sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Noticiário Mortal

Durante meu curso de formação policial, a aula mais esperada era sobre o combate ao tráfico ilícito de entorpecentes. Talvez no imaginário dos alunos, o combate ao tráfico de drogas representasse o divisor de águas entre a atividade-meio e a atividade-fim da polícia. Era a polícia que estava nas ruas investigando, prendendo criminosos, apreendendo drogas e mostrando serviço. Era a polícia dos informantes, dos segredos mais bem guardados, da compartimentação de informações, dos acordos internacionais, etc. Era a polícia que, afinal, estampava o emblema da organização nos noticiários.

Mas para nossa decepção, o professor da matéria falou sobre quase tudo, menos sobre os métodos específicos de investigação. Sua justificativa era de que ainda não éramos policiais, apenas alunos de um curso de formação, sendo que o conhecimento de certas informações ainda não era conveniente.

Durante alguns anos trabalhei na atividade de repressão ao tráfico de entorpecentes e conheci aqueles policiais que estavam nas ruas investigando traficantes e os prendendo, apreendendo drogas e, sem aparecer, mostrando os resultados desse duro trabalho. Todos os policiais fugiam das filmadoras e máquinas fotográficas da imprensa e ninguém falava sobre os métodos de investigação. Eu mesmo só conheci tais métodos e só fui chamado para participar das operações policiais depois que os policiais mais antigos avaliaram minha capacidade de manter o sigilo e o comportamento necessário para operar neste tipo de atividade. Quando viajava, nem minha família sabia para onde eu ia.

Compartimentação foi o nome que a polícia encontrou para dizer que certas informações só dizem respeito a certas pessoas. Quer dizer, manter informações sob sigilo (compartimentadas) protege a operação policial contra os “vazamentos”, sejam eles intencionais ou não. Outro objetivo da compartimentação é impedir que os criminosos conheçam os métodos de investigação policial e criem mecanismos para burlá-los, o que dificultaria ainda mais o trabalho policial.

Contudo, este tabu não existe mais e, algumas vezes, é a própria polícia que informa que foram realizadas interceptações telefônicas, escutas ambientes, acompanhamentos aéreos não tripulados, infiltrações de agentes disfarçados, etc. Quer dizer, aqueles métodos específicos de investigação, outrora compartimentados até mesmo dentro das organizações policiais, agora são do conhecimento público.

Por outro lado, quando algumas corporações não querem revelar seus métodos de investigação, elas cometem outro erro, ou seja, informam que o trabalho policial ocorreu em virtude de uma denúncia anônima. Infelizmente, quando tal denúncia existe apenas como pano de fundo, isso diminui todo o esforço de cada policial envolvido na operação e acaba desvalorizando a atividade pela sugestão de que a polícia recebeu uma informação pronta e apenas ficou à espera do resultado. Muitos profissionais sabem que nenhuma denúncia anônima entrega o serviço pronto, e aquelas que merecem algum crédito representam apenas o embrião de qualquer operação policial.

Certa vez, assisti um documentário sobre uma ação contraterrorismo realizada pelo Mossad. Na operação, o terrorista acabou alvo de sua própria bomba no quarto de um hotel onde estava hospedado. A repórter perguntou ao chefe da operação como o Mossad havia atingido o objetivo (neutralizar o terrorista com sua própria bomba caseira). Com ironia, o chefe disse: “Você realmente quer que eu revele os segredos de nossas ações num programa de televisão?” Obviamente, eu entendo que o bom repórter tem a obrigação de perguntar, mas certas perguntas não merecem respostas.

Algumas corporações possuem laços estreitos com a imprensa, o que é desejável, pois esta cooperação é útil muitas vezes. Mas como tudo tem seu limite, avisar a imprensa sobre uma operação policial antes do seu desencadeamento ou permitir a presença do repórter dentro da viatura policial não é ideal. Hoje em dia, já existem programas de TV destinados a mostrar o trabalho policial. Isso é excelente para a polícia, uma vez que o público pode perceber a satisfação por um trabalho policial bem feito e, ao mesmo tempo, os perigos da profissão. É bom também para mostrar a frieza e o cinismo dos criminosos em contraposição ao desespero das vítimas. Entretanto, avisar a imprensa sobre uma operação em curso ou permitir que um cinegrafista faça seu trabalho de dentro da viatura ou, ainda, encenar uma ação policial apenas para sair no noticiário é inoportuno.

