quarta-feira, 1 de abril de 2015

Precisamos pensar grande!

No mês passado recebi um e-mail com um texto anexo intitulado "Treinamento Realístico. Da sala de aula para as ruas." A ideia difundida no texto era consistente e coerente com as necessidades de treinamento, não só das polícias brasileiras, mas de todas as organizações policiais do mundo. E apesar de interessante, o conceito desandou em alguns pontos.

O texto tratou do objetivo educacional de qualquer treinamento, ou seja, seu resultado final em razão do conhecimento adquirido. E considerou a CAPACIDADE DE APLICAÇÃO do conhecimento como o fator mais importante. Desse modo, o texto informou:

"Na atividade policial, a aplicação deve ser a principal preocupação do instrutor. O conteúdo técnico puro tem pouco valor na maioria das situações críticas vividas constantemente pelo policial nas ruas. Isto porque o policial é exigido a empregar o seu conhecimento em condições desfavoráveis, sob stress, em tempo comprimido. Esta capacidade de julgamento, de decidir em situações críticas (quando se está com uma arma em punho, e vidas estão em jogo, toda situação é crítica), tem demonstrado ser mais importante até do que o conhecimento de técnicas e a disponibilidade de meios."

O autor tem razão quando informa que a aplicação do aprendizado deve ser o fator de maior importância. Essa preocupação não se limita apenas ao instrutor, mas abrange também o policial, já que o conhecimento que não possui aplicação no mundo real é pura perda de tempo, energia e vida! Coisas mirabolantes no ensino policial são como os programas de fofocas sobre "celebridades": não servem para nada! O problema, e eu sei que o autor não disse isso, é que priorizar apenas a capacidade de julgamento (em detrimento das técnicas e dos meios) pode permitir uma pequena, porém nefasta ideia na mente dos administradores para que deixem os policiais assumirem todo o risco da profissão sem o conhecimento das técnicas e sem o custo para a aquisição dos meios. Além disso, os superiores hierárquicos podem utilizar tal ideia para se eximirem da responsabilidade e das consequências do comando, permitindo que permaneçam numa zona de conforto enquanto o trabalho policial sai a qualquer preço, ainda que esse preço seja pago por quem está na linha de frente (carente das técnicas e dos meios, uma obrigação das instituições).

Se a diferença entre ganhar ou perder, viver ou morrer for uma questão de milímetros ou segundos, que essa vantagem esteja sempre do lado do policial. Nesse sentido, não se pode escalonar, em termo de importância, algo tão fundamental para a salvaguarda policial. Se a capacidade de julgamento é extremamente relevante, então é preciso treinar essa habilidade com as MELHORES TÉCNICAS e com os MELHORES INSTRUMENTOS que existem.

Se a técnica é coerente e o meio é o melhor, então a decisão do policial e sua ação tendem a ser as melhores possíveis. O que quero dizer, é que deve haver um equilíbrio entre os três fatores. Caso contrário, as responsabilidades pela conduta policial sempre recairão sobre o elemento mais vulnerável: o policial numa situação de perigo. Havendo um equilíbrio entre a capacidade de decisão, as técnicas e os meios, isso implica na divisão de responsabilidades entre todos: policiais, instrutores e administradores. Se um desses três elementos for fraco, então a possibilidade de um erro policial é maior. Por exemplo, um policial bem treinado, experiente e ponderado pode produzir um desastre simplesmente porque foi obrigado a utilizar um instrumento de baixa qualidade. Na história recente das polícias brasileiras existem relatos de suspeitos e policiais atingidos por disparos acidentais produzidos por suas próprias armas. Muitas dessas instituições já recolheram seu arsenal para perícia e manutenção com o propósito de evitar mortes desnecessárias. E isso é mais comum do que se pensa, pois milhares de policiais são obrigados a portarem armas de fogo que não passam no mais simples teste de qualidade internacional.

A indisponibilidade do meio também coloca em risco o policial e o público. Algumas vezes, o policial é forçado a escalar o nível de força e utilizar a arma de fogo porque não possui um instrumento menos letal, como um Taser®! Se o policial que atirou e matou um vendedor ambulante durante uma prisão em São Paulo possuísse um Taser®, certamente todos os envolvidos naquela ocorrência estariam bem. Só não confunda Dispositivo Eletrônico de Controle com o original Taser®!

