sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Como assim...ficou sem munição?!

Provavelmente você já deve ter ouvido algum instrutor de tiro afirmar que se o policial não é capaz de resolver um conflito com cinco ou seis disparos, então ele não o resolverá com 10. Isso até poderia fazer algum sentido no período em que os revólveres dominavam o cenário das armas curtas e os policiais possuíam apenas seis cartuchos no tambor. Desse modo, resolver o confronto com a quantidade de munição disponível era uma necessidade urgente.

Entretanto, isso não significa que os policiais daquela época eram mais eficazes que os policiais da era da pistola. Evidente que o contrário não pode ser afirmado também! Cada tiro conta, é verdade! E o sonho de todo policial é sair ileso de um conflito armado, com o mínimo de disparos e no menor tempo possível. Ou não?! Vou reformular: "E o sonho de todo policial é sair ileso de um conflito armado, mesmo com o máximo de disparos e no menor tempo possível." Então, se o policial atirou muito ou pouco isso não faz diferença, pois o que conta é o resultado da reação. Afinal, quanto mais rápido ele terminar o combate, menos tempo ficará vulnerável às ações do agressor.

Mas, e se você não resolver o confronto com cinco disparos? Quão reconfortante seria saber que você ainda possui mais 10 cartuchos prontos para impactar o agressor (ou os agressores)? Que tal outro carregador com mais 15, 17 ou 19 cartuchos? Considerando que você vai errar de qualquer modo, não é melhor se precaver? Não é melhor terminar um confronto sabendo que ainda resta uma ou duas recargas na cintura?

O projeto da pistola considera, intuitivamente, a grande capacidade do carregador da arma como um remédio para a falta de habilidade do atirador em acertar a maioria dos tiros. Essa é a grande vantagem da pistola sobre o revólver. Um disparo de revólver deve ser duas ou três vezes mais certeiro que um simples tiro de pistola. Não me refiro ao tema da incapacitação imediata e as historinhas sobre Stopping Power. Com um revólver, o atirador tem a obrigação de ser mais eficaz porque ele tem menos munição disponível.

Algumas pessoas até consideram as pistolas de 10 e 12 cartuchos como sendo armas de pequena capacidade ou armas do tipo back-up.

Isso lembra um texto que diz o seguinte:

"A primeira e mais importante regra num tiroteio é esta: tenha uma arma. Se você não tem uma arma, não se envolva num tiroteio. Isso é considerado uma grave violação da boa educação num confronto armado. Essa regra é tão importante que se sobrepõe a todas as outras regras.

Qual é a melhor arma? A melhor munição? Qual a melhor técnica? Quem se importa!? Se você não possuir uma arma ao seu alcance imediato quando o tiroteio começar, o que importa tudo isso?

Você pode ser o sujeito mais rápido do Oeste, com um arma customizada de R$ 6.000,00, carregada com uma munição de ponta oca nuclear + P. E daí!? Se sua arma está em casa e um conflito armado começa quando você está na rua, você vai perder. Se sua arma está no porta-luvas, e um tiroteio surge enquanto você abastece seu carro, você vai perder. Tiroteios começam sem aviso algum, e acontecem muito rápido.

A segunda regra num tiroteio é esta: traga munição! Muita! Se vale a pena atirar, vale a pena atirar duas vezes. Munição é barata, mas a vida é muito cara!"

E isso também me faz lembrar uma notícia publicada no site da FENAPEF em 28/03/2012, sobre um tiroteio envolvendo dois policiais à paisana.

"A polícia emitiu uma nota afirmando que o agente X não foi quem atirou primeiro na troca de tiros que ocorreu na noite da última segunda-feira (26), em Cuiabá.

Segundo a nota, o indivíduo Y teria perseguido o agente X e o fato teria culminado no tiroteio.

O agente X disse que o início do incidente ocorreu no cruzamento de duas avenidas.

Ele disse que o indivíduo Y estava em uma caminhonete e teria atravessado o sinal vermelho, o que motivou o agente X a buzinar.

O agente X contou, segundo a nota, que em determinado ponto, o indivíduo Y reduziu a velocidade e deu passagem para ele.