Em outra ocasião, vi um grupamento militar reencenando a “tomada” de uma favela e a localização do material entorpecente. A cena mostrava o policial em deslocamento tático “fatiando”, com sua carabina .40, os becos da favela até chegar à boca de fumo.

Em outras reportagens é possível ver todo tipo de erro tático durante essas ações policiais. Muitas matérias mostram policiais trajando “uniformes” sem a menor padronização. São policiais conversando enquanto se aproximam das residências alvos de mandados de busca. Na verdade, eles deveriam estar em absoluto silêncio. São policiais chutando portas porque não possuem ferramentas adequadas. Policiais esmurrando portas enquanto ficam diante delas e no que se convencionou chamar de “cone ou funil fatal”. São policiais sem luvas revirando os chiqueiros onde vivem os criminosos. Policiais disparando suas armas a esmo. Para o público isso parece coisa de cinema; para quem é do ramo, é falha mesmo. Tal deficiência não é apenas culpa do policial, mas é o resultado do pouco e da baixa qualidade do treinamento e da falta de equipamentos e normas que estabeleçam procedimentos operacionais.

A questão é que são erros filmados e gravados por profissionais que não compreendem as dificuldades do trabalho policial e não percebem a possibilidade de usar as filmagens com o propósito de reivindicar melhorias nos treinamentos, nos equipamentos e nos procedimentos. Então, quando algo dá errado, o vídeo serve apenas para mostrar como a polícia é incompetente.

Entretanto, existem outras considerações relevantes sobre a participação da imprensa no ato das operações policiais. A primeira delas diz respeito à segurança da equipe jornalística durante a ação policial. Considerando que algumas vezes é a própria polícia que convida a imprensa para presenciar suas atividades, é fundamental que a segurança dos convidados seja de inteira responsabilidade da polícia. Isso significa que a imprensa deve ser protegida por um grupo de policiais com esse único objetivo, já que uma das funções da polícia é não permitir que inocentes corram riscos desnecessários. Por isso, repórteres não podem acompanhar mandados de busca, não podem permanecer dentro das viaturas policiais e não podem subir morros junto com equipes precursoras. Se a participação da imprensa for imprescindível, então ela deve seguir depois que o local estiver em segurança. Mas se o repórter insiste em seguir adiante, o policial tem que dizer NÃO antes que alguém seja ferido ou morto.

Se o policial precisa progredir num ambiente hostil, que nível de proteção ele pode dispensar ao repórter enquanto tenta resguardar a própria vida? Para mim, o policial pode fazer muito pouco já que sua atenção e seus procedimentos táticos estão orientados exclusivamente para a salvaguarda da equipe policial. Isso significa que se não houver uma equipe policial (na retaguarda) com o objetivo específico de proteger a imprensa, então a equipe precursora terá que dividir sua atenção entre a própria segurança e a da equipe jornalística. Em termos táticos, isso representa um peso desnecessário, perigoso e que atrasa a entrada, a movimentação e a saída de todos os envolvidos na área do conflito. Implica dizer também que se um policial for vitimado, o jornalista ficará ainda mais desprotegido (já que não possui uma arma de fogo, uma proteção balística adequada e o treinamento devido). Se o jornalista for vitimado, o policial terá que aguardar até que se estabeleça algum nível de segurança para que o socorro seja feito sem que ocorram outras fatalidades. Quando o início do socorro médico pode fazer a diferença entre a vida e a morte, qualquer atraso pode ser desfavorável para a pessoa ferida.

Proteção e socorro são, portanto, peças fundamentais em qualquer atividade policial, seja ela acompanhada pela imprensa ou não. Quer dizer, toda operação policial ostensiva deveria ser acompanhada por equipes do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), já que a possibilidade de conflito armado é certa. Agindo assim, a pessoa ferida já receberia os primeiros socorros no local da ocorrência e/ou a caminho do hospital. Isso é completamente diferente de apenas transportar a vítima na viatura policial. Se isso não for possível, então cada equipe policial deveria possuir alguém treinado em primeiros socorros, inclusive com o equipamento básico de atendimento.

