sábado, 29 de dezembro de 2018

E o sistema Safe Action?

O sistema Safe Action da Glock oferece níveis de confiança capazes de excluir uma 2° trava de segurança externa (a 1° e única trava externa está no gatilho). A arma pode ser portada em segurança com um cartucho na câmara. Se o policial precisar usá-la, basta sacar, apontar e pressionar o gatilho. Com o colocação correta do dedo no gatilho, a 1° trava é desarmada naturalmente. Não é preciso "parar" pra liberar uma trava externa no ferrolho.

Numa atividade aonde cada segundo conta e as habilidades motoras se deterioram com rapidez, exigir tal destreza é criar outro grau de risco pro policial. Logo após a decisão de atirar, ele precisa pressionar a trava externa do ferrolho durante o saque e a apresentação, no máximo, sem que isso PREJUDIQUE A EMPUNHADURA.

Se ele terminar a apresentação sem ter destravado a arma, o tempo até o disparo irá aumentar. Se ele esquecer da trava, não vai conseguir atirar, obviamente. O caos vai se instalar e o resultado será previsível.

Contudo, parece mais simples alterar um projeto consagrado do que investir no APERFEIÇOAMENTO CONSTANTE do policial.

Travas externas podem ser uma questão de preferência pessoal, mas servem mais pra iniciantes com pouco controle das regras de segurança e do manejo da arma.

Se o objetivo é evitar disparos acidentais, basta seguir 3 regras: manter o dedo fora do gatilho, se não for atirar; não apontar a arma pra algo que não queira destruir e manter o treinamento e a competência no uso da arma sempre em dia. "Ah...mas essa foi uma requisição do Exercício Americano!" Mas os militares usam fuzis com arma primária. E eles não perdem 350 integrantes todos os anos como nós!

Vale lembrar que a única trava do velho revólver sempre foi o dedo indicador.

Você foi ferido. E agora?



Durante o curso de Multiplicadores em Sobrevivência Policial da academia de polícia, ouvi o relato de um colega que se salvou ao improvisar um torniquete com a camisa. A artéria tibial posterior ou a artéria poplítea (não me lembro) foi quase rompida após um disparo acidental com um revólver Snub .38. Não havia tempo para dirigir até o hospital e os curiosos não ajudaram. Coube apenas ao colega a inteira responsabilidade para continuar vivo.

No curso, os alunos vivenciaram cenários nos quais o pronto socorrismo era uma necessidade. Na minha vez, o professor perguntou: "Humberto, você foi ferido na coxa. O que vai fazer?" Eu respondi: "Não posso pedir socorro porque meu telefone foi roubado; vou pressionar o ferimento com um lenço que tenho no bolso e pedir ajuda". Como instrutor de tiro, muitas vezes analisamos nossas respostas com a arma na mão e a mentalidade de um atirador. Mas e quando o baleado é você?

No nosso próximo treino de tiro, faremos um de PSAP (pronto socorrismo na atividade policial), com um colega e professor da área recém transferido para nossa unidade.

Isso é de extrema importância, pois me senti vulnerável ao perceber que minhas respostas para o problema eram limitadas. Não desejo que meus colegas tenham a mesma sensação.

Aprendi também com um grande amigo e IAT, a utilizar o canivete para cortar o cinto e improvisar.

Os segredos para o porte de uma arma

Neste post eu compartilho com você alguns "segredos" do sucesso para quem porta uma arma de fogo com responsabilidade:

1) Passe despercebido. Veja sem ser visto. Esse é o princípio da camuflagem e da surpresa.

2) Melhore seu comportamento. Armado, você não pode ceder à vaidade. Quem porta uma arma trabalha noutro nível de autodefesa ou sobrevivência porque as consequências do uso indevido da arma são catastróficas.

3) Exercite a paciência. O descontrole emocional transforma um sobrevivente num assassino frio. E pode ser que a vítima seja você.

4) Pergunte se a sua presença em locais e horários inapropriados é realmente necessária. Um cidadão que porta uma arma de fogo equivale a uma pessoa bem casada e que preza a família. Esse cidadão seleciona parentes, amigos, colegas, festas, lugares, etc. Ele pensa na sua segurança e no amor que sente pela família. Isso é outra melhora no comportamento pessoal. E você sabe o que quero dizer com "lugares inapropriados". 

