sexta-feira, 1 de julho de 2011

Treinando para a hora da verdade! (Parte 1)

Todo atirador ou policial acerta quando afirma que cada tiro deve ser rápido e preciso. Na verdade, toda simulação “em seco” ou treinamento prático com armas de fogo tem relação com a precisão e a rapidez dos disparos. No IPSC ou Tiro Prático, se o atirador for rápido demais a ponto de errar alguns tiros, ele perde. Se ele for preciso e muito lento, ele perde. Então, o fundamental é o equilíbrio entre a precisão e a velocidade da ação. É como diz um colega: “Primeiro você deve ser preciso, já que a velocidade é adquirida com o treino!”

Mas e quando o policial não está mais num estande de tiro, e sim numa padaria, num posto de combustível ou numa casa lotérica? E quando o policial não está usando o coldre ostensivo? E quando ele está sozinho confrontando dois suspeitos? Pensando sobre isso, acredito que o princípio do equilíbrio continua válido. E se a velocidade vem com a prática, então é preciso treinar. Contudo, existem modos de portar uma arma que são mais acessíveis e rápidos que outros, assim como existem treinamentos que podem ser realizados todos os dias.

Policiais se orgulham de sua capacidade de estabelecer perfis e determinar se alguém é suspeito e se ele está armado. Às vezes, a pessoa observada é um suspeito de fato, e por vezes, é um policial de folga. No entanto, quantas vezes eles pensam na possibilidade de serem identificados como policiais com base no modo como se vestem, se comportam e portam suas armas quando estão de "folga"?

Quando se fala em porte de arma fora do serviço, o que, como e onde o policial porta sua arma é uma questão de estilo de vida, ou seja, cada um faz ao seu modo. É quando você quer estar armado, mas sem parecer que tem uma arma. Na verdade, a maioria dos policiais deseja passar despercebida quando está à paisana. Infelizmente, isso não foi possível para o Policial Federal C.A.C., que foi sequestrado por dois homens armados e depois assassinado após ser reconhecido como policial em 05/04/1987.

Para evitar que se encontrem numa situação vulnerável semelhante ao do Policial Federal C.A.C., alguns policiais carregam uma segunda carteira desprovida de qualquer coisa que possa identificá-los como policiais. Outros carregam suas identidades funcionais em áreas menos acessíveis do corpo. Mas esconder uma arma é bem diferente! E sacar uma arma escondida (enquanto o agressor está perto) é outra coisa!

Tempos atrás eu escrevi sobre algumas medidas que os policiais podem adotar quando estão de folga. Também disse que não existe técnica perfeita ou que possa ser utilizada em todas as situações e que o importante é ter opções. No caso do porte de arma dissimulada, estas ideias não mudam.

O ideal no porte ostensivo duma arma deve ser a segurança, o conforto, a facilidade de acesso e a rapidez do saque. Entretanto, quando você quer que sua arma fique imperceptível ao público, você acaba sacrificando alguma coisa. Quer dizer, justamente quando o policial está mais vulnerável ao ataque dos criminosos, ele tem o acesso e a rapidez no saque prejudicados.

Parte do problema é uma questão de condicionamento ruim: inexistem treinamentos intensos que preparem o policial para reagir, sob condições de intenso estresse, sacando uma arma que está escondida. O que se vê, normalmente, são policiais alinhados sacando armas de coldres ostensivos. Treinos com saque de arma dissimulada são importantes porque o estresse prejudica (e muito) a precisão, e a arma escondida dificulta o acesso e diminui a velocidade da reação. Além disso, poucos policiais realizam treinos “em seco” com suas armas sob a camisa. E o pior: a maioria é resistente a experimentar novos procedimentos. Infelizmente, tais hábitos podem ser fatais para o dono da arma!

Então, se o porte dissimulado é uma questão estilo; se é importante ter opções; se existem modos mais eficazes para portar uma arma; você precisa considerar se seu comportamento atual oferece segurança para as situações mais perigosas. Você precisa avaliar o uso de coldres de qualidade para porte dissimulado que proporcionem a colocação da arma na frente, na lateral e atrás do corpo. Eu disse COLDRES DE QUALIDADE! São eles que protegem sua arma e deixam o porte confortável, evitando que você use as pochetes de "saque rápido" ou deixe sua arma dentro do carro. Certamente, você também precisará de mais de um tipo de coldre para portar sua arma com conforto nas atividades diárias. Você deve treinar em seco (e muito) e com tiro real nestas três disposições para saber qual delas é a melhor, mais acessível e mais rápida para uma determinada circunstância. E você necessita treinar com roupas diferentes também.

