Quando o suspeito número 2 dos atentados terroristas de Boston/EUA foi
capturado, era visível a alegria contagiante dos policiais envolvidos na
operação e o orgulho nacionalista da população, que gritava “USA! USA! USA!” e
aplaudia os policiais. E isso me fez pensar que talvez meu amigo brasileiro estivesse
com a razão!
Então, a revista Isto É publicou o artigo “Eles defendem a descriminalização das drogas”1:
“O movimento Viva Rio colheu
assinaturas de sete ex-ministros da Justiça, dos governos Fernando Henrique
Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva. Todos são favoráveis à descriminalização
das drogas. Eles acreditam que tirar o usuário de entorpecentes do âmbito penal
trará uma política mais efetiva de combate ao narcotráfico e ao tratamento da
dependência. Na semana passada, a carta foi entregue ao Supremo Tribunal
Federal (STF), que já estava com o debate em relação à maconha na pauta deste
semestre.” (ISTO É, 2013).
O mais estranho na notícia é que o abaixo-assinado foi uma iniciativa do
Movimento Viva Rio, o mesmo que é favorável às políticas de restrição,
desarmamento e destruição de armas de fogo como medida de redução da violência.
O site da entidade diz o seguinte sobre isso2:
“O Viva Rio desenvolve atividades
destinadas a reduzir a violência armada. Os objetivos do projeto são: redução
da procura por armas (conscientização da população sobre os perigos das armas);
fiscalização da oferta (combate ao contrabando e vigilância sobre produção,
venda, exportação e importação, para evitar desvios); controle de estoques
(destruição dos excedentes de armas e programas de entrega voluntária).” (VIVA
RIO, 2013).
Reduzir a violência armada e descriminalizar o uso de entorpecentes?! É
isso mesmo?! Eles querem restringir a oferta de armas de fogo, destruir as que
existem, impedir que as pessoas trabalhadoras e honestas se defendam,
descriminalizar o uso das drogas e liberar o usuário da sua cota de
responsabilidade porque acreditam que ele é um doente sem consciência dos seus
atos?! Essa é a estratégia para diminuir a violência no país?! Isso mais parece
a estratégia do caos.
Considerando que ainda há vestígios de democracia e liberdade de expressão,
chego à conclusão que existem duas opções para tratar o tema. A primeira é
ficar calado aguardando a próxima encarnação e a outra é exercer o direito de
opinião. Apesar do tema fugir daquele de costume (armas, técnicas de tiro,
sobrevivênvia policial), o mais produtivo é fazer as duas coisas, ou seja,
opinar e depois aguardar o destino da vida além-túmulo.
O usuário e o dependente químico
Há muita confusão sobre os significados dos termos “usuário de drogas” e
“dependente químico”. Todo dependente químico é um usuário, mas a recíproca não
é verdadeira. Quer dizer, nem todo usuário é um dependente. A jornada no mundo
dos entorpecentes começa com o uso recreativo e consciente da droga,
passa pela dependência e termina com a morte. Assim, o uso esporádico é o
início da jornada, a travessia da barreira moral que impede a maioria das
pessoas de cometer atos indevidos. A dependência é o meio do caminho, é o
instante de desconexão do mundo real, da família, da sociedade, dos valores
religiosos e espirituais. É a preparação para a morte, que é o fim da caminhada
do indivíduo imprudente.
E se a dependência química ou a morte chega para alguém, esse problema não
é da conta do cidadão comprometido com a evolução do mundo. Afinal, os
inocentes não podem ser responsabilizados pela estreiteza de personalidade de
alguns.
Ainda não há comprovação científica sobre a capacidade da maconha produzir a dependência química ou psicológica. Contudo, quando pessoas se
reúnem com a intenção de consumir essa substância entorpecente é certo que
junto delas haverá outros indivíduos propensos a utilizar outras drogas, como a
cocaína e o crack. Por analogia, é como um bar da periferia, com interior decorado
com prateleiras de garrafas de pinga e paredes revestidas com azulejos estampados.