Por outro lado, nem a melhor técnica e o melhor instrumento podem salvar o policial quando ele comete um erro básico e insere o dedo no gatilho durante o saque da arma. Infelizmente, alguns profissionais têm morrido porque se esqueceram dessa elementar regra de segurança.

Mas o artigo trata do estresse na atividade policial e sobre isso ele diz o seguinte:

"O stress é o maior inimigo do policial. Quando falamos em stress, referimo-nos ao nervosismo, a tensão, a descarga de adrenalina que ocorre no corpo humano diante de uma situação de perigo."

O autor está certo quando diz que o maior inimigo do policial é o estresse. Quando um policial vivencia uma situação crítica seu maior medo não é o que o criminoso vai fazer, mas o que o policial será capaz de fazer para se salvar. As academias de polícia dedicam tempo e esforço para a formação do policial, e para isso ensinam procedimentos de abordagem, busca pessoal, uso de algemas, defesa pessoal, segurança de autoridades, direção operacional, etc. Compõem ainda, o ensino de técnicas para o manuseio de armas de fogo, incluindo o conhecimento sobre os mecanismos de funcionamento, a desmontagem e a montagem dessas armas. Finalmente, esse aluno é levado a um estande de tiro onde é treinado e testado na prática. No final, conclui-se que esse policial esteja em plena condição para enfrentar o crime e a violência protegendo a vida e os interesses do cidadão, bem como a sua própria vida, com base apenas na avaliação da pontaria.

Entretanto, pesquisas e estatísticas (internacionais, é claro!) mostram exatamente o oposto disso, ou seja, que grande parte dos policiais falha quando confrontada por alguém que representa uma ameaça real e mortal. Por quê? Por que os treinamentos não estão de acordo com as alterações psicológicas, emocionais e corporais de um policial durante um confronto armado real. Durante todo o período de formação ou treinamento policial os elementos PERCEPÇÃO DA AMEAÇA, MEDO E ESTRESSE COM SUAS CONSEQUÊNCIAS – não estão incluídos. E são exatamente esses elementos que irão interferir nas habilidades de sobrevivência do policial.

Quando o cérebro, automaticamente, percebe e interpreta alguma situação como ameaçadora, todo o organismo passa a desenvolver uma série de alterações (fisiológicas, psicológicas, emocionais e comportamentais) denominadas de SÍNDROME GERAL DE ADAPTAÇÃO ao estresse ou REAÇÃO DE SOBREVIVÊNCIA. Por isso, o estresse é mais do que um simples estado de tensão, principalmente quando se fala em reação e comportamento policial durante ocorrências com risco de morte.

Apesar de existirem outras variáveis que podem desencadear a reação de sobrevivência, existem alguns elementos fundamentais que possuem um impacto imediato no seu grau de ativação. São eles:
  • a surpresa do ataque;
  • o nível de maldade do agressor;
  • a intenção humana por trás da ameaça;
  • o nível de ameaça percebida (indo do risco de ferimento até a possibilidade de morte);
  • o tempo disponível para reagir;
  • o nível de confiança no treinamento e nas habilidades pessoais;
  • o nível de experiência no trato com ameaças específicas;
  • a responsabilidade pela própria proteção e
  • o grau de esforço físico combinado com a ansiedade.

Desse modo, o estresse é uma reação EMOCIONAL e variável conforme a percepção e o valor que o policial dá ao evento que vivencia. E um dos efeitos dessa reação emocional é o aumento da frequência cardíaca, devido à presença abundante da adrenalina na corrente sanguínea.

Já se sabe que durante um confronto, a frequência cardíaca de um policial pode ir de um extremo ao outro em poucos segundos. Mas qual seria a faixa para o melhor desempenho no combate, em se tratando de uma reação de sobrevivência e a frequência cardíaca? Estudos determinaram que essa faixa compreendia o intervalo entre 115 a 145 BPM. Em outras palavras, esse intervalo seria aquele no qual a capacidade para lutar estaria maximizada, melhorando o desempenho policial.

