Eu acabei de completar
meu 22º ano de trabalho policial, mas só após o 10º ano que passei a observar
com cuidado a cultura da profissão.
Não é uma cultura
encontrada em todos os lugares. E embora muitas práticas sejam positivas, é
preciso reconhecer que outras não são.
Por incrível que
pareça, esses problemas incluem coisas que controlamos, como usar coletes
balísticos, cintos de segurança, adquirir equipamentos de qualidade superior,
desenvolver e participar de treinamentos profissionais, atuar como equipe
coesa, modificar nossa mentalidade e nosso comportamento.
Eu sinceramente
acredito que isso, por si só, reduziria o número de colegas mortos em serviço e
fora dele.
Vinte e dois anos
atrás, quando ingressei na polícia, recebi um conselho logo no primeiro minuto:
“Fale pouco, ouça muito e não confie em ninguém!” Ao longo do curso, aprendi um
pouco do trabalho, mas ninguém me orientou sobre como me proteger para fazer
esse trabalho.
Nunca esquecerei uma
aula sobre barreira policial e abordagem veicular. Durante o exercício, um
instrutor me entregou uma espingarda e disse: “Fique aqui!”. Eu não questionei.
Cinco minutos depois, outro instrutor gritou: “Oh, o que você tá fazendo aí?
Você tem que ficar lá!”. Também não questionei; e como o segundo instrutor foi
enfático, mudei minha posição. Na prova teórica sobre a matéria, lá estava a
questão: Qual o posicionamento correto do policial que faz a segurança usando a
arma longa numa barreira policial? No croqui, marquei a posição indicada pelo
segundo instrutor, mas a alternativa estava ERRADA. Conclui o curso e assim que comecei a trabalhar, o
treinamento ruim se transformou em incerteza e entrou em contato com a tradição,
resumida pela sigla N.H.S. (na hora sai).
Nos últimos 12 anos,
eu tenho alertado sobre a necessidade de mudança de parte da cultura policial
que promove comportamentos ruins e, portanto, custa a vida de muitos de nossos colegas.
Infelizmente alguns desses erros produzem tragédias que poderiam ser evitadas,
e muitos deles podem ser atribuídos a uma cultura que nos ensinou comportamentos
inseguros. Mas nós devemos atacar esse problema cultural dando aos policiais
informações, equipamentos e treinamentos adequados. Mudar uma cultura ruim
envolve a formação e o treinamento de cada policial, inclusive sobre sua
parcela pessoal de responsabilidade.
Muito da história da
polícia brasileira tem sido escrita com o sangue de nossos colegas. Porém pouco
nos esforçamos para aprender a lição, mesmo quando nos deparamos com nossas
galerias de heróis.
Precisamos ter
autocrítica, divulgando, explorando e corrigindo nossos erros em benefício da
salvaguarda dos colegas que persistem no serviço policial. Não podemos cruzar
os braços e imaginar que não há nada a ser feito porque as “coisas são assim
mesmo”. Essas mudanças podem salvar vidas e isso é o suficiente para agirmos AGORA.
Assim, podemos mudar
para melhor, eliminando o comportamento inadequado, ou nos inclinarmos à
evolução natural do mundo MAIS TARDE.
Por isso, o livro POLICIAIS:
COLETÂNEA (2019, 474 páginas, formato A5) incorpora artigos
escritos no período de 12 anos, para que você os incorpore na sua vida e no seu
trabalho hoje e sempre.
Humberto Wendling
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