5) Mantenha distância. Se você pode socar seu oponente, ele também pode golpeá-lo. Se você está próximo do agressor, sua arma também está.

6) Nunca subestime alguém. Ele pode ter uma arma também. Ele pode estar desarmado, mas possuir aquilo que você acha tem: UMA MENTE COMBATIVA E IMPLACÁVEL.

Sua arma de fogo, seu Karatê, seu Jiu-Jitsu, seu Kravmaga, seu Kombato são para a sua SOBREVIVÊNCIA.

Lembre-se que a "melhor defesa num confronto é não estar presente." (Senhor Myiagi). "Todo mundo tem um plano até levar um soco na boca." (Mike Tyson).

Consertando as coisas!




Numa das minhas considerações sobre o posicionamento do coldre interno para o porte frontal (apêndice), uma imagem foi usada para ilustrar o posicionamento ruim.

Então um amigo pediu que a posição mais apropriada fosse esclarecida. Por isso esta postagem vai com a demonstração.

As imagens explicam, por si mesmas, a razão para existir algum espaço entre a linha da cintura da calça e a empunhadura da arma. O próprio coldre foi desenhado para permitir essa distância.

Mas essa posição não deixa a arma mais perceptível? Não é preferível esconder a arma ao máximo?

Para a maioria das pessoas, a altura da sua arma faz pouca diferença, pois elas vivem num estado de desatenção quase contínuo. Por isso elas são incapazes de perceber que você está armado.

Já os criminosos só sabem que alguém está armado quando fazem uma busca pessoal. Numa situação assim, a altura da sua arma, mais uma vez, não faz diferença sob o aspecto da visualização. Entretanto, faz toda a diferença na sua capacidade de sacar rápido e corretamente, inclusive se for necessário usar apenas a mão forte.

Portanto, você precisa manter sua arma discreta até o ponto que isso não comprometa sua empunhadura e seu saque. Como o primeiro compromisso de todo policial ou cidadão armado é com o estado de alerta, é preferível estar em melhor condição para agir em vez de reagir com dificuldade.

Empunhadura ruim, reação ruim

Um aluno perguntou qual fundamento do tiro era o mais importante. Antes que o instrutor respondesse, outro aluno disse: "Todos são importantes!" Você sabe que a corrente sempre arrebenta no elo mais fraco. Como cada fundamento do tiro representa um elo dessa corrente, a falha em qualquer um deles faz todo o resto desmoronar. O resultado é um tiro inaceitável, conforme o objetivo do disparo.

Algumas escolas consideram os seguintes fundamentos: base, empunhadura, visada, respiração e acionamento do gatilho.

Outros instrutores e academias incluem o alinhamento do quadril e dos pés, a apresentação da arma, a flexão dos braços e o follow through (com o reset do gatilho). Isso parece muito, eu sei!  E com tanta coisa podendo dar errado, o que fazer?

CONSCIÊNCIA do que você precisa fazer para um tiro aceitável; PERSISTÊNCIA para fazer o que é necessário e CONSISTÊNCIA para fazer o correto sempre.

Então a imagem que ilustra esta postagem representa o elo fraco da corrente. Uma empunhadura deficiente, no momento da necessidade, tem o potencial para produzir um disparo ruim ou um erro completo no alvo.

É necessário entender que a ocultação total de uma arma de fogo não é possível, a menos que você abra mão da acessibilidade e da rapidez no saque. Se o usuário esconde uma arma a ponto de não conseguir usá-la adequadamente, então qual o seu propósito?

Quando a arma sai do coldre, a primeira "pegada" (feita com a mão forte) tem que ser perfeita. E pra isso, todos os dedos e a palma da mão precisam envolver a empunhadura da arma.

Quando comprar um coldre, verifique se ele permite que você empunhe sua arma com perfeição e rapidez. Se seu coldre atual não permite isso, troque-o antes que tudo desmorone no momento mais importante da sua vida.

Dicas de treino

Em 2014, recebi um email que pedia dicas de treino. Respondi assim: "Há muita discussão sobre a efetividade do tiro prático na atividade policial, pois existem regras no tiro policial que não se aplicam ao IPSC como, por exemplo, o uso de cobertura, o tiro com uma mão, o saque dissimulado e o alvo a curtíssima distância. Contudo, alguns princípios são sempre válidos no esporte e no tiro instintivo policial. E isso possui relação com os fundamentos do tiro, ou seja, a excelência no básico. Não sou atirador de IPSC, apesar de eventualmente participar de uma ou duas provas por ano como método de treino.