Apesar de possuir alguns coldres e já ter portado minha arma nas três posições, frequentemente uso o posicionamento lateral para o uso velado, pois é o mais natural e eficaz, tanto pela acessibilidade quanto pela rapidez no saque, além de ser menos incômodo. É uma posição excelente para quando você está vestindo um paletó ou uma blusa de frio. Já o porte frontal é bom, porém incômodo na hora de se sentar, o que leva o policial a “ajeitar” a arma constantemente na cintura (ajeitar alguma coisa sob a camisa é um indicativo de alguém armado). Contrariando minha preferência pelo porte lateral e frontal, eu usava um coldre Small of Back quando minha hora da verdade chegou. Obviamente, a rapidez no saque de uma arma dissimulada em determinada posição tem relação direta com a quantidade de prática que o policial possui com aquele coldre e naquela posição. Portanto, eu sobrevivi porque treinava com aquele coldre.

O que poucos sabem ou querem entender é que para praticar, você não precisa necessariamente atirar de verdade, já que o treino real nem sempre é viável pela carência de munição, estandes disponíveis, tempo, etc. Daí a importância do treinamento “em seco”.

O treino em seco é a oportunidade para você perceber o que está fazendo de certo ou de errado. Como o subconsciente não sabe a diferença entre uma simulação e algo real, a visualização mental e a repetição são colocadas em prática no treino em seco de maneira que a mente e o corpo interajam para melhorar as habilidades psicomotoras que estão em desenvolvimento.

Entretanto, a aquisição e a conservação destas habilidades requerem não só muita repetição, mas uma frequente manutenção do que foi aprendido, já que tais habilidades são perecíveis.

Para evitar exaustivos treinos em seco, você deve realizar breves sessões com muita concentração e com a arma em total segurança. Treinos extensos irão sobrecarregar sua capacidade e provavelmente terão pouco resultado positivo. Então, o treinamento deve ser frequente ao invés de muito longo.

Seja como for e onde quer que você porte sua arma quando está de folga, por favor, pratique o saque de arma dissimulada e treine vestindo as roupas que você usa no cotidiano. Há uma grande diferença entre o saque e o disparo de sua arma quando você está à paisana e quando você está uniformizado na linha de tiro de um estande.

Portanto, não espere para descobrir essa diferença no pior momento da sua vida!

22 comentários:

  1. Humberto, vem mais uma vez você, com seus prestigiosos ensinamentos.

    Visito diariamente seu blog, à espera da próxima lição. Tenho certeza de que quando eu integrar o DPF me serão válidas suas aulas.

    Parabéns.

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  2. Sempre acompanho o blog e tento praticar seus ensinamentos, extremamente válidos nessa vida policial. Obrigado por partilhar seus conhecimentos. Pablo

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  3. Aprender, treinar e se atualizar..., Aprender, treinar e se atualizar..., Aprender, treinar e se atualizar... Sempre! "Morrer não faz parte do plano!" Texto excelente como sempre.

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  4. Bons conselhos! Não demore para postar a outra parte! Abraços!

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  5. Bem, ainda não terminei a academia, por isso ainda não andei armado nas horas de folga, mas gostaria de tirar uma dúvida que tenho a tempos:
    Vc está na hora de folga e armado, de que modo "deixa" a sua arma?, isto é, lógico que a arma deve estar carregada, mas travada ou não?????
    Tenho esta dúvida pois penso que se precisar de usar a arma em uma urgência, o tempo (mesmo que curto) para destravar a arma será precioso, mas em compensação o risco de se andar com a arma destravada é inquestionável.
    se alguém puder compartilhar a experiência agradeço desde já agradeço.
    Ham, como sempre ótimo texto!!!
    vlw

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    1. Olá amigo. Tudo é treino e memória muscular. Se você treinar o saque com a arma travada, você vai condicionar o seu dedo a já destravá-la antes mesmo de espetar a arma e engajar o alvo. Se você treinar com ela destravada, mas no dia a dia andar com ela travada, daí você tá correndo sérios riscos, porque na hora H vc vai pressionar a tecla do gatilho e vai sentir ele bem durinho, porque sua memória muscular não armazenou a informação de que deveria levar seu dedo na trava, daí sim é um tempo precioso perdido e, provavelmente, fatal.

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  6. Me responde essa ai: comprei uma pt 840 (q ja ta na fabrica de novo pq so para fechada apos ultimo tiro). Diz o armeiro q tiro seco quebra o percusor... verdade isso? Valeu

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  7. Caro Vitão!

    Não creio que o treino em seco seja capaz de quebrar um percussor. Quanto a PT840, uma das possíveis causas para a arma parar fechada após o último disparo seja a posição do polegar da mão forte fazendo pressão no retém do ferrolho. Isso acontece quando o atirador mantém uma empunhadura bem justa na arma. Experimente realizar treinos com apenas um cartucho no carregador para que a arma pare aperta após cada disparo. Afaste ligeiramente seu polegar da mão forte do ferrolho ou da armação de sua arma. Veja se o problema persiste.

    Aguardo seu retorno.

    Forte abraço.

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  8. Responde o Anônimo...sempre tive essa dúvida também...

