- 4745 cartuchos calibre 9x19mm;
- 1810 cartuchos calibre .40 S&W;
- 78 cartuchos calibre 7,62x51mm.
Em dois meses de investigação, policiais de uma força integrada realizaram
um ótimo trabalho e aprenderam cinco pistolas Glock G17 (9x19mm) com seletor
para rajada, além de milhares de cartuchos de diversos calibres. É quase certo
que uma dessas armas foi utilizada para assassinar um Agente de Segurança
Penitenciária no dia 17/08.
Desde
o início de 2016, a Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro (PMERJ) tem
feito outro excelente trabalho e apreendido vários fuzis. Até o dia 16/09/2016,
o inventário contabilizava o seguinte (mensagem via Whatsapp):
- 70 fuzis AR15/M16 5,56x45mm;
- 48 fuzis AK47 7,62x39mm;
- 33 fuzis FAL 7,62x51mm;
- 16 fuzis com especificações diversas;
- 8 fuzis AR10 7,62x51mm;
- 8 fuzis Ruger Mini-14 5,56x45mm;
- 3 fuzis G3 7,62x51mm;
- 3 fuzis Ak101 5,56x45mm (na mensagem como AK47 5,56);
- 3 fuzis não identificados;
- 1 fuzil MD2 5,56x45mm;
- 1 fuzil SG542 7,62x51mm;
- 1 fuzil SG551 5,56x45mm.
Tudo indica que os policiais têm algo bom
para fazer. E estão fazendo. Entretanto... Entretanto, as notícias mais
recentes informam que a PMERJ (talvez muito a contragosto) está substituindo
seus fuzis por carabinas .40 S&W com o objetivo de reduzir as “balas
perdidas”.
“Nós procuramos, através do XXX, uma arma que se
adequasse a essa realidade e chegamos a essa Carabina CT .40. Obviamente é uma
arma também letal, mas ela tem uma capacidade de parada muito menor do que um
fuzil, ela tem um sistema que evita a rajada, ou seja, o tiro disperso demais.
É uma arma leve, de fabricação brasileira, que já foi aceita em várias polícias
do Brasil e também pela polícia de outros países. Pelo que eu vi aqui, ela está
tendo aceitação dos policiais e também temos uma avaliação técnica de que é uma
proposta interessante. A gente pretende com isso fazer a parte da polícia que é
torna-la cada vez menos letal.”
“Esse armamento é diferente do fuzil porque o fuzil
tem um alcance de quatro quilômetros. Imagina você acertar um tiro a quatro
quilômetros? Ele tem um poder de parada muito mais alto, então as chances dele
executar um tiro acidental ou fazer um tiro fora do alvo são mínimas, são quase
nulas. Não existe um acidente com essa arma. Ele reduz a letalidade, vai zerar
a letalidade com o incidente deste armamento. Não existe incidente com esse
armamento. O policial tem que querer fazer o disparo e vai acertar onde o
policial fizer a sua visada. Ele não vai dar um tiro de três metros e acertar
onde ele não queria.”
Se o tiro do
policial alcançou a distância de quatro quilômetros, então ele errou alvo.
Motivos: arma ruim, munição ruim, mira desajustada, incapacidade técnica ou
displicência. Mas se ele acertar o alvo usando um fuzil, uma preocupação
natural é a chance de transfixação. Para isso a tecnologia trouxe uma resposta:
munições expansivas.
Poder de
parada é um mito (Nem perco tempo com isso!). Qualquer arma de fogo tem
potencial provocar acidentes e incidentes. Tiro fora ou dentro do alvo depende
mais do atirador do que da arma (considerando uma arma em perfeita condição).
Tiro fora do alvo igual “bala perdida” (até para carabina de pressão).
“O calibre .40 é para ser usado em pequenas
distâncias. A utilização do fuzil 556 ou 762 é extremamente perigosa em áreas
densamente povoadas. A carabina não dá rajadas; por outro lado, tem maior
precisão. O policial ganha em autonomia de tiro, tem a letalidade necessária
para a neutralização de um agressor e apresenta poder reduzido de penetração.”
Um policial
não possui autonomia de tiro quando emprega um armamento de poder e alcance
menores. Com uma carabina .40 o policial está limitado na medida das características
do armamento, com grande chance de ter que se aproximar do perigo para tentar
ser eficaz. Quer dizer, enquanto o policial tem que se aproximar para atirar
com uma arma que dispara munição de pistola, o criminoso pode agir com o
benefício da distância (e usando a arma e a munição corretas). Para não cometer
esse erro tático (se aproximar com uma carabina .40 de alguém que atira com um
fuzil 5,56 ou 7,62), o policial terá que ficar onde está ou recuar e desistir.
