quarta-feira, 29 de abril de 2015

Pérola do dia!

Hoje foi um dia singular! Singular por uma única razão: pude testemunhar um comentário dos mais absurdos. O comentário foi tão impactante que meu coração parou de bater e minha alma saiu do corpo por alguns instantes! Vi um túnel iluminado e senti uma força que me atraia para outra dimensão!

Com esforço, me recuperei do estado de coma momentâneo e decidi compartilhar essa experiência do 3º grau, mesmo contrariando minha decisão de não escrever este mês.

Talvez eu estivesse no lugar errado e na hora errada, mas é melhor ouvir certas coisas do que ser surdo. Ou é melhor ser surdo?!

Então lá vai! Um policial compareceu numa delegacia para prestar informações sobre o furto de sua arma institucional. A casa onde ele reside já havia sido arrombada e teve objetos furtados em  DUAS OCASIÕES. Na TERCEIRA VEZ, os ladrões levaram a arma do policial. Você deve estar pensando que isso é uma piada! Mas a melhor parte ficou para o final, quando o policial disse o seguinte: "Eh! Agora eu vou ter que andar com a arma!" Kkkkkkkkkk! Não, anta! É a arma que vai portar você! Mas de que adiantaria isso! Se a arma fosse um ser vivo e tivesse que portar esse tipo de policial num coldre, ela estaria despreparada de qualquer maneira.

Antigamente, eu acreditava que o policial tinha a obrigação de estar armado em todas as ocasiões. Entretanto, com o passar do tempo, conclui que o porte de arma é uma escolha que o policial deve fazer ao analisar as circunstâncias. Particularmente, prefiro estar armado sempre, pois é melhor ter uma arma e não precisar usá-la do que precisar e não ter uma.

Mas um policial, que reside numa casa que já foi alvo de bandidos em duas ocasiões, deveria se precaver para que nova ocorrência não tivesse efeito. E a primeira medida poderia ser não acautelar uma arma institucional. Só essa medida já preservaria a vida dos cidadãos (pois não haveria uma pistola de calibre restrito nas mãos de criminosos) e o patrimônio da instituição. Ele poderia ter um cofre oculto na residência para deixar a arma durante sua ausência. Ou, pasmem, poderia colocar a $@#*§& da arma na cintura ou na reserva de armamento da unidade policial onde trabalha. Se ele não queria portar uma arma pesada e corpulenta, poderia deixá-la no posto de trabalho e ter uma arma menor e mais leve para usar nos períodos de folga.

Eu sei que coisas ruins acontecem e que ninguém está imune aos problemas de insegurança, nem mesmo os bons policiais.

Também aprendi que certas coisas só acontecem com certas pessoas. Dizem, ainda, que um raio nunca cai duas vezes no mesmo lugar. E se cair três vezes? Provavelmente, se alguém tem um potencial para atrair problemas, isso se deve mais ao comportamento incrédulo, negligente e imprudente da pessoa do que uma questão de azar. Um amigo e professor de armamento e tiro costuma mencionar o termo "presepeiro" para aqueles policiais que falam demais, mas na hora da missão tem um surto de diarreia. A diarreia pode até salvar uma vida, mas a incredulidade, a negligência, a imprudência e a passividade não seguem a mesma dinâmica.

Acreditar que o porte de uma arma é um fardo, quando é uma bênção, pode forçar o policial a permanecer despreparado a maior parte do tempo, inclusive durante o trabalho (reforçando uma mentalidade de presa). Quando um policial, deliberadamente, porta sua arma, isso o faz lembrar dos perigos da profissão e da necessidade de manter um comportamento de predador/caçador.

Outra coisa que tenho percebido é que parece existir dois grupos de profissionais. O primeiro aprende algo uma única vez e carrega o ensinamento para o resto da vida. Ele aprende, se atualiza e melhora. Já o segundo tipo, ou não quer aprender ou aprende e esquece logo em seguida, intencionalmente ou não.

Numa operação policial, a mãe do bandido questionou se havia a necessidade dos policiais estarem todos armados. Aí um policial respondeu: "O que a senhora queria!? Um buquê de flores!? Deu gosto ouvir isso!