Você já percebeu que o treino de uma hora de duração está incomodando. Portanto, sugiro que divida o treino de 60min em 4 sessões de 15min, por exemplo. Faça intervalos entre as sessões ou divida as sessões de acordo com o período do dia (manhã, tarde, anoitecer e noite). Varie as distâncias do alvo. Utilize as sessões para cada tipo de exercício (saque a partir do coldre; saque com a mão forte e tiro com a mão forte; saque com a mão forte com transferência da arma para a mão de apoio e tiro; recarga rápida; recarga rápida em deslocamento para frente, para trás e de um lado para o outro; empunhadura da arma a partir da mesa; inserção do carregador e acionamento do ferrolho quando pegar a arma sobre a mesa, etc.). Imagine o processo para o tiro desde o posicionamento do corpo até a visada final. Divida esse processo em segmentos. Treine cada segmento em cada sessão de 15min. Treine lentamente e com os olhos fechados; aumente a velocidade dos movimentos, repita com os olhos abertos. Visualize mentalmente todo o movimento: isso pode ser feito enquanto você está deitado e se preparando para dormir.

Treine o básico com excelência (base, saque, empunhadura, acionamento do gatilho, visada). Aprendi que tentar ser rápido demais normalmente compromete a minha precisão. Assim, quem dita o quão rápido eu posso ser é minha capacidade de ser eficaz. Então, aprendi também que em alvos muito próximos eu simplesmente aponto e disparo; em alvos próximos, faço visada rápida; em alvos pequenos ou distantes, tento caprichar e esqueço o timer.

Espero ter ajudado."

Pochetes e armas (parte 2)

Mesmo em missão na fronteira, me matriculei numa academia de musculação. E ontem vi um policial carregando uma pochete pra lá e pra cá enquanto usava os aparelhos. Ele transportava a pochete pela alça, como uma sacola de supermercado. Dentro dela havia um revólver.

Então listo cinco razões para você não utilizar esse tipo de material:

1) Se você for assaltado, a primeira coisa que o ladrão vai pegar é a sua pochete. Se ele tiver perspicácia, vai perceber o peso e a rigidez da bolsa. Ele pode abri-la ou não. Se não abrir, você vai ficar sem a sua arma. Se abrir, ele verá sua arma. E o que ele vai fazer em seguida só depende dele ou do comparsa. De novo, você vai ficar sem a sua arma e talvez sem sua vida.

2) Se apenas levantar a camisa e sacar uma arma já pode apresentar dificuldade, imagine encontrar o fecho da pochete, agarrá-lo com precisão, abrir quase todo o zíper usando os dedos indicador e polegar da mão reativa e empunhar a arma.

3) Como o tamanho da pochete tem que ser compatível com a sua arma, você pode ser tentado a transportar uma arma pequena sem carregador reserva ou speed loader. Além disso, pode ser que você queira guardar outras coisas na pochete (carteira funcional, chave do carro, etc). Ou então você vai carregar uma "mala" pendurada na cintura.

4) A presença da pochete pode indicar que você tem uma arma ou é policial. E isso vai transformar você num alvo preferencial se os bandidos quiserem ganhar uma arma.

5) Por último, mas não menos importante, as pochetes estão FORA de moda.

Pochetes e armas (parte 1)

Pochete saque rápido. Quando entrei para a polícia, conheci 4 produtos: o coldre panqueca, o Small of Back, o de tornozelo e a famosa pochete saque rápido (eram os anos 90). O vendedor demonstrou, com perícia, como a pochete funcionava bem. Ele colocava um revólver 2'' dentro dela e num piscar de olhos a arma estava na mão dele. Então comprei duas pochetes, uma cinza e outra preta, afinal essas cores combinavam com tudo.

Apesar de ter um revólver 2'', eu usava uma Glock 19, que não coube na pochete. Dizem que a inteligência tem limite, mas a burrice é infinita. Aplicando esse ditado, encontrei um modo de encaixar a pistola dentro da pochete. Como? Colocando a arma inclinada de cabeça para baixo.