Num lugar assim, quem pode ser encontrado? Bêbados, desesperados, pessoas sem
rumo, mendigos, etc. E quem é encontrado numa reunião de usuários de
drogas? Apenas maconheiros e maconha?
A considerar que as pessoas possuem liberdade de escolha e sabem desde
cedo o que é correto e o que é errado, imaginar que o usuário e o dependente
químico são pobres coitados beira o ridículo. Eles fizeram suas escolhas de
forma consciente e antecipada e, portanto, as mazelas das drogas devem ser suportadas
unicamente por aqueles que tomaram decisões equivocadas.
O homem que se preza deve ter a capacidade para assumir a responsabilidade
por seus atos e perceber que aquela barreira moral (que separa o certo e o
errado) foi rompida por uma simples, única e egoísta decisão pessoal. Aquele
que decide usar o entorpecente o faz ciente dos riscos e da possibilidade de
ser tornar um dependente químico ou morrer repentina ou lentamente, apesar do
apelo familiar, do apelo dos homens sérios, da parte honesta do Estado, da parte
livre da imprensa e do resto do mundo. Ele também conhece o prejuízo que causará
aos seus entes queridos e a si próprio. Sabe também que seu ato representa o
incremento nos níveis de violência contra toda a sociedade. Sabe que o dinheiro
utilizado para saciar um desejo tolo servirá para armar criminosos que irão
roubar, sequestrar e matar pessoas corretas. Pessoas que não serão protegidas pelos
ativistas dos direitos humanos nem pelo próprio Estado. Portanto, as consequências
do uso recreativo do entorpecente ou da dependência química não deveria recair
sobre os ombros dos cidadãos que mantém o Estado e o progresso do país à
custa do suor do trabalho diário.
Assim, também é inadmissível que a maioria da sociedade seja subjugada
pela violência acessória ao tráfico de drogas (furtos, roubos, agressões
físicas, sequestros relâmpagos, latrocínios, etc.) apenas porque alguns indivíduos
desejam dar vazão a um desejo egoísta e idiota. Afinal, é o usuário/dependente
que fomenta o tráfico ilícito de entorpecentes, pois onde há procura, há
oferta. O dependente químico é um caso de saúde pública, mas o usuário recreativo
é caso de polícia. E todos eles são casos de falta de vergonha. Se querem
emoção, opções não faltam: mergulho autônomo, paraquedismo, montanhismo,
ciclismo, surf, esportes convencionais, artes marciais, tiro prático, paintball, airsoft,
música, sexo, chocolate, pizza, jardinagem, jogos de computador, cinema, trabalho
policial militar, quebra-cabeças de 5000 peças, etc.
Serve para as armas de fogo e o
direito de autodefesa?
“Os ex-ministros argumentam que a
política de repressão não reduziu os índices de violência ou a quantidade de
usuários. Para eles, é preciso mudar o eixo da questão, tratando o usuário, não
do ponto de vista da segurança, mas da saúde pública. Miram-se no exemplo de
países como Portugal, em que a prisão de infratores foi substituída por oferta
de tratamento médico. Assim, os investimentos e esforços policiais focariam
apenas no combate aos traficantes. Mais do que isso, eles afirmam que não se
pode tolher o direito individual. Da mesma forma que beber ou fumar são
escolhas pessoais, a despeito dos malefícios à saúde ou à sociedade, injetar
heroína ou cheirar cocaína também são. A rigor, defende o atual xxxxxxxxxx Xxxxx Xxxxx (XX), quem consome droga na
intimidade de seu lar não faz mal a ninguém.” (ISTO É, 2013).