O problema com essa concepção é que para atletas, como os corredores, que podem ter altas frequências cardíacas, a reação de sobrevivência não tem início ou efeito. Isso porque a frequência do coração de um corredor é obtida pelo ESFORÇO FÍSICO, e não pelo medo de uma ameaça atual e inesperada à vida. E é aqui que muitos instrutores, academias, técnicas, policiais, exercícios, ideias e textos perdem o rumo. Instrutores que sujeitam seus alunos a esforços físicos intensos não conseguem observar qualquer semelhança com o estresse emocional e a consequente deterioração das habilidades físicas, emocionais e comportamentais dos policiais. Deve-se perceber que o aumento da frequência cardíaca é somente indicador do nível de estresse e não uma força capaz de deteriorar o desempenho. Particularmente, sou contra esses treinamentos mirabolantes, por pura ineficácia e improdutividade do procedimento.

"A doutrina do Stress Fire não se aplica apenas ao treinamento de tiro policial. Em mais de seis anos como instrutor de técnica policial, digamos assim, avançada, pude constatar que o aproveitamento de um treinamento prático, com simulações de situações reais, supera enormemente o aprendizado teórico."

"Portanto, para unir o conteúdo à realidade, o treinamento deve incorporar o que vários policiais aprenderam da maneira mais difícil; deve, também, ser constantemente revisto, atualizado e adaptado às situações que têm ocorrido nas ruas."

O conceito acima é inquestionável. É o sonho de todo instrutor: aliar teoria e prática num contexto que se aproxime ao máximo da realidade vivenciada pelos colegas. Portanto, vamos adiante!

"Técnicas que parecem simples e eficientes em um ambiente artificial de treinamento podem ser praticamente impossíveis de executar num encontro em que o policial experimenta altos níveis de stress."

Ops! Estudos demonstram que diante do perigo atual, o cérebro do atirador determina uma REAÇÃO SIMPLES, RÁPIDA e NATURAL para situações onde a rapidez da reação é fator prioritário para a sobrevivência, tendo em vista a proximidade do agressor e o tempo para reagir. Em muitas situações o instinto é dominante sobre o raciocínio porque é menos dispendioso, mais eficaz e de acordo com a opção padrão para a sobrevivência. Isso é especialmente verdade em situações repentinas de alto estresse que requerem um desempenho instantâneo. Além disso, é baseado na experiência adquirida e não na avaliação consciente do evento crítico; é intuitivo e não lógico; está orientado para a ação imediata, ao contrário da ação retardada pela pensamento consciente. Por isso a SIMPLICIDADE É A OPÇÃO PADRÃO, por natureza, PARA SITUAÇÕES COM RISCO DE MORTE. Como dizem os americanos: "Kiss. Keep it simple, stupid!" Quer dizer, faça simples, idiota!

"Nos cursos de Operações Especiais e outros que tivemos a oportunidade de coordenar, procuramos empregar esses princípios, a fim de proporcionar ao policial a chance de desenvolver não só a habilidade técnica, como também a capacidade de julgamento em condições de tensão. Os artifícios utilizados para simular situações de stress são vários: privação do sono, redução da alimentação, compressão de tempo em todas as atividades, exaustão física e outros. Quando se vê uma turma de policiais comendo em dois minutos, correndo pra lá e pra cá e passando noites em claro, é preciso ver o que há por trás das aparências: estas atividades são apenas mecanismos para simular o stress de uma ocorrência policial."

Parece existir alguma coisa que acontece com o policial quando se muda da prática em estande de tiro para uma reação em um cenário realista.

O treinamento tradicional com armas de fogo não permite a interação humana contra um alvo de papel, a não ser pela avaliação da pontaria. Esses alvos não provocam medo, pois o policial não percebe neles uma ameaça. Sem essa percepção, o corpo humano deixa de criar o medo. Sem o risco de ferimento ou morte, a reação de sobrevivência não ocorre, e o policial desempenha suas atividades naturalmente contando com todas as suas habilidades motoras, visuais, auditivas e cognitivas trabalhando em perfeita sintonia e à sua disposição sempre que desejar.