Conhecendo a deficiência da forma como eu "transportava" minha arma, eventualmente treinava o saque rápido com a pochete. Na maioria das vezes o saque dava certo e isso me deixava tranquilo (a burrice continuava ilimitada). Dois anos depois fui transferido para Belo Horizonte e integrei a unidade de repressão a entorpecentes. A presilha plástica da pochete cinza já havia quebrado, mas eu colei com superbond (o universo é infinito). De qualquer jeito, eu ainda tinha a pochete preta. E foi com ela que participei de uma operação policial.

Equipe pronta; porta arrombada; policiais entrando...e a porcaria da pochete não abria. Pra não atrapalhar a entrada dos colegas que estavam atrás, sai da formação para sanar o problema enquanto pensava "ABRE, sua fil#@ pu*&!!!!" Mas ela não me ouviu e só colaborou quando a parte emocionante da operação já havia acabado.

Quando finalmente entrei na casa dos traficantes, eles já estavam algemados. Novinho...fui incumbido de preencher o auto de arrecadação. Perdi a parte da adrenalina e passei o resto da operação preenchendo formulários.

No dia seguinte, quando voltei pra unidade, abri a lixeira e joguei as duas pochetes lá dentro! Um colega viu a cena e disse: "Você tá doido?! Me dá isso pra eu guardar meu revólver!" Oh Deus! Salve essa alma penada também!

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

Porta algemas (parte 2)

Sobre os posicionamentos do porta algemas no cinto policial. O tema surgiu de uma imagem de porta algemas (c/ retenção por presilha plástica) localizado na parte de trás do cinto.

O porta algemas (abreviarei como PA) pode ficar próximo ao coldre. Durante a abordagem, um policial faz a segurança e o outro coldreia a arma e c/ a mesma mão saca as algemas e as utiliza. Tanto faz se o PA está na frente ou logo atrás do coldre. Tudo é feito com a mão dominante.

O princípio é o uso das algemas c/ a arma no coldre. Mesmo que os policiais estejam lutando p/ controlar um agressor que resiste, a arma tem que estar no coldre, já que um disparo pode acertar os envolvidos ou o abordado pode arrebatar a arma.

O PA também pode estar do lado do porta-carregador (PC), já que o saque das algemas pode ser feito com a mão reativa. O PA pode estar na frente ou atrás do PC.

Nesse caso, o policial tem opções numa distância segura. Ele pode sacar as algemas e passá-las LOGO (c/ a mão reativa) p/ um colega que não tem o equipamento, enquanto empunha sua arma c/ mão dominante. Ele pode sacar as algemas enquanto coldreia ou pode coldrear a arma primeiro p/ em seguida retirar as algemas do PA. Em todos os casos alguém faz a segurança c/ a arma em punho.

O PA pode ainda estar na parte de atrás do cinto, DESDE QUE NÃO TENHA RETENÇÕES como a presilha macho e fêmea (explicado no post passado). Se alguma retenção estiver presente no PA, ela DEVE permitir uma abertura fácil e rápida. Mais uma vez, as retenções por pressão e velcro podem ser usadas.

Importante: não se aproxime do abordado c/ a arma em punho. Não mantenha as duas mãos ocupadas com as algemas e a arma por muito tempo.

sábado, 24 de novembro de 2018

Quebrando regras num piscar de olhos

 

Quatro regras de segurança quebradas num piscar de olhos:
  1. Considere toda arma de fogo sempre carregada (pronta para o uso).
  2. Nunca aponte uma arma para algo que não pretenda destruir (o que inclue seu próprio corpo).
  3.  Só toque o gatilho após decidir atirar e engajar o alvo.
  4. Sempre use um coldre de qualidade (isso impede que você coloque o dedo no gatilho ao sacar e coldrear; impede que sua arma "desapareça" dentro da calça, dificultando o saque; protege o armamento do sujeira e do suor). Se você porta sua arma nas costas, existe um tipo de coldre específico para isso. Ele se chama S.O.B. ou Small of Back. Nele, as retenções por presilha, botão e alças são proibidas.
No porte nas costas a arma não deve estar com o carregador voltado para baixo (como na imagem que ilustra este post). Nessa posição, para que a empunhadura ocorra corretamente, os dedos indicador, médio, anular e mínimo precisam se espremer entre a arma e as costas do atirador. Isso dificulta e atrasa o saque.