Quanto ao caso português, a Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas
publicou um artigo de Reinaldo Azevedo3, onde ele afirmou o seguinte:
"O país descriminou o uso de
drogas, mas não o tráfico. E se passou a espalhar a mentira. Já desmoralizei
essa patacoada. Com a descriminação, houve um aumento de 53,8% no número de
pessoas que experimentaram drogas ao menos uma vez: de 7,8% para 12%. O tráfico
aumentou, cresceu a taxa de homicídios, e o número de mortes relacionadas a
drogas aumentou 40%." (UNIAD, 2013).
Sete ex-ministros da Justiça afirmaram que a política de repressão não
diminuiu os níveis de violência. Pelo menos nisso há consenso, afinal o Brasil
não possui uma política duradoura e consistente de segurança pública. Afirmaram também que não houve redução na quantidade de usuários; o
que é óbvio, pois o tratamento dispensado ao usuário recreativo é geralmente leniente.
Como diminuir o número de usuários recreativos, se os valores familiares e a
educação formal (no ensino fundamental, no médio e, principalmente, no
superior) estão comprometidas com personalidades e comportamentos frouxos. Um
exemplo típico foi o episódio da invasão da reitoria da Universidade de São
Paulo (USP) por “alunos” favoráveis ao consumo de drogas.
Além disso, como diminuir os níveis de violência quando há um exagero na
tolerância ao uso do entorpecente. De modo hipócrita, demonizam motoristas
alcoolizados que provocam acidentes de trânsito, mas divulgam e participam de
passeatas pelas cidades para garantir a legalidade para fumar maconha e crack
em praças públicas, cheirar cocaína e lança-perfume no carnaval, tomar
anfetaminas em festas, etc.
Outro absurdo é a afirmação de que “não se pode tolher o direito
individual. Da mesma forma que beber ou fumar são escolhas pessoais, a despeito
dos malefícios à saúde ou à sociedade, injetar heroína ou cheirar cocaína
também são. A rigor, quem consome droga na intimidade de seu lar não faz mal a
ninguém.” Como assim, não se pode tolher o direito individual?! E o direito à
legítima defesa, à aquisição e ao porte de armas de fogo?! Esse direito não vem
sendo negado há anos?! A frase poderia ser: “não se pode tolher o direito
individual à legítima defesa. A rigor, quem compra ou porta arma de fogo legalizada
na intimidade de seu lar não faz mal a ninguém.”
O texto assinado pelos ex-minitros considera “que o Brasil é um Estado
constitucional fundado na dignidade humana e na pluralidade política, e que
cada cidadão tem liberdade para construir seu próprio modo de vida desde que
respeite o mesmo espaço dos demais, não é legítima a criminalização de
comportamentos praticados dentro da esfera de intimidade do indivíduo, que não
prejudique terceiros.” Ex-ministros da justiça da sétima economia mundial e
notórias personalidades nacionais estão mais preocupadas com a dignidade humana
dos maconheiros do que com o resto da população trabalhadora e ordeira. E quanto
à dignidade humana das vítimas do crime e da violência? A dignidade dos alunos
do ensino público? Dos pacientes da saúde pública? E a dignidade do cidadão
trabalhador? A dignidade das crianças inocentes? A dignidade do desempregado e
do assalariado? A dignidade dos policiais que arriscam a vida diariamente para
garantir o sossego social, enquanto são massacrados por criminosos e por uma estrutura
policial interna falida e elitista?
Como alguém que usa drogas, que mantém contato com
traficantes nas bocas de fumo (ou biqueiras) na calada da noite, que financia o
tráfico de drogas, o tráfico de armas, os roubos, os furtos e outros crimes
periféricos não faz mal a ninguém? Ora, para que não houvesse prejuízo, tanto o
consumo quanto o comércio deveriam ser legalizados. Ainda assim haveria
controvérsia, pois o cigarro e as bebidas alcoólicas são legalizadas e seu uso
irresponsável tem trazido enormes prejuízos às pessoas.