A partir de então, o indivíduo Y passou a perseguir o veículo do agente X, aproximando com hostilidade a caminhonete que dirigia, buzinando e dando “sinais de luz”.

A atitude do indivíduo Y teria gerado preocupação no agente X, por causa das funções que desempenha na polícia.

Por essa razão, ele resolveu parar o carro em frente à polícia para receber apoio em eventual ocorrência, pois desconfiou da conduta do indivíduo Y e não sabia até onde ele iria persegui-lo, ou que atitude poderia tomar à medida que diminuísse o tráfego de veículos na avenida.

O agente X, então, disse ter descido de seu veículo em frente à caminhonete dirigida pelo indivíduo Y e se apresentado como policial, fazendo uma abordagem padrão. Ao descer de seu carro, o agente X estaria com sua arma - uma pistola 9mm – empunhada para baixo.

Ainda segundo o agente X, ele manteve a arma apontada para o chão e apresentou-se como policial, quando foi recebido com um tiro.

Após isso, houve troca de tiros até que se esgotassem as munições do indivíduo Y. No total, segundo a nota da polícia, foram disparados sete tiros da pistola do agente X e seis do revólver do indivíduo Y.

Ao cessar a ameaça de tiros da arma do indivíduo Y, o agente X disse que parou de atirar, deixando ainda três munições na pistola."

Depois de disparados o total de 13 tiros, descobriu-se que o indivíduo Y também era policial. "F.O. positivo" para os envolvidos no confronto, pois respeitaram a primeira regra de um confronto armado. Para quem não sabe "F.O." é uma terminologia militar que se refere a qualquer fato observado (positiva ou negativamente). E a segunda regra? Ah! F.O. negativo!

Treze tiros foram disparados e ninguém foi atingido. O confronto só terminou porque a munição do revólver do indivíduo Y acabou e o agente X pode poupar fartos três cartuchos. Dois homens, em trajes civis, num conflito armado a curta distância e incapazes de saber que o adversário era um colega policial, por óbvio. O primeiro disparou seis vezes, enquanto o segundo atirou sete e aguardou três cartuchos. Portanto, ele tinha um carregador com 10 cartuchos de uma pistola Glock 26. Mas o fabricante afirma que a Glock 26 é a opção de back-up selecionada por muitos policiais no mundo. BACK-UP, ARMA RESERVA, SEGUNDA ARMA! Quem porta uma pistola com um carregador de 10 cartuchos está tão preparado quanto alguém que usa um revólver 5 tiros. Basta observar o percentual de aproveitamento dos tiros dos dois policiais: 0%. E a taxa de erros: 100%! Um Agente de Polícia Federal, especialista em planejamento operacional, disse certa vez: "Quem tem um, não tem nada! Quem tem dois, tem um!" Ora, siga essa lógica e você saberá a quantidade mínima de carregadores de pistola que deve portar sempre (quem tem três, tem dois).

Parte do trabalho policial é estar pronto para o evento crítico. Com um revólver ou uma pistola com apenas um carregador, o policial está pronto apenas para o início do confronto e com grande chance de perder a vida no meio ou no final.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Conhecendo mais sobre o livro Autodefesa



1. Da onde surgiu a ideia de criar essa história? O que te inspirou para escrever o seu primeiro livro ? 

O livro Autodefesa é a primeira parte de um projeto literário orientado para policiais que foi iniciado em 2002, após a conclusão do Curso de Instrutor de Tiro da Polícia Federal. Em razão da extensão do tema, esse projeto foi dividido em quatro elementos: Autodefesa; Sobrevivência Policial; Estresse e o Confronto Armado; e Armamento e Técnicas de Tiro.


2. Como foi escrever um livro? Por que começou a escrever? 

Escrever o livro Autodefesa foi uma das atividades mais motivadora e desafiadora que já suportei. Envolveu muito estudo e, principalmente, um enorme desejo de alertar os bons brasileiros sobre as possibilidades de sucesso em situações de conflito com criminosos. Foi um desenlace sobre a única dica policial que ainda persiste na sociedade: a ideia de que nunca se deve reagir. O livro é uma demonstração de que existem opções de resposta quando tudo parece perdido. O livro começou a ser escrito quando percebi que muitos policiais federais eram vitimados antes mesmo de serem capazes de utilizarem suas armas de fogo. Portanto, não era uma questão de técnicas de tiro ou artes marciais, mas de compreensão sobre as dinâmicas do crime, de prevenção, treinamento mental e opções de comportamento antes e durante um crime.