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  9. Blz mestre, tambem achei estranha essa afirmacao do armeiro. Com a Pt 100 já treinei muito em seco e ela tá funcionando normalmente até hoje. Um lote desta 840 para a PMGO teve que voltar pq estava quebrando o percursor direto.

    Sobre ela parar fechada, tá rolando um problema com os carregadores. PRF tambem recebeu e teve que mandar de volta pra arrumar isso... né mole nao, Taurus no Brasil é triste....

    Abraços.

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  10. Vitão... (dá licença professor...)

    Essa pistola é linda, né?

    Bom... será que não é seu carregador que não tá encaixando direito? Tenta empurrar a base dele pra ver se ela não para aberta... Se for é porque ele tá pequeno aí fica uma folguinha, sabe? É que com o uso aquele entalhezinho do carregador, onde fixa o dente do retém, vai se deformando...

    Ou então, pode ser também porque a mola do carregador está enfraquecida pelo uso... já trocou o carregador, pra testar? Ah mas isso também não é tão ruim, porque vc ganha tempo numa troca urgente de carregadores... rs rs rs

    Beijão!

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  11. Ah, e quanto ao percussor não é que quebra, mas alguns podem ficar desgastados... mas tem que ser com muito, mas muito tiro em seco, mesmo!
    : )

    Pra não acontecer isso, use munição de manejo ou cartuchos já deflagrados para efetuar os disparos em seco. Pronto...
    : )

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  12. Humberto, excelente post. Eu ando de moto e frequentemente fico treinando mentalmente as formas de sacá-la ou de reação no caso de uma abordagem. Infelizmente o treino real poderá acontecer apenas uma vez.
    Aguardo a parte dois.
    Se possível, diga para nós que tipo de coldre frontal você usa.
    Abraços,
    SD PM MS

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  13. OLá, sou Policial Civil no Amazonas, com cerca de 3 meses de atividade, portanto, estou "cru" em quase tudo. Agora a principal preocupação minha é quanto ao uso da arma, temos cauteladas PT 100, porem pra mim que tenho estatura baixa (1,70m) fica totalmente desajeitada, o que o senhor sujere quanto ao uso desta arma, qual a melhor forma?

    Obrigado e parabéns pelo Blog, o Sr. acabou de conquistar mais um leitor/fã.

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  14. Olá, nas horas de folga troco minha PT 100 cautelada pela minha PT 638 (particular), qual o coldre o Senhor sugere para utiliza-la de forma discreta?

    Mais uma Vez Parabéns pelo Blog.

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  15. Caro Adriano,

    o porte dissimulado depende do estilo do policial. Alguns usam a arma na frente do corpo, outros na lateral e alguns nas costas. Pode depender da roupa que você está vestindo, da sua estrutura física, etc. Por isso, possuir alguns coldres para porte dissimulado facilita a vida do policial em função das opções disponíveis para a maioria das situações. Eu uso um coldre americano DeSantis The Insider IWB para porte frontal. Para o porte lateral, posso usar o Fobus. Para o porte nas costas, uso um Galco Small of Back.

    No link http://www.newyorkironworks.com/ você pode encomendar os coldres que citei e outros de sua preferência.

    Forte abraço.

    Humberto Wendling

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  16. Caro Humberto Wendling gostei muito do seu texto.
    Acho que estudar as caracteristicas mais íntima do dia a dia de um servidor policial ajuda a desenvolver as técnicas de defesa. Um treinamento ardúo é batalha fácil...

    Um abraço

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  17. Olá Humberto Wendling e participantes desse conceituado blog, meu nome é 'scorpion' trabalho na policia cientifica de goiás na área administrativa sou concursado e tenho a funcional do respectivo cargo, gostaria de saber dos senhores se eu posso usar a carteira porta funcional (não é distintivo) da policia cientifica ou é só para peritos.Quero saber também se possível, o que vocês policiais fariam se pegasse algum adimistrativo com um porta documento funcional mesmo não sendo perito, daria algum problema pra mim.
    Gosto muito dos textos do Humberto e de todos os comentários, apesar de eu não ser policial acho muito interessante e verdadeiros.

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  18. Guerreiro onde compro um coldre deste o das costas em couro?fdenizio@ibest.com.br

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  19. O coldre se chama Small of Back ou simplesmente S.O.B. Pode ser adquirido em lojas estrangeiras e pela internet.

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  20. gostei muito das informações passadas, sou policial e estou fazendo uma monografia nesse sentido do policial armado a paisana gostaria de estar trocando umas idéias com você se possível.
    email: hugunascimento@hotmail.com

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  21. Parabéns pelo texto, também sou policial e instrutor de tiro e sempre falo exaustivamente para os meus alunos da importância do treino em seco e da utilização de um bom equipamento. Na verdade o treino em seco deve ser realizado ao menos 3 vezes por semana por 15 minutos por dia. Isso é fundamental para a evolução do atirador, o que com o tempo ficará claro na hora que for ao estande atirar com munição real.

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