobre a importância e necessidade de aquisição de determinada arma de fogo, agora podendo ser utilizada em atentados criminosos.

Provavelmente, você deve estar imaginando que são os policiais que estão usando suas armas de fogo institucionais para a prática de crimes. Mas é pior que isso! São os próprios criminosos que estão utilizando essas armas. A história aqui não tem nenhuma relação com corrupção policial, mas com o desleixo e a falta de sintonia entre o comportamento pessoal do policial durante suas horas de folga com aquilo que ele representa na comunidade.

Mas como estas armas vão parar nas mãos de criminosos? No artigo “Por que evitar o perigo é a melhor estratégia?”, eu disse: “Existem estilos de vida em que a violência é generalizada. Se você vive de certo modo ou associado a certos tipos de pessoas (como garotas de programa das periferias e informantes), seu grau de risco aumenta. Por exemplo, se você frequenta boates, botecos, áreas de prostituição, chega bêbado em casa, namora dentro do carro e se encontra sozinho com um informante numa estrada isolada, então sua chance de ser vitimado um dia é grande. Crime, violência e suas infelizes consequências são o resultado natural de modos particulares de pensamento e comportamento.” Então, segue outro trecho: “Comportamento de risco consiste largamente em se envolver com pessoas ou situações perigosas. Essas situações conduzem você a estar próximo de pessoas predispostas a cometerem atos violentos. De um modo ou de outro, elas estão mais inclinadas a se tornarem violentas com as pessoas que conhecem ou que estão envolvidas com elas. Então, quanto menos você se envolve em certos tipos de comportamento, mais você reduz sua chance de ser selecionado como alvo de criminosos.”

Agora, para ficar mais claro, vou substituir os textos citados por exemplos práticos, e assim, você vai entender como essas armas institucionais e suas munições poderosas vão parar nas mãos dos criminosos.

Caso nº 1 – Um policial bebe num boteco (muito conhecido como “boteco copo sujo”) acompanhado por três garotas de programa. Elas indicam um local na periferia onde podem fazer o programa na rua mesmo. O policial as leva em seu carro até o lugar apontado. Lá, o policial é abordado por vários criminosos, que avisados pelas garotas, já aguardavam a chegada da vítima. O policial tenta reagir, mas é desarmado por um dos assaltantes e morre após receber 7 tiros disparados da própria arma. O criminoso leva a pistola institucional da vítima.

Caso nº 2 – Um policial, realizando pós-graduação, para o carro particular no estacionamento da universidade. Ele deixa a pistola institucional dentro do porta-luvas do veículo porque o porte na cintura o incomoda. Ele segue para a sala de aula e quando retorna, percebe que o carro foi arrombado e a arma furtada. Dias depois, um homem é preso pela polícia após assassinar um desafeto. A arma do crime era a que pertencia ao policial.

Caso nº 3 – Um policial se estabelece numa nova cidade, e lá inicia um relacionamento com um novo namorado. Após algumas semanas, o policial convida o namorado para passar a noite em seu apartamento. O namorado leva alguns amigos e, juntos, tentam roubar a vítima. O policial reage, mas não consegue resistir à força bruta do bando. Ele é levado para um matagal, onde é torturado e assassinado com a própria arma. A pistola institucional do policial desaparece.

Caso nº 4 – Após um programa no motel, um policial para o carro num ponto de travestis para deixar a pessoa. O policial não concorda com o valor cobrado pelo travesti e os dois discutem dentro do veículo. Outro travesti percebe a confusão, entra no carro para ajudar a colega e pega a arma do policial que está no porta-revista do banco do passageiro. De posse da arma, os travestis controlam a situação e deixam o local. A arma institucional é vendida para pagar o programa.

Caso nº 5 – Um policial está numa boate de striptease quando conhece uma mulher que o convida para uma noite maravilhosa. Já no motel, o policial bebe um drink preparado pela mulher. O policial desmaia, e quando acorda, percebe que caiu num dos mais antigos golpes do planeta Terra, o golpe “Boa noite, Cinderela!”. Todos os seus pertences são levados, inclusive sua arma de fogo, a institucional.

Caso nº 6 – Um policial dá uma “carteirada” e entra numa casa de shows musicais. Lá, ele bebe até não aguentar mais. Bêbado, o policial deixa o local e segue em direção ao carro, mas não consegue abrir a porta. Então, ele desmaia e cai no chão do estacionamento, deixando sua arma aparente. Ao chegar à residência, o policial percebe que sua arma (institucional) sumiu.

Caso nº 7 – Um policial guarda sua arma dentro de uma pochete, e coloca a bolsa dentro de um armário. Um ladrão, furtivamente, entra na delegacia e furta o colete de um policial, a carteira pessoal de outro e a arma que estava na pochete dentro do armário. Esse é profissional! Dias depois, o ladrão utiliza o colete e a arma para assaltar um empresário após sua saída de uma agência bancária.

Caso nº 8 – Um policial deixa a pistola institucional displicentemente sobre um armário em sua casa. Seu enteado pega a arma e a vende para traficantes locais. O policial consegue uma viagem a serviço e deixa o problema para os colegas resolverem. A arma não é encontrada.

Caso nº 9 – Um policial coloca sua pistola dentro da bolsa, e a bolsa no assoalho do veículo. Ele vai buscar a esposa no apartamento de uma amiga. Quando chega ao local, ele estaciona o carro e desce para tocar o interfone. Neste instante, ele é rendido por um assaltante que leva o carro e, obviamente, a pistola institucional dentro da bolsa. O ladrão abandona o carro, mas usa a arma num assalto a banco dias depois. A quadrilha é presa e a arma recuperada.

Caso nº 10 – Semelhante ao caso nº 9, mas ao invés de um ladrão, são dois delinquentes. O carro é abandonado, mas a pistola institucional não é localizada.

Finalmente, um policial que retorna de férias, para o carro na BR em virtude de um pequeno engarrafamento a sua frente. No sentido contrário, um motorista perde o controle do veículo e bate violentamente de frente com o carro do policial. Após o choque, o policial, atordoado e com muitas dores no corpo, percebe que sua arma institucional não está com ele. Ele deixa o carro, e ainda aturdido e com dores, sai em busca da arma. Ele a localiza em meio à vegetação cerca de dez metros de onde seu veículo parou após a colisão. O papiloscopista, armado novamente, recebe apoio médico e é conduzido ao hospital mais próximo. A pistola institucional está com ele até hoje.

Se você possui uma arma, você é o responsável. Você não só é responsável pela arma, como também pelo comportamento que apresenta quando está trabalhando e, principalmente, quando está de folga. Na verdade, aos olhos do cidadão isso não faz a menor diferença, e toda vez que o policial se comporta inadequadamente é a instituição que fica maculada. Em relação à bebida alcoólica, diz o lema: Se beber, não dirija. Se dirigir, não beba. Então, o mesmo vale para o policial: Se estiver armado, não faça besteira. Se pretende fazer, deixe a arma e a carteira em casa. E jamais diga que é policial!

Lembre-se que uma arma negligenciada pode fazer falta para um policial consciente que realmente acredita que precisa se defender.

Portanto, a vida do cidadão não pode ser colocada em risco porque o bandido está usando a arma de alguém desastrado.