Portanto, responda com honestidade: você prefere trabalhar com que tipo de policial? E os seus colegas? Eles preferem trabalhar com você?


quarta-feira, 1 de abril de 2015

Precisamos pensar grande!

No mês passado recebi um e-mail com um texto anexo intitulado "Treinamento Realístico. Da sala de aula para as ruas." A ideia difundida no texto era consistente e coerente com as necessidades de treinamento, não só das polícias brasileiras, mas de todas as organizações policiais do mundo. E apesar de interessante, o conceito desandou em alguns pontos.

O texto tratou do objetivo educacional de qualquer treinamento, ou seja, seu resultado final em razão do conhecimento adquirido. E considerou a CAPACIDADE DE APLICAÇÃO do conhecimento como o fator mais importante. Desse modo, o texto informou:

"Na atividade policial, a aplicação deve ser a principal preocupação do instrutor. O conteúdo técnico puro tem pouco valor na maioria das situações críticas vividas constantemente pelo policial nas ruas. Isto porque o policial é exigido a empregar o seu conhecimento em condições desfavoráveis, sob stress, em tempo comprimido. Esta capacidade de julgamento, de decidir em situações críticas (quando se está com uma arma em punho, e vidas estão em jogo, toda situação é crítica), tem demonstrado ser mais importante até do que o conhecimento de técnicas e a disponibilidade de meios."

O autor tem razão quando informa que a aplicação do aprendizado deve ser o fator de maior importância. Essa preocupação não se limita apenas ao instrutor, mas abrange também o policial, já que o conhecimento que não possui aplicação no mundo real é pura perda de tempo, energia e vida! Coisas mirabolantes no ensino policial são como os programas de fofocas sobre "celebridades": não servem para nada! O problema, e eu sei que o autor não disse isso, é que priorizar apenas a capacidade de julgamento (em detrimento das técnicas e dos meios) pode permitir uma pequena, porém nefasta ideia na mente dos administradores para que deixem os policiais assumirem todo o risco da profissão sem o conhecimento das técnicas e sem o custo para a aquisição dos meios. Além disso, os superiores hierárquicos podem utilizar tal ideia para se eximirem da responsabilidade e das consequências do comando, permitindo que permaneçam numa zona de conforto enquanto o trabalho policial sai a qualquer preço, ainda que esse preço seja pago por quem está na linha de frente (carente das técnicas e dos meios, uma obrigação das instituições).

Se a diferença entre ganhar ou perder, viver ou morrer for uma questão de milímetros ou segundos, que essa vantagem esteja sempre do lado do policial. Nesse sentido, não se pode escalonar, em termo de importância, algo tão fundamental para a salvaguarda policial. Se a capacidade de julgamento é extremamente relevante, então é preciso treinar essa habilidade com as MELHORES TÉCNICAS e com os MELHORES INSTRUMENTOS que existem.

Se a técnica é coerente e o meio é o melhor, então a decisão do policial e sua ação tendem a ser as melhores possíveis. O que quero dizer, é que deve haver um equilíbrio entre os três fatores. Caso contrário, as responsabilidades pela conduta policial sempre recairão sobre o elemento mais vulnerável: o policial numa situação de perigo. Havendo um equilíbrio entre a capacidade de decisão, as técnicas e os meios, isso implica na divisão de responsabilidades entre todos: policiais, instrutores e administradores. Se um desses três elementos for fraco, então a possibilidade de um erro policial é maior. Por exemplo, um policial bem treinado, experiente e ponderado pode produzir um desastre simplesmente porque foi obrigado a utilizar um instrumento de baixa qualidade. Na história recente das polícias brasileiras existem relatos de suspeitos e policiais atingidos por disparos acidentais produzidos por suas próprias armas. Muitas dessas instituições já recolheram seu arsenal para perícia e manutenção com o propósito de evitar mortes desnecessárias. E isso é mais comum do que se pensa, pois milhares de policiais são obrigados a portarem armas de fogo que não passam no mais simples teste de qualidade internacional.