Contudo, com o carregador voltado para cima, apenas o polegar precisa se encaixar entre a arma e as costas, enquanto os outros quatro dedos estão livres para envolver a empunhadura. Tanto é assim que no S.O.B. a base do carregador fica para cima.

No porte S.O.B., se você realmente procura alguma dissimulação, a arma deve estar no meio das costas (na linha da coluna), e não na extremidade (acima da nádega do lado dominante). Com sua arma em segurança, faça um teste.

domingo, 11 de novembro de 2018

Porta algemas (parte 1)

Recentemente vi o anúncio de um porta algema c/ retenção por presilha plástica. O equipamento estava preso ao cinto e posicionado nas costas do operador (altura da coluna vertebral). Neste post, vou tratar das retenções de um porta algemas. No post seguinte, sobre o posicionamento correto.

Existem vários modelos, e a escolha tem relação c/ a preferência pessoal e a padronização do cinto de guarnição.

Cito os de polímero (Fobus), os termoplásticos (Kydex), os de nylon (Blackhawk/Cordura), os trilaminados e de couro (Safariland). As retenções variam:

1) Moldado/pressão - o molde prende a algema por pressão.
2) Botão - uma tampa envolve, fecha e trava a algema por um botão de pressão; o botão pode ser visível ou não.
3) Velcro - substitui o botão.
4) Tira flexivel com botão.

Nesses modelos, uma característica comum: a capacidade para liberar a retenção com só uma mão. O uso da algema se dá, muitas vezes, em situações de conflito aonde o estresse e a urgência estão presentes. Isso significa que as habilidades motoras fina e complexa (que exige a coordenação dos dedos e mãos; e envolve múltiplos componentes) estão em declínio. Por isso o equipamento policial deve favorecer a simplicidade no manuseio.

As retenções por molde, botão e velcro permitem que o policial use todos os dedos de uma vez, da maneira que for viável (uso "bruto"), para pegar a algema.

Isso implica que uma retenção por presilha "macho e fêmea" não funciona, pois exige um tipo de coordenação motora não disponível (os dedos polegar e indicador devem exercer pressão simultânea nos dois lados da presilha). Mas o policial não algema o agressor só depois de controlar a situação?! Nem sempre! Por isso todo equipamento TEM a obrigação de ser funcional nas piores ocorrências.

domingo, 28 de outubro de 2018

Presilha sobre a empunhadura: um convite para o desastre

Um dos fundamentos do tiro é aquilo que chamo de "primeira empunhadura". É aquela que o atirador (com a mão forte/dominante) faz no início do saque.

Como todo fundamento, o procedimento tem que ser exato, pois qualquer inconsistência criará um efeito cascata.

Uma empunhadura ruim pode produzir um saque ruim, impossibilitar algum tipo de visada, provocar alguma pane no armamento e impedir acertos no alvo, mesmo no tiro instintivo. Uma empunhadura ruim pode forçar o atirador a corrigir o erro "no meio do caminho", tomando tempo precioso num momento no qual vencedores e perdedores são definidos em segundos.

E o que esperar quando a mão que faz a primeira em empunhadura prende a trava/tira do coldre?

Essa trava do coldre, em forma de tira, NÃO PODE PASSAR SOBRE A EMPUNHADURA (CABO) da pistola. Ela TEM que passar sobre o ferrolho/cão. Assim a primeira empunhadura estará livre e a arma não ficará retida no coldre (porque a mão não estará prendendo a tira). Tratei disso no vídeo "Seu coldre nas redes sociais".

sexta-feira, 12 de outubro de 2018

Um coldre ruim pode ser o elo fraco da corrente

Os três primeiros foram compilados no livro Sobrevivência Policial - morrer não faz parte do plano (Clube de Autores). O quarto item pode ser visto nesta foto. Ela demonstra o tipo de equipamento que todo policial deve evitar, principalmente porque existem excelentes produtos nacionais (coldres, vestuário, lanternas, sistemas molle, mochilas, calçados). Um coldre ruim pode ser o elo fraco da corrente. Ele pode sacrificar o melhor e mais bem preparado atirador, lutador ou policial.