“A reforma desejada pelos projetos
em tramitação no Congresso, inclusive, assume seu caráter contraditório, pois
permite o uso das drogas, mas proíbe a venda. Como liberar a demanda
restringindo a oferta? Parece ingênuo, sob essa ótica, acreditar que a medida
liquidaria com a produção e a distribuição das drogas – também relacionadas ao
tráfico de armas e à corrupção policial. ‘Esses ex-ministros se omitiram
criminosamente quando ocuparam o cargo e não investiram em programas e
tratamentos para dependentes’, diz Xxxxxxxxxxx.” (ISTO É, 2013).
O juiz Xxxx Xxxxxxx Xxxxxxx xx Xxxxxxxx, da Xª vara do Distrito Federal, se baseia em estatísticas para discordar
dos ex-ministros. Diz que apenas 5% da população é usuária de drogas, segundo a
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas; e 76% dos brasileiros apoiam a
proibição ao consumo, de acordo com uma pesquisa do Datafolha. ‘Governo e
entidades têm se mobilizado para assegurar a prevalência do interesse de uma
inexpressiva minoria em detrimento do bem-estar da grande maioria’, afirma Oliveira.”
(ISTO É, 2013).
O que diz a inteligência
internacional4
"26 de junho de 2012 - Enfrentar o crime
organizado transnacional e as drogas ilícitas deve ser parte integral da agenda
de desenvolvimento, disse hoje, o diretor executivo do Escritório das Nações
Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC), Yury Fedotov, à Assembleia Geral das
Nações Unidas. Durante um debate temático especial sobre drogas e crime como
ameaças ao desenvolvimento, Fedotov disse que com o prazo de 2015 se
aproximando para fazer um balanço do progresso global para atingir os Objetivos
de Desenvolvimento do Milênio, existe um reconhecimento cada vez maior de que o
crime organizado e as drogas ilícitas impedem a consecução dessas metas.
As drogas ilícitas alimentam o crime e a
insegurança, ao mesmo tempo em que minam os direitos humanos e representam sérios
riscos à saúde: "A heroína, a cocaína e outras drogas continuam matando
cerca de 200.000 pessoas por ano, devastando famílias, levando à miséria
milhares de pessoas, bem como gerando insegurança e a disseminação do
HIV", disse Fedotov, ao lançar o Relatório Mundial sobre Drogas de 2012 na
Assembleia Geral, em Nova Iorque." (UNODC, 2012).
Pensamento nacional1
"Quando aplicamos uma pena
criminal ao usuário e o levamos à prisão, ele acaba se transformando em
traficante."
"A pior coisa que pode
acontecer a um usuário, condenado criminalmente, é o estigma que ele sofrerá
para o resta da vida. A lei em vigor não reduz o uso da drogas, pelo
contrário."
"Não podemos dar tratamento
penal a um crime cuja vítima seria o próprio usuário. É preciso, sim, orientar
quanto aos males do consumo de substâncias ilícitas."
"O Brasil está suportando há
décadas uma política que não produz os resultados necessários. Apoio a mudança
do centro de gravidade do problemas, tirando-o da polícia e colocando-o na
saúde."
"A punição dos usuários
desvia a atenção essencial: toda energia policial deve ser contra o tráfico.
Quem fuma maconha, a rigor, não incomoda ninguém."
Fonte 1: Revista
Isto É, 2013.
Fonte 2: UN. Disponível em http://www.un.org/ga/20special/presskit/themes/altdev-6.htmFonte 3: UNIAD. Disponível em http://www.uniad.org.br/desenvolvimento/index.php/blogs/dependencia-quimica/18422-relatorio-preliminar-de-orgao-do-ministerio-da-justica-diz-que-dilma-aceita-debater-a-descriminacao-das-drogas-e-mesmo-ela-avisou-isso-aos-eleitores-em-2010-vai-avisar-em-2014
Fonte 4: UNODC. Disponível em http://www.unodc.org/lpo-brazil/pt/frontpage/2012/06/26-press-release-WDR-2012.html