No entanto, quando esse policial se vê diante de uma situação ameaçadora, real e inesperada, e onde o tempo de reação é mínimo, seu corpo é colocado em alerta para engajá-lo na ameaça e prepará-lo para sobreviver. Essa reação pode diminuir a capacidade do policial em ouvir (exclusão auditiva), ver (visão em túnel), pensar (processamento cognitivo) e responder fisicamente (perda do controle motor fino e complexo).

Então, qual a solução? O artigo responde essa pergunta: "...desenvolver não só a habilidade técnica, como também a capacidade de julgamento em condições de tensão."

Mas como? Por meio do TREINAMENTO DINÂMICO SIMULANDO SITUAÇÕES REAIS, inclusive aquelas vivenciadas por outros colegas, encorajando os policiais a confrontarem seus medos, a utilizarem suas habilidades sob estresse, aumentando a confiança e a capacidade para tomarem decisões apropriadas em relação ao uso da força letal. O treinamento dinâmico simulando situações reais é recomendado para os treinamentos de sobrevivência policial. Esse treinamento permite a introdução do estresse no cenário para torná-lo o mais realista quanto possível em comparação com as condições reais que os policiais encontram nos confrontos armados que enfrentam. O benefício desse tipo de treinamento é a preparação do policial para agir adequadamente durante os confrontos violentos usando o nível apropriado de força. Além disso, o treinamento realístico com uso da tecnologia SIMUNITION ou AIRSOFT permite que policial treine com as mesmas ferramentas que ele carrega durante o serviço.

Um bom treinamento dinâmico simulando situações reais faz os policiais usarem a percepção de ameaça, suas habilidades verbais e a capacidade para escalar e desescalar uma situação crítica. Esse treinamento também pode ensinar o que alguns instrutores têm dito há anos: não desistir nunca e continuar lutando, mesmo que ferido. Durante esse tipo de atividade é possível aplicar as técnicas de gerenciamento do medo para evitar a hipervigilância, fornecendo ao policial participante o preparo mental adequado para enfrentar possíveis situações críticas futuras.

Um bom treinamento dinâmico permite que o policial tome decisões com base no que está acontecendo. O policial pode justificar o uso da força letal contra o outro participante? Ele pode atirar em outro ser humano que está representando uma ameaça letal? Ele consegue se comunicar? Consegue trabalhar em equipe? Ele faz o que é simples? O policial pode determinar quem é uma ameaça e quem não é? Em situações com múltiplos oponentes, ele pode efetivamente lidar com a ocorrência e estabelecer sua autoridade? Ele pode atingir com precisão um alvo humano real que está se movendo e reagindo? O policial consegue tomar a melhor decisão experimentando os efeitos do medo e do estresse?

Contudo, o que muitos ainda não perceberam é que o treinamento realístico (role play scenario) não possui qualquer relação com esforço físico extremo, privação do sono, compressão do tempo, redução da alimentação, exposição ao sol, à chuva, ao frio, comer lavagem, etc. E isso também não tem nenhuma relação com o estresse real. Essa metodologia só se aplica se possuir RELAÇÃO COM A ATIVIDADE ESPECÍFICA necessária para o trabalho. Por exemplo, membros do GRUMEC precisam ser expostos ao frio e passar a maior parte do tempo molhados, pois a atividade específica exige a permanência em ambientes frios e molhados.

Concluindo, altas frequências cardíacas não provocam tensão emocional. Por isso, para atletas, que podem ter altas frequências cardíacas, o estresse não tem efeito. Isso porque a frequência do coração é obtida pelo esforço físico, e não pela ansiedade. Isso explica porque não se observa a deterioração das habilidades motoras e do raciocínio nos alunos submetidos somente a um esforço físico intenso. Obviamente, intensificar ainda mais o esforço físico não é a resposta, pois a exaustão dificulta a concentração e o aprendizado.

Por isso, precisamos pensar grande para fazer grande!

Lembrete: o treinamento realístico não se aplica aos cursos de formação policial no Brasil por causa do formato das turmas nas academias. Esse tipo de treinamento exige tempo, recurso e turmas reduzidas. Cursos policiais com 500, 800 ou 1000 alunos, simplesmente, inviabilizam a participação de todos e a melhoria na formação desses profissionais.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Como assim...ficou sem munição?!