Coldres de neoprene com presilhas de metal arredondado cedo ou tarde deixam o usuário "na mão". Esse material não pode ter sua eficácia avaliada apenas na hora em que você tira a arma da cintura (com calma e devagar) para guardá-la na gaveta. É preciso saber como o equipamento vai se comportar NA HORA DA VERDADE, quando você precisa de um saque rápido e decisivo.

Presenciei, incontáveis vezes, armas e coldres de neoprene serem sacados juntos durante exercícios de tiro, impedindo que o policial disparasse sua arma.

Nem é preciso dizer que usar um equipamento ruim e uma calça sem cinto é a cereja do bolo desse desastre. A presilha, que já é ruim, não tem um ponto de apoio; um ponto de ancoragem.

Finalmente, com a arma tão inserida na calça, uma empunhadura sólida envolvendo todo o cabo é prejudicada.

Também já usei produtos ruins como a tal pochete de saque rápido (eram os anos 90). Mas durante uma operação de repressão ao narcotráfico, aquilo que parecia maravilhoso não funcionou. Então joguei o lixo no lixo, e aprendi a lição.


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

Pergunta


PERGUNTA: "Agressor menos letal ou agressão letal? Como deveríamos classificar um agressor que entra em luta corporal com um policial e tenta pegar sua arma de fogo ou tonfa? Em nossas instruções tenho classificado como agressão letal." Questão levantada por um leitor e policial militar instrutor.

RESPOSTA: Se o policial for atacado por um agressor que não possui uma arma e assumir que, por essa razão, a agressão é menos letal, ele pode selecionar um nível de força inadequado. Isso pode permitir que o agressor tenha acesso à arma. Numa situação assim, a "classificação" da letalidade ainda pertence e está na mente do agressor, pois pode ser que a agressão termine sem consequência mortal para o policial. Pode ser e pode não ser. Dada a dúvida, o policial deve assumir sempre como uma agressão letal, ou, no mínimo, potencialmente letal (para tonfa, por exemplo). Mas isso ele só vai saber se perder a luta. E como na sequência ele pode perder a vida, então o pior resultado deve sempre ser considerado.

Imagem do livro Sobrevivência Policial enviada pelo colega.

A dor

A DOR é um sinal de alerta para chamar a atenção para um ferimento ou mau funcionamento em alguma parte do corpo. Apesar de desconfortável, a dor, por si só, não é prejudicial ou perigosa.

Numa situação extremamente grave, a dor pode, inclusive, não ser sentida. Entretanto a sobrevivência do policial DEVE TER PRIORIDADE SOBRE SEU ÍMPETO DE CEDER À DOR.

A função biológica da dor é proteger uma parte do corpo lesionada, alertando o indivíduo para que descanse ou evite usar aquela parte do corpo. Em uma situação de sobrevivência, os avisos normais de dor podem ser ignorados, a fim de que sejam atendidas outras necessidades mais importantes. Não são raros os casos de pessoas que lutaram mesmo com a mão fraturada; que fugiram correndo com um tornozelo torcido ou quebrado ou que ignoraram a dor durante períodos de raiva, intensa concentração e esforço determinado. Tanto a concentração quanto o esforço intenso podem, na verdade, parar ou reduzir a sensação de dor.

Assim, o policial deve compreender as questões relacionadas com a dor. E apesar de senti-la, ele deve seguir em frente se pretende continuar vivo. A dor pode ser reduzida pela compreensão de sua natureza e origem; reconhecendo-a como um desconforto a ser tolerado; concentrando-se nas necessidades da ocorrência, tais como: observar, planejar, decidir e agir. Quando as metas pessoais são muito valorizadas, um sobrevivente pode tolerar quase tudo.

O medo e a dor podem ser tolerados se a vontade de seguir em frente for mais forte.
A decisão de que esse é o caminho a ser percorrido abre as portas para o aprimoramento por meio da capacitação qualificada. Quanto mais rusticidade e habilidades o policial possui, maior sua resistência em um evento de risco. É importante ter confiança na capacidade profissional se o policial pretende superar o medo em um conflito.

