quarta-feira, 29 de julho de 2015

Pega a Taser!

“Pega a Taser!” Essa foi a ordem dada pelo comandante de uma guarnição policial durante uma abordagem na cidade satélite do Paranoá/DF ocorrida em março de 2013.

A participação do Dispositivo Eletrônico de Controle (DEC), nome politicamente correto do Taser, foi de aproximadamente 1min34. Calma, ativistas dos direitos humanos! O policial não empregou o equipamento durante 1min34. Na verdade, esse foi o tempo que o policial gastou para retirar o DEC de dentro da viatura, colocar a maleta no capô, abrir a maleta de transporte, selecionar o cartucho apropriado, tentar o encaixe do cartucho (ops!), verificar que o encaixe estava incorreto, corrigir o erro, avaliar a situação, guardar o DEC na maleta e colocá-lo dentro da viatura novamente.

Se o policial estivesse preparando o dispositivo para ser utilizado em um treinamento seria aceitável que ele estivesse acondicionado na maleta de transporte, etc. O problema é que o equipamento era carga de uma das unidades mais ativas e operacionais da polícia. E a experiência desses policiais deveria ser suficiente para compreender quão rápida uma abordagem de rotina pode se transformar numa situação com uso da força ou da força letal.

Há alguns anos, uma equipe policial estacionou a viatura descaracterizada numa rua tranquila de Contagem/MG. Os dois policiais decidiram permanecer dentro da viatura durante a vigilância (campana). Eles só não imaginaram que um morador iria desconfiar daquela presença “estranha”. Eles também não acreditaram quando esse morador tirou o carro da garagem, fechou a viatura e desceu empunhando um revólver. A policial que estava no banco do passageiro disse para o colega: “Fulano, eu não estou armada hoje!”

O que se ouviu em seguida foram os disparos efetuados pelo morador e que atingiram a viatura e o policial. Apesar de gravemente ferido, o policial revidou, porém sem eficácia. O tiroteio só acabou porque o morador usou um revólver e logo ficou sem munição. Talvez isso tenha salvado os policiais. Mas foi a incredulidade e o despreparo que quase os matou.

Algumas pessoas dizem que a policial estava armada! Isso se for considerado que uma pistola vazia dentro da bolsa, um carregador fora da pistola e a munição fora do carregador é estar armada!

Fala-se sobre o uso diferenciado da força com a convicção que o uso da força letal pode ser necessário num piscar de olhos. E uma arma de fogo PRONTA ainda é a melhor ferramenta para enfrentar uma situação de vida ou morte. Caso contrário, o policial estará “passeando” pelos níveis de força enquanto seu algoz estará empregando a força letal com toda a violência e ódio possíveis. E muitos policiais já perderam esses confrontos simplesmente porque não estavam prontos. Quer dizer, fizeram tudo o que as academias de polícia NÃO ENSINAM.

Na abordagem no Paranoá/DF, assim que o veículo suspeito parou, o motorista desceu extremamente exaltado. Quase no mesmo instante, todos os policiais desembarcaram da viatura e se aproximaram do carro parado. No entanto, o motorista desobedeceu a ordem para colocar as mãos na cabeça. Subitamente, ele ficou de costas para um dos policiais e abriu a porta do carro. O que ele iria fazer? Pegar uma arma? Mais uma vez a precipitação e a incredulidade fazendo parte do trabalho policial.

A circunstância da ocorrência e o comportamento agressivo do motorista já sugeriam cautela extrema. A precipitação fez com que os policiais descessem da viatura e fossem em direção ao veículo abordado assim que ele parou. Quando fizeram isso, todos perderam a chance de utilizar a viatura como uma barricada. Exceto o policial que estava mais próximo do suspeito, os demais se posicionaram de tal forma que uma linha de tiro não era possível. Além disso, nenhum deles podia ENXERGAR as mãos do suspeito e o que ele fazia. Já o comandante da guarnição se aproximou do veículo de modo complacente, e apesar de portar uma arma longa, ele não assumiu uma postura ofensiva, vigorosa e apropriada para quem porta esse tipo de arma. Aqui, novamente, a palavra PRONTO deixou de existir. A pistola estava no coldre e a arma longa era empunhada APENAS com a mão forte e com o cano voltado para baixo. Na sequência, outros policiais chegaram e auxiliaram no desfecho da ocorrência.

Mas...e o DEC? Provavelmente, bem acondicionado em sua maleta e guardado debaixo do banco da viatura. Agora, tente adivinhar o vai acontecer quando essa equipe necessitar do dispositivo. ROTINA e COMPLACÊNCIA, inimigos invisíveis dos policiais.

O Taser deve estar no COLDRE (que acompanha o dispositivo) e pronto. Arma longa se empunha com as duas mãos. Viatura pode e deve ser usada como barricada. Munição fica dentro do carregador. O carregador fica dentro da arma. E a arma fica no coldre, na cintura e pronta. Abordagem com suspeita de sequestro relâmpago se faz com energia, mas sem precipitação.

Finalmente, quem comanda é o comandante. Quem dá as ordens é a polícia. E quem obedece é o abordado!

7 comentários:

  1. Esse texto mostra o qual desprotegido esta a população, com policiais extremamente despreparados. No caso narrado ainda sim se conseguiu contornar a situação, e quando o policial não precisa usar força letal e chega achando que está no dia D na Normandia. Parabéns pelo texto.

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  2. Mais uma vez um texto muito interessante e com bastante coerência, parabéns professor e obrigado pelos ensinamentos!

    Att.
    Thiago C.

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  3. Se me permite complementar o final (estando ostensivo ou dissimulado):

    pistola num coldre de polímero, preferencialmente, um Fobus. Nada de coldre interno de neoprene! Arma destravada, caso ela tiver alguma. Munição na câmara e em ação dupla. Na minha opinião, arma pronta e segura. Com porta carregador duplo no outro lado. E, claro, muito bem condicionado para o saque rápido com os tipos diferentes de vestuários usados e muito atento ao que acontece ao redor.

    Excelente texto, professor!

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  4. Humberto Wendling, ótimo texto, leio todos do seu blog e vou colocar em prática todo o aprendizado assim q estiver atuando!!

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  5. Olá Humberto aguardei ansioso por mais um de seus, valiosos conselhos. Eu assisti o video no you tube do caso que enhor se refere, descrito de óptica muito profissional. Esse tipo de complacência como foi dito é bastante corriqueira, creio eu por não haver uma padronização das abordagens e por medo de se tomar uma atitude mais enérgica, pois nem sempre a coorporação apoiaria as medidas tomadas sob a própria luz dos manuais que que exigem que os policiais seguem.

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