3. O livro é baseado em suas experiências ou de alguém que você conhece? 

Sim. Existem experiências pessoais, de pessoas da família, de policiais (civis, militares e federais) e outros brasileiros que foram bem sucedidos ou que não tiveram tanta sorte. Os nomes foram alterados visando preservar a identificação dessas pessoas.


4. Como surgiu o título? 

O título surgiu da terminologia inglesa self-defense, que indica a capacidade do indivíduo se defender e resistir à violência por conta própria, sem ter que esperar a polícia.


5. Se você tivesse que fazer tudo de novo, você mudaria alguma coisa em seu livro? 

Certamente. Na verdade, incluiria novos exemplos de pessoas que tomaram uma decisão e se salvaram, apesar dos ferimentos. É o caso, por exemplo, das duas tentativas de assalto contra o ator e comediante Castrinho e sua esposa em junho de 2013. Foi a ação dessa corajosa mulher que salvou o casal.


6. Existe alguma coisa que você encontra particularmente desafiadora em sua escrita?

A coisa mais desafiadora é convencer as pessoas de que elas estão em perigo e que esse perigo aumenta ou diminui de acordo com suas ações ou omissões. Geralmente, pessoas de bom coração não gostam de falar ou tratar de assunto tão preocupante e aterrorizador. Elas têm o pensamento da "ovelha", uma referência ao artigo "On Sheep, Wolves, and Sheepdogs", do coronel americano Dave Grossman.


7. Qual foi a parte mais difícil de escrever seu livro?

A parte mais difícil foi dividir o tempo entre o trabalho, os estudos, a família e outras demandas pessoais.


8. Quais autores são referência para o seu trabalho?

Apesar da literatura ser inédita no Brasil, tenho grande consideração por aqueles que compreendem a necessidade de estar pronto para a hora da verdade: Mestre Kobi Lichtenstein (Kravmagá), Deputado Federal Sérgio Olimpio (um dos autores do livro Reaja! Prepare-se para o confronto), Massad Ayoob (ex-policial e escritor americano), policiais e estudiosos que colaboram com o FBI Law Enforcement Bulletin, dentre outros.


9. No que você está trabalhando agora? Pode nos contar qual sua inspiração para o próximo livro?

Agora estou trabalhando no segundo elemento do projeto inicial, ou seja, a Sobrevivência Policial, que espero publicar pelo Clube de Autores em 2018. Trata de um estudo estatístico e comportamental que tem o objetivo de salvaguardar a vida dos policiais brasileiros e servir de guia para uma mudança de comportamento policial e do treinamento oferecido pelas academias de polícia.


10. Que livros mais influenciaram a sua vida?

Nenhum livro chegou a influenciar minha vida, mas a leitura de centenas de artigos escritos por policiais e pesquisadores da área que abriram os horizontes da minha experiência profissional e como autor do livro Autodefesa. Infelizmente, todos os artigos são estrangeiros, o que demonstra como estamos atrasados na produção de dados e conhecimento policial. Além disso, foi o convívio e o aprendizado que tive com magníficos Agentes da Polícia Federal, Policiais Militares e Policiais Civis durante esses 18 anos de atividade policial.


11. Que livro você está lendo agora?

Agora estou estudando, lendo, relendo, escrevendo, reescrevendo, pesquisando para o segundo livro: Sobrevivência Policial.


12. Quem é o seu autor favorito e o que é que realmente impressiona sobre o seu trabalho?

Meu autor predileto é o FBI (Federal Bureau of Investigation), seus relatórios, pesquisas, artigos e boletins. O trabalho desenvolvido pelo FBI é um manancial de conhecimento sobre a atividade policial.


13. Você tem algum conselho para os outros escritores? 

Nunca desista! Mesmo quando alguém próximo disser o contrário.


14. Você tem alguma coisa específica que queira dizer a seus leitores

Leiam o livro e fiquem a salvo.

Entrevista em dezembro de 2014.