Trecho do livro Sobrevivência Policial (www.clubedeautores.com.br).



segunda-feira, 13 de agosto de 2018

O fator físico

O policial pode não estar ciente sobre uma antiga lei que exige total comprometimento com a excelência na aptidão física. Em benefício da sobrevivência, ele deve treinar para atingir extraordinário condicionamento físico se não quiser sofrer as consequências dessa lei. É o código das ruas, que diz que a sobrevivência está COM O MAIS FORTE. 

Todos os dias, policiais de todos os lugares do mundo são agredidos com socos, chutes, cotoveladas, mordidas, facadas, ferramentas, porretes, espadas, veículos e, em muitas ocasiões, com suas próprias armas de fogo.

Enquanto um policial se esforça para superar a resistência de um criminoso ou tenta vencer uma luta desesperada pela vida, ele precisa não só de habilidades táticas, mas de cada pedaço de força, flexibilidade, mobilidade e resistência disponível. Esses atributos apenas se desenvolvem com o treinamento constante, pois se deterioram rapidamente quando o policial deixa de praticar.

Todas as instituições policiais brasileiras possuem padrões de condicionamento físico para ingresso na carreira. Contudo esses padrões, para qualquer nível de aptidão, terminam exatamente quando a necessidade urgente de aplicação desses atributos começa.

A tentação para a inatividade física deve ser vigorosamente combatida, já que a defesa contra agressões físicas é parte do trabalho policial. É preciso ter sempre em mente que os futuros adversários dos policiais estão treinando duro para serem capazes de matá-los.

Se o policial está treinando agora, ele NÃO PODE PARAR... NUNCA! É comum policiais serem ridicularizados porque não conseguiram se levantar após efetuarem alguns tiros na posição deitado durante os treinamentos.

Em seguida, vem um padrão que se repete ano após ano. À medida que os policiais bem condicionados envelhecem, tornam-se complacentes e são atingidos por outras prioridades. Então eles começam a intervalar os treinos. O tempo passa, os intervalos ficam cada vez maiores e esses policiais se transformam naqueles que sofrem para sair da posição deitado durante um treinamento de tiro.

Do primeiro até o último dia de trabalho, o policial pode experimentar tiroteios, perseguições a pé e chamados para socorrer colegas em perigo. Ele também irá descobrir que criminosos são incapazes de poupar alguém em respeito à sua idade ou aparência frágil.

O treinamento físico possui um papel fundamental na sobrevivência policial tanto quanto na qualidade de vida de um policial. Recomenda-se que ele corra, levante pesos, alongue-se e lute enquanto viver e PARA VIVER. Isso não vai interromper seu envelhecimento, mas permitirá que continue fazendo o que ama, por mais tempo e melhor. Sua vida depende disso agora e sua qualidade de vida dependerá disso mais tarde.

Trecho introdutório do capítulo Fator Físico, do livro Sobrevivência Policial - morrer não faz parte do plano, 2018, Clube de Autores.


terça-feira, 22 de maio de 2018

Entrevista sobre o livro Sobrevivência Policial


Da onde surgiu a ideia de criar essa história? O que te inspirou para escrever o seu segundo livro?

O livro Sobrevivência Policial é a segunda parte de um projeto literário orientado para policiais que foi iniciado em 2002, após a conclusão do Curso de Instrutor de Tiro da Polícia Federal. Em razão da extensão do tema, esse projeto foi dividido em quatro segmentos: Autodefesa; Sobrevivência Policial; Estresse e o Confronto Armado; e Armamento e Técnicas de Tiro.


Como foi escrever um livro? Por que começou a escrever?

Escrever e finalizar o livro Sobrevivência representou a conclusão de um período de mais de quatro anos de estudos e pesquisas sobre o tema. Representa também o sonho de contribuir para a melhoria no trabalho policial e a salvaguarda dos meus colegas policiais que optaram por essa nobre e árdua carreira.

O livro começou a ser escrito porque, ao longo da nossa história, muitos colegas têm sido assassinados, e nada ou pouca coisa tem sido feita para impedir essas ocorrências. Em média, são mortos 360 policiais brasileiros todos os anos. Portanto, o livro Sobrevivência Policial surgiu do forte desejo de virar esse jogo.


O livro é baseado em suas experiências ou de alguém que você conhece?