A indisponibilidade do meio também coloca em risco o policial e o público. Algumas vezes, o policial é forçado a escalar o nível de força e utilizar a arma de fogo porque não possui um instrumento menos letal, como um Taser®! Se o policial que atirou e matou um vendedor ambulante durante uma prisão em São Paulo possuísse um Taser®, certamente todos os envolvidos naquela ocorrência estariam bem. Só não confunda Dispositivo Eletrônico de Controle com o original Taser®!

Por outro lado, nem a melhor técnica e o melhor instrumento podem salvar o policial quando ele comete um erro básico e insere o dedo no gatilho durante o saque da arma. Infelizmente, alguns profissionais têm morrido porque se esqueceram dessa elementar regra de segurança.

Mas o artigo trata do estresse na atividade policial e sobre isso ele diz o seguinte:

"O stress é o maior inimigo do policial. Quando falamos em stress, referimo-nos ao nervosismo, a tensão, a descarga de adrenalina que ocorre no corpo humano diante de uma situação de perigo."

O autor está certo quando diz que o maior inimigo do policial é o estresse. Quando um policial vivencia uma situação crítica seu maior medo não é o que o criminoso vai fazer, mas o que o policial será capaz de fazer para se salvar. As academias de polícia dedicam tempo e esforço para a formação do policial, e para isso ensinam procedimentos de abordagem, busca pessoal, uso de algemas, defesa pessoal, segurança de autoridades, direção operacional, etc. Compõem ainda, o ensino de técnicas para o manuseio de armas de fogo, incluindo o conhecimento sobre os mecanismos de funcionamento, a desmontagem e a montagem dessas armas. Finalmente, esse aluno é levado a um estande de tiro onde é treinado e testado na prática. No final, conclui-se que esse policial esteja em plena condição para enfrentar o crime e a violência protegendo a vida e os interesses do cidadão, bem como a sua própria vida, com base apenas na avaliação da pontaria.

Entretanto, pesquisas e estatísticas (internacionais, é claro!) mostram exatamente o oposto disso, ou seja, que grande parte dos policiais falha quando confrontada por alguém que representa uma ameaça real e mortal. Por quê? Por que os treinamentos não estão de acordo com as alterações psicológicas, emocionais e corporais de um policial durante um confronto armado real. Durante todo o período de formação ou treinamento policial os elementos PERCEPÇÃO DA AMEAÇA, MEDO E ESTRESSE COM SUAS CONSEQUÊNCIAS – não estão incluídos. E são exatamente esses elementos que irão interferir nas habilidades de sobrevivência do policial.

Quando o cérebro, automaticamente, percebe e interpreta alguma situação como ameaçadora, todo o organismo passa a desenvolver uma série de alterações (fisiológicas, psicológicas, emocionais e comportamentais) denominadas de SÍNDROME GERAL DE ADAPTAÇÃO ao estresse ou REAÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA. Por isso, o estresse é mais do que um simples estado de tensão, principalmente quando se fala em reação e comportamento policial durante ocorrências com risco de morte.

Apesar de existirem outras variáveis que podem desencadear a reação de sobrevivência, existem alguns elementos fundamentais que possuem um impacto imediato no seu grau de ativação. São eles:
  • a surpresa do ataque;
  • o nível de maldade do agressor;
  • a intenção humana por trás da ameaça;
  • o nível de ameaça percebida (indo do risco de ferimento até a possibilidade de morte);
  • o tempo disponível para reagir;
  • o nível de confiança no treinamento e nas habilidades pessoais;
  • o nível de experiência no trato com ameaças específicas;
  • a responsabilidade pela própria proteção e
  • o grau de esforço físico combinado com a ansiedade.

Desse modo, o estresse é uma reação EMOCIONAL e variável conforme a percepção e o valor que o policial dá ao evento que vivencia. E um dos efeitos dessa reação emocional é o aumento da frequência cardíaca, devido à presença abundante da adrenalina na corrente sanguínea.

Já se sabe que durante um confronto, a frequência cardíaca de um policial pode ir de um extremo ao outro em poucos segundos. Mas qual seria a faixa para o melhor desempenho no combate, em se tratando de uma reação de sobrevivência e a frequência cardíaca? Estudos determinaram que essa faixa compreendia o intervalo entre 115 a 145 BPM. Em outras palavras, esse intervalo seria aquele no qual a capacidade para lutar estaria maximizada, melhorando o desempenho policial.

