quinta-feira, 12 de dezembro de 2019

Iluminação inconsistente

Baixa luminosidade, baixa visibilidade, tiro com lanterna e low light.

Os nomes variam, mas a essência é a mesma. O típico treino consiste em aguardar o anoitecer e alinhar os atiradores diante dos alvos. Daí eles sacam as armas e as lanternas e disparam nos alvos iluminados.

Isso serve pra experimentar técnicas diferentes, o que é necessário.

O que chama minha atenção é a ideia de que pro tiro (ou não) com lanterna, o ambiente precisa estar totalmente escuro. Isso pode ocorrer se você estiver dentro de casa (quando todos estão dormindo), numa rodovia ou área rural.

Mas áreas totalmente escuras (ausentes de luz) são difíceis de encontrar nas áreas urbanas. Mesmo as garagens subterrâneas apresentam algum nível de iluminação.

Agora pense comigo: o ladrão também precisa enxergar. E como ele não usa uma lanterna, é pouco provável que você seja atacado na escuridão (se acontecer, é preciso dizer que você estava no lugar errado. E fazendo o quê?).

Daí é correto afirmar que você e o agressor estarão em ambientes com iluminação inconsistente.

Portanto, treinos de tiro com lanterna devem considerar essa realidade e permitir o trabalho em ambientes mal iluminados. Acenda os faróis de alguns carros (em direções variadas) e mantenha algumas lâmpadas ligadas.

Permita que o aluno identifique alvos "atiráveis" e "não atiráveis", principalmente em treinos de defesa em casa. Ensine várias técnicas com lanternas, pois o policial precisa variar a empunhadura pra realizar buscas, identificar possíveis alvos e esconderijos, se movimentar no ambiente, contornar objetos, etc. Permita que ele dispare de um local bem iluminado em direção a um alvo em local com iluminação ruim.

Tenha como perspectiva uma cidade no período da noite e não uma caverna.

Criminosos não se incomodam se você está armado

As imagens, retiradas de um vídeo de CFTV, ilustram mais uma audiência rotineira na justiça.

É preciso lembrar que policiais, mesmo em serviço, são impedidos de entrarem armados nesses locais. Certa vez, um colega indagou: "E existe outra razão pro policial ir até a justiça? O policial vai lá como turista!?"

Assim, a segurança cabe aos policiais e vigilantes encarregados da proteção orgânica do local.

Outro post disse que a imagem representa a sociedade dando as costas pro policial no momento de maior necessidade.

É difícil não ficar indignado ao ver o policial ser abandonado, tendo que lutar pela posse da arma e da vida sozinho.

Independente da análise dessa representatividade, que tende a não mudar, é preciso avaliar a ocorrência sob o aspecto da autodefesa e da sobrevivência policial.

Quanto à autodefesa, as pessoas fizeram o certo, ou seja, incapazes de lutar, fugiram. É o primeiro princípio no caso de um potencial assassino ativo (ou atirador ativo, termo ainda em uso).

Nossa sociedade não tem o hábito da luta, pois é doutrinada a nunca reagir. E se ela não sabe o que fazer e não tem o espírito de guerreiro (de bravura), a fuga é uma saída.

Pesa a questão da lealdade com o próximo, mas isso é outro caso.

Na esfera da sobrevivência policial, sabe-se que presos devem ser algemados com as mãos pra trás e que não se trabalha sozinho. E isso é BÁSICO.

Se o preso é algemado pra frente, o policial precisa ficar de frente pra tirar as algemas. Isso dá total esclarecimento visual pro preso, uma vez que ele pode ver tudo o que acontece (posição exata da arma e do policial).

Diante da chance dum confronto físico ou armado, policiais precisam de reforço imediato. Por isso não trabalham sozinhos.

No vídeo, o policial luta durante 44" até a chegada do socorro. Só que isso é uma eternidade! São 44" dependendo apenas da força física e da sorte.

Panes

 

Durante um exercício de adaptação com um modelo de arma, a unidade apresentou 8 falhas de percussão em 52 tiros.

As falhas não pareciam da munição, mas da percussão. Os 8 cartuchos foram usados noutro momento com a mesma arma. E no curso, ela foi tirada da linha por apresentar o mesmo problema.

Na última série de disparos, na adaptação, a arma teve a pane que ilustra este post. Um estojo travado na horizontal e um cartucho com o projétil acessando a câmara, mas com o culote fora da garra do extrator (além do cartucho no carregador).

Então, ficou a pergunta: como tratar essa pane? O método "bate, puxa e vai" funcionaria?

Seria eficaz tratar logo como dupla alimentação e aplicar a solução específica?

Seria melhor identificar a pane (consumindo algum tempo) e abrir o ferrolho inclinando a arma pro lado direito pra que estojo e o cartucho caíssem?

Pra responder as perguntas, eu e um amigo IAT fizemos alguns testes.

Como algumas escolas não param pra identificar a pane e aplicar uma solução específica, o recurso imediato "bate, puxa e vai" foi aplicado.

Das 9 tentativas, mantendo a arma o mais estável (ou imóvel) possível, 3 funcionaram e 6 não tiveram efeito (produziram outras panes: 5 foram fotografadas). Das 5 tentativas, movimentando a arma (impulsinando/lançando a arma pra frente ou pra trás), 5 funcionaram no "bate, puxa e vai". Sendo que no "vai", a arma era lançada à frente (como uma vara de pesca) ou no "puxa", movida pra trás (como num movimento de retenção de arma na lateral do corpo).

E se tratar o problema como dupla alimentação?

Desse modo, a união do movimento do ferrolho indo à frente com a apresentação da arma lançou (expeliu o cartucho). E a inércia produzida pelo movimento pra trás também serviu pra expelir toda a "sujeira" da arma em pane.

E se tratar o problema como dupla alimentação? Aí a taxa de solução aumenta dramaticamente, pois é um tipo de antibiótico de largo espectro.

Os testes positivos foram filmados, mas não podem ser divulgados.

Assim, com base nas imagens, sugiro que você monte essa pane e faça seu próprio teste. E treine as panes fáceis, sobretudo a que exige mais TRABALHO, já que é um remédio universal.

*As imagens mencionadas estão no livro Policiais: coletânea 2