Provavelmente você já deve ter ouvido algum instrutor de tiro afirmar que se o policial não é capaz de resolver um conflito com cinco ou seis disparos, então ele não o resolverá com 10. Isso até poderia fazer algum sentido no período em que os revólveres dominavam o cenário das armas curtas e os policiais possuíam apenas seis cartuchos no tambor. Desse modo, resolver o confronto com a quantidade de munição disponível era uma necessidade urgente.

Entretanto, isso não significa que os policiais daquela época eram mais eficazes que os policiais da era da pistola. Evidente que o contrário não pode ser afirmado também! Cada tiro conta, é verdade! E o sonho de todo policial é sair ileso de um conflito armado, com o mínimo de disparos e no menor tempo possível. Ou não?! Vou reformular: "E o sonho de todo policial é sair ileso de um conflito armado, mesmo com o máximo de disparos e no menor tempo possível." Então, se o policial atirou muito ou pouco isso não faz diferença, pois o que conta é o resultado da reação. Afinal, quanto mais rápido ele terminar o combate, menos tempo ficará vulnerável às ações do agressor.

Mas, e se você não resolver o confronto com cinco disparos? Quão reconfortante seria saber que você ainda possui mais 10 cartuchos prontos para impactar o agressor (ou os agressores)? Que tal outro carregador com mais 15, 17 ou 19 cartuchos? Considerando que você vai errar de qualquer modo, não é melhor se precaver? Não é melhor terminar um confronto sabendo que ainda resta uma ou duas recargas na cintura?

O projeto da pistola considera, intuitivamente, a grande capacidade do carregador da arma como um remédio para a falta de habilidade do atirador em acertar a maioria dos tiros. Essa é a grande vantagem da pistola sobre o revólver. Um disparo de revólver deve ser duas ou três vezes mais certeiro que um simples tiro de pistola. Não me refiro ao tema da incapacitação imediata e as historinhas sobre Stopping Power. Com um revólver, o atirador tem a obrigação de ser mais eficaz porque ele tem menos munição disponível.

Algumas pessoas até consideram as pistolas de 10 e 12 cartuchos como sendo armas de pequena capacidade ou armas do tipo back-up.

Isso lembra um texto que diz o seguinte:

"A primeira e mais importante regra num tiroteio é esta: tenha uma arma. Se você não tem uma arma, não se envolva num tiroteio. Isso é considerado uma grave violação da boa educação num confronto armado. Essa regra é tão importante que se sobrepõe a todas as outras regras.

Qual é a melhor arma? A melhor munição? Qual a melhor técnica? Quem se importa!? Se você não possuir uma arma ao seu alcance imediato quando o tiroteio começar, o que importa tudo isso?

Você pode ser o sujeito mais rápido do Oeste, com um arma customizada de R$ 6.000,00, carregada com uma munição de ponta oca nuclear + P. E daí!? Se sua arma está em casa e um conflito armado começa quando você está na rua, você vai perder. Se sua arma está no porta-luvas, e um tiroteio surge enquanto você abastece seu carro, você vai perder. Tiroteios começam sem aviso algum, e acontecem muito rápido.

A segunda regra num tiroteio é esta: traga munição! Muita! Se vale a pena atirar, vale a pena atirar duas vezes. Munição é barata, mas a vida é muito cara!"

E isso também me faz lembrar uma notícia publicada no site da FENAPEF em 28/03/2012, sobre um tiroteio envolvendo dois policiais à paisana.

"A polícia emitiu uma nota afirmando que o agente X não foi quem atirou primeiro na troca de tiros que ocorreu na noite da última segunda-feira (26), em Cuiabá.

Segundo a nota, o indivíduo Y teria perseguido o agente X e o fato teria culminado no tiroteio.

O agente X disse que o início do incidente ocorreu no cruzamento de duas avenidas.

Ele disse que o indivíduo Y estava em uma caminhonete e teria atravessado o sinal vermelho, o que motivou o agente X a buzinar.

O agente X contou, segundo a nota, que em determinado ponto, o indivíduo Y reduziu a velocidade e deu passagem para ele.