O problema com essa concepção é que para atletas, como os corredores, que podem ter altas frequências cardíacas, a reação de sobrevivência não tem início ou efeito. Isso porque a frequência do coração de um corredor é obtida pelo ESFORÇO FÍSICO, e não pelo medo de uma ameaça atual e inesperada à vida. E é aqui que muitos instrutores, academias, técnicas, policiais, exercícios, ideias e textos perdem o rumo. Instrutores que sujeitam seus alunos a esforços físicos intensos não conseguem observar qualquer semelhança com o estresse emocional e a consequente deterioração das habilidades físicas, emocionais e comportamentais dos policiais. Deve-se perceber que o aumento da frequência cardíaca é somente indicador do nível de estresse e não uma força capaz de deteriorar o desempenho. Particularmente, sou contra esses treinamentos mirabolantes, por pura ineficácia e improdutividade do procedimento.

"A doutrina do Stress Fire não se aplica apenas ao treinamento de tiro policial. Em mais de seis anos como instrutor de técnica policial, digamos assim, avançada, pude constatar que o aproveitamento de um treinamento prático, com simulações de situações reais, supera enormemente o aprendizado teórico."

"Portanto, para unir o conteúdo à realidade, o treinamento deve incorporar o que vários policiais aprenderam da maneira mais difícil; deve, também, ser constantemente revisto, atualizado e adaptado às situações que têm ocorrido nas ruas."

O conceito acima é inquestionável. É o sonho de todo instrutor: aliar teoria e prática num contexto que se aproxime ao máximo da realidade vivenciada pelos colegas. Portanto, vamos adiante!

"Técnicas que parecem simples e eficientes em um ambiente artificial de treinamento podem ser praticamente impossíveis de executar num encontro em que o policial experimenta altos níveis de stress."

Ops! Estudos demonstram que diante do perigo atual, o cérebro do atirador determina uma REAÇÃO SIMPLES, RÁPIDA e NATURAL para situações onde a rapidez da reação é fator prioritário para a sobrevivência, tendo em vista a proximidade do agressor e o tempo para reagir. Em muitas situações o instinto é dominante sobre o raciocínio porque é menos dispendioso, mais eficaz e de acordo com a opção padrão para a sobrevivência. Isso é especialmente verdade em situações repentinas de alto estresse que requerem um desempenho instantâneo. Além disso, é baseado na experiência adquirida e não na avaliação consciente do evento crítico; é intuitivo e não lógico; está orientado para a ação imediata, ao contrário da ação retardada pela pensamento consciente. Por isso a SIMPLICIDADE É A OPÇÃO PADRÃO, por natureza, PARA SITUAÇÕES COM RISCO DE MORTE. Como dizem os americanos: "Kiss. Keep it simple, stupid!" Quer dizer, faça simples, idiota!

"Nos cursos de Operações Especiais e outros que tivemos a oportunidade de coordenar, procuramos empregar esses princípios, a fim de proporcionar ao policial a chance de desenvolver não só a habilidade técnica, como também a capacidade de julgamento em condições de tensão. Os artifícios utilizados para simular situações de stress são vários: privação do sono, redução da alimentação, compressão de tempo em todas as atividades, exaustão física e outros. Quando se vê uma turma de policiais comendo em dois minutos, correndo pra lá e pra cá e passando noites em claro, é preciso ver o que há por trás das aparências: estas atividades são apenas mecanismos para simular o stress de uma ocorrência policial."

Parece existir alguma coisa que acontece com o policial quando se muda da prática em estande de tiro para uma reação em um cenário realista.

O treinamento tradicional com armas de fogo não permite a interação humana contra um alvo de papel, a não ser pela avaliação da pontaria. Esses alvos não provocam medo, pois o policial não percebe neles uma ameaça. Sem essa percepção, o corpo humano deixa de criar o medo. Sem o risco de ferimento ou morte, a reação de sobrevivência não ocorre, e o policial desempenha suas atividades naturalmente contando com todas as suas habilidades motoras, visuais, auditivas e cognitivas trabalhando em perfeita sintonia e à sua disposição sempre que desejar.