Entre um fuzil e uma carabina numa curta distância, a letalidade vai estar do
lado daquele que acertar bem acertado.
Como uma
carabina .40 pode ser mais precisa que um fuzil? “Porque a carabina não ‘dá
rajada’, assim os tiros intermitentes ficam mais agrupados. Com o fuzil, que
‘dá rajada’, fica mais difícil controlar o recuo da arma”. Primeiro, existem
fuzis que não possuem a opção de rajada. Precisão não pode ser medida apenas pela
cadência de tiro. Qualquer arma em sistema de rajada é menos precisa em relação
a mesma arma no regime intermitente. Isso serve para uma Glock adaptada, uma
submetralhadora, uma espingarda ou um fuzil. Precisão é, GROSSO MODO, uma relação entre a arma, a munição, o aparelho de
pontaria, a condição do alvo (parado, em movimento, longe, perto, etc.) e a
habilidade técnica do atirador.
“Não tem o poder de penetrar parede ou uma placa de
aço. É uma arma reconhecida internacionalmente, inclusive em Israel. Lá também
é usada para ação policial. Uma arma que dá segurança ao policial, permite que
ele responda a uma agressão e o policial tem um poder necessário para realizar
seu trabalho. Os fuzis só foram adotados por causa de uma falta de equipamento
que pudesse se adequar a realidade do Rio. Por parte do policial será reduzido
a possibilidade da bala perdida. Não sei especificar um percentual preciso, mas
é será bem expressivo. Estamos falando de redução e não a eliminação da
possibilidade”.
Um projétil que não consegue transfixar um
anteparo e que possui curto alcance tem menos chance de acertar alguém após
atingir o alvo pretendido. Mas a questão não é a possibilidade de transfixação
ou o alcance do projétil do fuzil. O FBI (Federal
Bureau of Investigation) chegou a essa conclusão em 1987 (29 anos atrás). O
problema é o tiro que NÃO ACERTA O ALVO.
Portanto, “bala perdida” não é apenas o
projétil que transfixa alguma coisa ou viaja longe demais sem acertar nada.
“Bala perdida” é QUALQUER PROJÉTIL QUE ERRA O ALVO. E isso pode
acontecer com um revólver, uma pistola ou uma metralhadora. Pode acontecer com
um único disparo ou com uma rajada. Pode ser a curta distância. Com alguém
dentro de uma loja, um barraco, um apartamento ou um automóvel. Para diminuir a
possibilidade de o policial errar o alvo, ele precisa de treinamento constante.
Além do mais, “bala perdida” é, sobretudo, o
resultado de uma forma displicente de utilizar a arma. Simplesmente apontar
qualquer arma e disparar a esmo ou no rumo de alguma coisa ou alguém é uma
demonstração de baixa qualidade técnica. Aqui fica a máxima do Agente Agrelli, professor de Armamento e Tiro e Atirador Designado da NO: “Eu só atiro
quando tenho certeza!”
E onde estão as estatísticas sobre “balas
perdidas” no Rio de Janeiro? Já se sabe quantas foram? De onde partiram? De
quais armas foram disparadas? São armas da polícia? Cada policial tem sua
própria arma longa? Ele ajustou o aparelho de pontaria da arma ou ela é
utilizada por todo o efetivo? Foi examinada? São armas dos criminosos? Quantas
armas apreendidas foram submetidas ao exame pericial? Os resultados foram
comparados com os projéteis que atingiram as vítimas? É óbvio que reduzir o
poder e o volume de fogo da polícia resultará numa redução da possibilidade de
“bala perdida”. É óbvio, também, que a polícia deve se esforçar para proteger o
cidadão. O inaceitável é responsabilizar os policiais por todas as vítimas de
“balas perdidas” sem que se saiba o mínimo sobre as ocorrências.
“Policial de UPP, em tese, não tem que
atirar em ninguém. A bala do fuzil atravessa barracos. Essas armas novas causam
um estrago menor.”