A partir de então, o indivíduo Y passou a perseguir o veículo do agente X, aproximando com hostilidade a caminhonete que dirigia, buzinando e dando “sinais de luz”.

A atitude do indivíduo Y teria gerado preocupação no agente X, por causa das funções que desempenha na polícia.

Por essa razão, ele resolveu parar o carro em frente à polícia para receber apoio em eventual ocorrência, pois desconfiou da conduta do indivíduo Y e não sabia até onde ele iria persegui-lo, ou que atitude poderia tomar à medida que diminuísse o tráfego de veículos na avenida.

O agente X, então, disse ter descido de seu veículo em frente à caminhonete dirigida pelo indivíduo Y e se apresentado como policial, fazendo uma abordagem padrão. Ao descer de seu carro, o agente X estaria com sua arma - uma pistola 9mm – empunhada para baixo.

Ainda segundo o agente X, ele manteve a arma apontada para o chão e apresentou-se como policial, quando foi recebido com um tiro.

Após isso, houve troca de tiros até que se esgotassem as munições do indivíduo Y. No total, segundo a nota da polícia, foram disparados sete tiros da pistola do agente X e seis do revólver do indivíduo Y.

Ao cessar a ameaça de tiros da arma do indivíduo Y, o agente X disse que parou de atirar, deixando ainda três munições na pistola."

Depois de disparados o total de 13 tiros, descobriu-se que o indivíduo Y também era policial. "F.O. positivo" para os envolvidos no confronto, pois respeitaram a primeira regra de um confronto armado. Para quem não sabe "F.O." é uma terminologia militar que se refere a qualquer fato observado (positiva ou negativamente). E a segunda regra? Ah! F.O. negativo!

Treze tiros foram disparados e ninguém foi atingido. O confronto só terminou porque a munição do revólver do indivíduo Y acabou e o agente X pode poupar fartos três cartuchos. Dois homens, em trajes civis, num conflito armado a curta distância e incapazes de saber que o adversário era um colega policial, por óbvio. O primeiro disparou seis vezes, enquanto o segundo atirou sete e aguardou três cartuchos. Portanto, ele tinha um carregador com 10 cartuchos de uma pistola Glock 26. Mas o fabricante afirma que a Glock 26 é a opção de back-up selecionada por muitos policiais no mundo. BACK-UP, ARMA RESERVA, SEGUNDA ARMA! Quem porta uma pistola com um carregador de 10 cartuchos está tão preparado quanto alguém que usa um revólver 5 tiros. Basta observar o percentual de aproveitamento dos tiros dos dois policiais: 0%. E a taxa de erros: 100%! Um Agente de Polícia Federal, especialista em planejamento operacional, disse certa vez: "Quem tem um, não tem nada! Quem tem dois, tem um!" Ora, siga essa lógica e você saberá a quantidade mínima de carregadores de pistola que deve portar sempre (quem tem três, tem dois).

Parte do trabalho policial é estar pronto para o evento crítico. Com um revólver ou uma pistola com apenas um carregador, o policial está pronto apenas para o início do confronto e com grande chance de perder a vida no meio ou no final.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Conhecendo mais sobre o livro Autodefesa



1. Da onde surgiu a ideia de criar essa história? O que te inspirou para escrever o seu primeiro livro ? 

O livro Autodefesa é a primeira parte de um projeto literário orientado para policiais que foi iniciado em 2002, após a conclusão do Curso de Instrutor de Tiro da Polícia Federal. Em razão da extensão do tema, esse projeto foi dividido em quatro elementos: Autodefesa; Sobrevivência Policial; Estresse e o Confronto Armado; e Armamento e Técnicas de Tiro.


2. Como foi escrever um livro? Por que começou a escrever? 

Escrever o livro Autodefesa foi uma das atividades mais motivadora e desafiadora que já suportei. Envolveu muito estudo e, principalmente, um enorme desejo de alertar os bons brasileiros sobre as possibilidades de sucesso em situações de conflito com criminosos. Foi um desenlace sobre a única dica policial que ainda persiste na sociedade: a ideia de que nunca se deve reagir. O livro é uma demonstração de que existem opções de resposta quando tudo parece perdido. O livro começou a ser escrito quando percebi que muitos policiais federais eram vitimados antes mesmo de serem capazes de utilizarem suas armas de fogo. Portanto, não era uma questão de técnicas de tiro ou artes marciais, mas de compreensão sobre as dinâmicas do crime, de prevenção, treinamento mental e opções de comportamento antes e durante um crime.