No entanto, quando esse policial se vê diante de uma situação ameaçadora, real e inesperada, e onde o tempo de reação é mínimo, seu corpo é colocado em alerta para engajá-lo na ameaça e prepará-lo para sobreviver. Essa reação pode diminuir a capacidade do policial em ouvir (exclusão auditiva), ver (visão em túnel), pensar (processamento cognitivo) e responder fisicamente (perda do controle motor fino e complexo).

Então, qual a solução? O artigo responde essa pergunta: "...desenvolver não só a habilidade técnica, como também a capacidade de julgamento em condições de tensão."

Mas como? Por meio do TREINAMENTO DINÂMICO SIMULANDO SITUAÇÕES REAIS, inclusive aquelas vivenciadas por outros colegas, encorajando os policiais a confrontarem seus medos, a utilizarem suas habilidades sob estresse, aumentando a confiança e a capacidade para tomarem decisões apropriadas em relação ao uso da força letal. O treinamento dinâmico simulando situações reais é recomendado para os treinamentos de sobrevivência policial. Esse treinamento permite a introdução do estresse no cenário para torná-lo o mais realista quanto possível em comparação com as condições reais que os policiais encontram nos confrontos armados que enfrentam. O benefício desse tipo de treinamento é a preparação do policial para agir adequadamente durante os confrontos violentos usando o nível apropriado de força. Além disso, o treinamento realístico com uso da tecnologia SIMUNITION ou AIRSOFT permite que policial treine com as mesmas ferramentas que ele carrega durante o serviço.

Um bom treinamento dinâmico simulando situações reais faz os policiais usarem a percepção de ameaça, suas habilidades verbais e a capacidade para escalar e desescalar uma situação crítica. Esse treinamento também pode ensinar o que alguns instrutores têm dito há anos: não desistir nunca e continuar lutando, mesmo que ferido. Durante esse tipo de atividade é possível aplicar as técnicas de gerenciamento do medo para evitar a hipervigilância, fornecendo ao policial participante o preparo mental adequado para enfrentar possíveis situações críticas futuras.

Um bom treinamento dinâmico permite que o policial tome decisões com base no que está acontecendo. O policial pode justificar o uso da força letal contra o outro participante? Ele pode atirar em outro ser humano que está representando uma ameaça letal? Ele consegue se comunicar? Consegue trabalhar em equipe? Ele faz o que é simples? O policial pode determinar quem é uma ameaça e quem não é? Em situações com múltiplos oponentes, ele pode efetivamente lidar com a ocorrência e estabelecer sua autoridade? Ele pode atingir com precisão um alvo humano real que está se movendo e reagindo? O policial consegue tomar a melhor decisão experimentando os efeitos do medo e do estresse?

Contudo, o que muitos ainda não perceberam é que o treinamento realístico (role play scenario) não possui qualquer relação com esforço físico extremo, privação do sono, compressão do tempo, redução da alimentação, exposição ao sol, à chuva, ao frio, comer lavagem, etc. E isso também não tem nenhuma relação com o estresse real. Essa metodologia só se aplica se possuir RELAÇÃO COM A ATIVIDADE ESPECÍFICA necessária para o trabalho. Por exemplo, membros do GRUMEC precisam ser expostos ao frio e passar a maior parte do tempo molhados, pois a atividade específica exige a permanência em ambientes frios e molhados.

Concluindo, altas frequências cardíacas não provocam tensão emocional. Por isso, para atletas, que podem ter altas frequências cardíacas, o estresse não tem efeito. Isso porque a frequência do coração é obtida pelo esforço físico, e não pela ansiedade. Isso explica porque não se observa a deterioração das habilidades motoras e do raciocínio nos alunos submetidos somente a um esforço físico intenso. Obviamente, intensificar ainda mais o esforço físico não é a resposta, pois a exaustão dificulta a concentração e o aprendizado.

Por isso, precisamos pensar grande para fazer grande!

Lembrete: o treinamento realístico não se aplica aos cursos de formação policial no Brasil por causa do formato das turmas nas academias. Esse tipo de treinamento exige tempo, recurso e turmas reduzidas. Cursos policiais com 500, 800 ou 1000 alunos, simplesmente, inviabilizam a participação de todos e a melhoria na formação desses profissionais.