Se a administração não quer que o policial
atire em alguém, então ela deve fazer apenas três coisas: apreender todas as
armas dos delinquentes; prender todos eles e mantê-los presos de verdade e por
muito tempo. Outra medida, até mais simples, é deixar todos os policiais nos
quartéis e delegacias. Isso também vai diminuir as mortes de policiais e
criminosos. Mas enquanto houver pessoas dispostas a subjugar os cidadãos e a
enfrentar a polícia, deve haver policiais preparados e dispostos a reagir e
atirar.
“Na verdade, o policial tem que fazer
três coisas: 1 – não morra. 2 – não mate. 3 – não minta. Então, abrigue-se e,
como diz o XXXXXXXXXXX
(comandante da PM), chame o irmão mais velho, no caso o COE (Comando de
Operações Especiais)”
Isso me faz lembrar um velho conselho: “Se o
tiro é pra direita, corra pra esquerda. Se o tiro é pra esquerda, corra até o
banco e saque seu salário. Você não vai mudar o mundo.” Mas será que as pessoas
inocentes, inclusive aquelas que nós amamos, precisam de uma polícia assim? A
polícia carece de homens e mulheres que precisam se esconder para não morrer e
não matar? Quem vai para a rua enfrentar o perigo quando as coisas saírem do
controle? Já existem muitas pessoas defendendo apenas o interesse próprio, o poder,
o status, o dinheiro e a crueldade. E o país não suporta mais 600 mil
brasileiros assim.
“Defendo que os policiais utilizem carabinas de
calibre .30. Um dos motivos é o custo. Temos armas excedentes nas Forças
Armadas que poderiam sem repassadas à polícia a um baixíssimo valor, quase de
graça. Além disso, o uso da carabina .30 facilitaria trabalhos de perícia, a
começar pelo fato de que este calibre não é usado por criminosos”.
Quando se trata da vida das pessoas,
especialmente dos policiais e cidadãos, a economia de dinheiro NUNCA deve ser uma opção. As pessoas
precisam de segurança efetiva e os policiais também (não dessa bobagem de “sensação
de segurança”). Além disso, para desempenhar um bom trabalho, todo policial
precisa de treinamento profissional e equipamentos de QUALIDADE INTERNACIONAL. E isso sem discutir outras questões
igualmente importantes.
A polícia não precisa de doação de
equipamentos obsoletos porque isso não resolve o problema, não torna a cidade
mais segurança nem melhora o trabalho policial. Se for assim, basta substituir
as pistolas .40 (com 15 ou 17 cartuchos) por velhos revólveres .32 ou .38 (com
5 ou 6 tiros). Com esta medida patética, ou seja, a redução do volume e do
poder de fogo do policial, também se reduzirá a taxa de “balas perdidas” e a
letalidade da polícia.
Parece haver um desvairo em periciar as armas
dos policiais que atuam no estrito cumprimento do dever e em legítima defesa.
Entretanto, essa vontade não se manifesta na perícia das armas utilizadas por
criminosos, até porque a percentual de elucidação dos crimes no Brasil não
ultrapassa oito por cento (8%). Quanto a isso, NINGUÉM assume a (ir)responsabilidade. Assim, basta culpar o
policial por todas as mazelas e seguir em frente com medidas baratas, amadoras
e superficiais.
“Nas áreas onde os soldados podem
precisar contrapor tiros que vem de cima ou de uma distância maior, as
carabinas .40 são anêmicas e não vão se prestar ao que se espera. Nas UPPs o
cara infelizmente ainda precisa ter fuzil.”
“Há uma proliferação de fuzis nas
favelas com UPP. Nossos soldados estão sendo atacados e mortos o tempo todo.
Mesmo assim, vamos diminuir nosso poder de fogo. Ou seja: vamos para um
território conflagrado com armas menos poderosas do que as dos criminosos”.
O
oficial que fez a declaração acima também disse que só nos oito primeiros dias
de dezembro de 2015, criminosos atacaram policiais das UPPs 43 vezes. No mesmo
ano, ainda segundo o policial, 13 policiais foram mortos dentro das localidades
com UPPs.
Quando um
cidadão ou um policial é morto, uma família chora calada. Quando um criminoso procura
a morte, aqueles que vivem do seu dinheiro sujo são convidados no noticiário. Então,
se o Estado não se preocupa em inverter essa dinâmica, não deveria fazer nada.