3. O livro é baseado em suas experiências ou de alguém que você conhece? 

Sim. Existem experiências pessoais, de pessoas da família, de policiais (civis, militares e federais) e outros brasileiros que foram bem sucedidos ou que não tiveram tanta sorte. Os nomes foram alterados visando preservar a identificação dessas pessoas.


4. Como surgiu o título? 

O título surgiu da terminologia inglesa self-defense, que indica a capacidade do indivíduo se defender e resistir à violência por conta própria, sem ter que esperar a polícia.


5. Se você tivesse que fazer tudo de novo, você mudaria alguma coisa em seu livro? 

Certamente. Na verdade, incluiria novos exemplos de pessoas que tomaram uma decisão e se salvaram, apesar dos ferimentos. É o caso, por exemplo, das duas tentativas de assalto contra o ator e comediante Castrinho e sua esposa em junho de 2013. Foi a ação dessa corajosa mulher que salvou o casal.


6. Existe alguma coisa que você encontra particularmente desafiadora em sua escrita?

A coisa mais desafiadora é convencer as pessoas de que elas estão em perigo e que esse perigo aumenta ou diminui de acordo com suas ações ou omissões. Geralmente, pessoas de bom coração não gostam de falar ou tratar de assunto tão preocupante e aterrorizador. Elas têm o pensamento da "ovelha", uma referência ao artigo "On Sheep, Wolves, and Sheepdogs", do coronel americano Dave Grossman.


7. Qual foi a parte mais difícil de escrever seu livro?

A parte mais difícil foi dividir o tempo entre o trabalho, os estudos, a família e outras demandas pessoais.


8. Quais autores são referência para o seu trabalho?

Apesar da literatura ser inédita no Brasil, tenho grande consideração por aqueles que compreendem a necessidade de estar pronto para a hora da verdade: Mestre Kobi Lichtenstein (Kravmagá), Deputado Federal Sérgio Olimpio (um dos autores do livro Reaja! Prepare-se para o confronto), Massad Ayoob (ex-policial e escritor americano), policiais e estudiosos que colaboram com o FBI Law Enforcement Bulletin, dentre outros.


9. No que você está trabalhando agora? Pode nos contar qual sua inspiração para o próximo livro?

Agora estou trabalhando no segundo elemento do projeto inicial, ou seja, a Sobrevivência Policial, que espero publicar pelo Clube de Autores em 2018. Trata de um estudo estatístico e comportamental que tem o objetivo de salvaguardar a vida dos policiais brasileiros e servir de guia para uma mudança de comportamento policial e do treinamento oferecido pelas academias de polícia.


10. Que livros mais influenciaram a sua vida?

Nenhum livro chegou a influenciar minha vida, mas a leitura de centenas de artigos escritos por policiais e pesquisadores da área que abriram os horizontes da minha experiência profissional e como autor do livro Autodefesa. Infelizmente, todos os artigos são estrangeiros, o que demonstra como estamos atrasados na produção de dados e conhecimento policial. Além disso, foi o convívio e o aprendizado que tive com magníficos Agentes da Polícia Federal, Policiais Militares e Policiais Civis durante esses 18 anos de atividade policial.


11. Que livro você está lendo agora?

Agora estou estudando, lendo, relendo, escrevendo, reescrevendo, pesquisando para o segundo livro: Sobrevivência Policial.


12. Quem é o seu autor favorito e o que é que realmente impressiona sobre o seu trabalho?

Meu autor predileto é o FBI (Federal Bureau of Investigation), seus relatórios, pesquisas, artigos e boletins. O trabalho desenvolvido pelo FBI é um manancial de conhecimento sobre a atividade policial.


13. Você tem algum conselho para os outros escritores? 

Nunca desista! Mesmo quando alguém próximo disser o contrário.


14. Você tem alguma coisa específica que queira dizer a seus leitores

Leiam o livro e fiquem a salvo.

Entrevista em dezembro de 2014.