O livro intercala as histórias de policiais americanos e brasileiros que perderam o confronto de suas vidas, bem como as narrativas daqueles que sobreviveram. Desse modo, o colega pode avaliar as ocorrências para determinar o que foi feito de errado e o que ele faria se estivesse no lugar dos colegas. Engloba também dois estudos de casos internacionais, o Tiroteio de Miami e o Incidente de Newhall, bem como a análise de dados sobre policiais mortos num período de 20 anos.


Como surgiu o título?

O título surgiu da terminologia inglesa police survival, tema que surgiu nos Estados Unidos por ocasião do Incidente de Newhall, que vitimou quatro patrulheiros numa única ocorrência. É também uma referência ao blog aonde publico artigos de interesse policial desde 2009.


Se você tivesse que fazer tudo de novo, você mudaria alguma coisa em seu livro?

Felizmente, o livro foi lançado pelo Clube de Autores, já incluindo o material que seria divulgado por ocasião da publicação de uma possível segunda edição. O livro é um alerta para a falta de dados, pesquisas e informações confiáveis sobre as mortes de policiais brasileiros, não só em confrontos armados, mas em outros tipos de acidentes.


Existe alguma coisa que você encontra particularmente desafiadora em sua escrita?

O mais desafiador é encontrar material, literatura policial nacional. Existem algumas iniciativas de outros policiais escritores, mas que carecem da devida publicidade e interesse do próprio público (muitas dessas obras foram citadas no livro, até como forma de divulgação).


Qual foi a parte mais difícil de escrever seu livro?

A parte mais difícil foi dividir o tempo entre o trabalho, os estudos, a família e outras demandas pessoais.


Quais autores são referência para o seu trabalho?

Apesar de a literatura ser inédita no Brasil, tenho grande consideração por aqueles que compreendem a necessidade de estar pronto para a hora da verdade, independente do nome ou da nacionalidade. De qualquer forma, é de se louvar o trabalho desenvolvido pelo FBI, pelo NYPD (Departamento de Polícia de Nova Iorque), pelo CHP (Polícia Rodoviária da Califórnia) e outros departamentos de polícia americanos e algumas instituições policiais brasileiras que iniciam algum trabalho na área da sobrevivência policial, contando com o serviço voluntário de seus policiais.


No que você está trabalhando agora? Pode nos contar qual sua inspiração para o próximo livro?

Agora vou iniciar os estudos para o terceiro livro do projeto inicial, ou seja, o Estresse e o Confronto Armado, que espero publicar pelo Clube de Autores. Também tenho investido em equipamentos e aprendizado para melhorar o canal no YouTube, que pretendo utilizar como ferramenta para divulgação de conteúdo policial. E aproveitando a oportunidade, tenho um plano de disponibilizar a palestra Autodefesa como curso online, assim o conhecimento pode alcançar maior número de pessoas e melhorar a segurança delas.


Que livros mais influenciaram a sua vida?

Nenhum livro chegou a influenciar minha vida, mas a leitura de centenas de artigos escritos por policiais e pesquisadores da área que abriram os horizontes da minha experiência profissional e como autor do livro Autodefesa e Sobrevivência Policial. Infelizmente, todos os artigos são estrangeiros, o que demonstra como estamos atrasados na produção de dados e conhecimento policial. Além disso, foi o convívio e o aprendizado que tive com magníficos Agentes da Polícia Federal, Policiais Militares e Policiais Civis durante esses 21 anos de atividade policial.


Que livro você está lendo agora?

Agora estou lendo o livro Soldados – Sobre lutar, matar e morrer.


Quem é o seu autor favorito e o que é que realmente impressiona sobre o seu trabalho?

Meu autor predileto é o FBI (Federal Bureau of Investigation), seus relatórios, pesquisas, artigos e boletins. O trabalho desenvolvido pelo FBI é um manancial de conhecimento sobre a atividade policial. A capacidade de pesquisa do órgão é tão relevante que outras instituições policiais americanas simplesmente tomam nota sobre os resultados, pois consideram que se funciona para o FBI, também funciona para elas.


Você tem algum conselho para os outros escritores?

Nunca desista! Não perca seu tempo com grandes editoras; não perca seu dinheiro com editoras por demanda; publique por conta própria nas plataformas de autopublicação, como o Clube de Autores e a Amazon Brasil.


Você tem alguma coisa específica que queira dizer a seus leitores?

Leiam o livro e fiquem a salvo.