Fonte
1: http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2016/05/rj-adota-armas-que-podem-reduzir-balas-perdidas-em-areas-com-upps.html
Fonte
2: http://oglobo.globo.com/rio/policia-militar-comeca-trocar-fuzis-por-carabinas-19989983#ixzz4Ki6mwOAO
Fonte 3: http://veja.abril.com.br/brasil/beltrame-tira-fuzis-das-upps/
Muito bom!!! Seria tão bom se parassem de sacanear nós, policiais... imagine um um engenheiro, um pedreiro, um arquiteto, depois q estes construissem uma bela casa alguém fosse lá e derrubasse a casa... um médico depois de usar de todos os recursos para salvar um paciente, alguém fosse lá e matasse o paciente, é isso o q fazem conosco, policiais, todos os dias nesse país. Mas não adianta, esses tralhas não me farão desistir!!!!
ResponderExcluirTem que ter muita força e honra mesmo para fazer um bom serviço policial no Brasil! Tudo vai contra, tudo é desestimulante. Condições ruins, salários ruins, insegurança jurídica, bandidos ousados, desrespeitosos, 'ninguém' gosta de polícia e pior: os 'policiais' de gabinete assediam e ferram os verdadeiros policiais...
ExcluirContinue tentando fazer um bom trabalho, sim! Mas não dê mais do que é possível, não banque o heroi, trabalhe com o máximo de proteção que puder. Atento contra as investidas dos criminosos e da própria instituição policial, na figura dos gestores políticos, os policiais de mentira, de gabinete...
Ótimo texto como sempre, professor!
ResponderExcluirMuito bom haver um texto bem estruturado como o de senhor acerca desse assunto. Mas essa decisão é tão absurda que qualquer pessoa percebe que esse negócio de trocar fuzis por submetralhadoras está totalmente equivocado.
Claramente, é uma questão de lobby. Alguém está ganhando muito bem com esse contrato. Enquanto o processo de fabricação e controle de qualidade das armas das forjas taurus é super ineficiente, o setor de vendas é ótimo, para o governo, claro...
Embora o secretário de (in)segurança pública do RJ já tenha se mostrado incompetente inúmeras vezes, eu duvido que ele seja tão inocente e acredite nas próprias palavras. Afinal, ele é delegado da polícia federal. Mas pior que existe essa possibilidade, porque já vi alguns delegados federais falarem cada abobrinha sobre armas...
E ele só está há tanto tempo nesse cargo porque o RJ possuiu governador fraquíssimo e, atualmente, encontra-se sem governador - o oficial está doente internado e o vice, em exercício, é bastante idoso...
Eu tenho a impressão de que quanto pior fica a violência no RJ, mais ele fica forte no cargo, é impressionante que esse secretário esteja há tanto tempo nesse cargo e a violência cada dia pior no RJ.
Tem tiroteio todo dia em várias favelas "pacificadas", policiais são alvejados diariamente, número de mortes recordes... e onde está o secretário? No gabinete comprando submetralhadoras para substituir os fuzis e enfraquecer ainda mais a Polícia...
Se fosse uma decisão de compra técnica, para renovar o armamento das polícias do RJ, aposentar enfim os IMBEL FAL e PARAFAL e os Colt, os governo compraria os fuzis Armalite para todos os batalhões e delegacias. Seria o mais lógico, visto que já compraram esses fuzis americanos pras equipes especiais da PM e da PC... Ou na pior das hipóteses, compraria o fuzil IA2 da IMBEL.
Alguns outros estados estão abandonando o uso de submetralhadora e comprando esses fuzis da IMBEL...
Até em New York os policiais usam fuzis...
Sabe-se muito bem que o fuzil nas mãos dos bandidos sobretudo no RJ é banal e está piorando. Antigamente, fuzil só era visto nas favelas para defender o território de facções rivais e atirar na Polícia e invasões de outros morros. Agora, os criminosos estão usando fuzil pra tudo. Roubos de carga, arrastões em qualquer lugar, "roubos corriqueiros" de carteira, celular e relógio em bairros nobres, no centro...
Ou seja, o secretário está colocando o policial e o cidadão em perigo, porque só o bandido terá fuzil...
Apesar de eu não acreditar em deus... só posso dizer: 'que deus nos ajude', porque se nem o policial vai poder combater o crime....
PARABÉNS Humberto Wendling! acompanho seu blog desde o início e acho TODOS os artigos postados de altíssima qualidade, continue contribuindo conosco, policiais e civis, para a segurança coletiva.
ResponderExcluirExcelente artigo parabéns!!!
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