Como já foi dito, com a participação de repórteres sem treinamento e condições de defesa, a proteção deve ser feita por um grupamento policial designado e pelos equipamentos de proteção individual oferecidos pelos empregadores, tais como: capacete balístico e colete balístico.

Capacete balístico é equipamento de grupos de ações especiais (e acredito que muitos não tenham isso). E normalmente, o que se vê “protegendo” a cabeça do policial é uma boina ou um boné. Já o colete balístico possui níveis de proteção conforme determina o instituto americano National Institute of Justice (NIJ), sendo o mais comum na atividade policial o de nível IIIA, que protege contra projéteis .22 LR, .38 SPL, .380 ACP, .357 Magnum, 9 mm Luger, .40 S&W e .44 Magnum, considerando ainda suas massas e velocidades. Qualquer nível de proteção acima disso depende de autorização do Exército Brasileiro.

Mas se um policial convencional é designado para um patrulhamento de alto risco, é plausível que ele utilize equipamentos convencionais? É admissível que ele utilize um colete balístico incapaz de protegê-lo contra projéteis de fuzis quando se sabe que ele será confrontado por criminosos portando este tipo de armamento? Claro que não! Se a atividade é de alto risco e a possibilidade de confronto é iminente, então todos os envolvidos (policiais especiais, convencionais e repórteres) devem trajar o que há de melhor e mais adequado. Contudo, isso é a teoria, pois nem um colete balístico nível III ou nível IV pode garantir máxima eficácia contra os impactos de projéteis de fuzis, já que tal proteção ocorre devido à presença de placas balísticas de cerâmica ou lâminas de polietileno (pouco maiores que uma folha de papel A4) desenvolvidas para oferecer proteção apenas para o coração e os pulmões. Quer dizer, todo colete nível IV é na verdade um IIIA. Então, quando você insere as placas balísticas, seu colete IIIA se torna um nível IV, mas só na parte das placas. Há, ainda, a limitação do total de impactos que cada placa pode suportar antes de se tornar totalmente ineficaz. Apesar de tal deficiência, isso não significa que os policiais devam trabalhar utilizando equipamentos protetores com capacidade inferiormente ao tipo de confronto esperado.

Além disso, mesmo que um projétil seja parado com sucesso pelo colete sempre haverá algum nível de lesão (contusões, fraturas, hemorragia interna, morte). Um colete protege você contra a maioria dos projéteis de revólver, pistola e espingarda, mas não há dispositivo no mundo que o torne invencível a todas as ameaças. Para dizer o óbvio, levar um tiro sempre traz algum risco, pois existem muitas variáveis que podem interferir na eficácia da "blindagem" (distância do tiro, ângulo de impacto, tipo de munição, se a arma é longa ou curta, quantos projéteis atingiram o colete ou a placa balística, etc.). Portanto, mais uma vez, a questão é a proteção e o socorro imediato.

Infelizmente, no caso do repórter, parece que ele estava mal posicionado. Talvez até exposto na linha de visada dos atiradores. Sem cobertura e sem abrigo, qualquer pessoa acompanhando um grupo de policiais e segurando um objeto com as duas mãos pode ser confundido com um policial, especialmente se a distância for grande.

Logo, a melhor blindagem que você pode encontrar é um abrigo, mesmo que esteja vestindo um colete nível IV. Isso ocorre porque um abrigo é capaz de proteger todo seu corpo. Já para os profissionais da imprensa, a melhor blindagem é NUNCA seguir equipes policiais na linha de frente.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

É assim que as coisas acontecem!

"Eu acabara de sair da delegacia após uma operação policial antidrogas. Eram duas horas da manhã e eu seguia para casa numa Honda CB600 Hornet. Seguia ainda mais atento, pois além de saber que a moto era muito visada por ladrões, o horário era um complicador adicional. Na Marginal Tietê, fui surpreendido, ainda em movimento, por dois homens que estavam noutra Hornet. Imagino que se aproximaram com o farol apagado, pois incrivelmente não os percebi. Assim que as motocicletas se emparelharam, o garupa apontou um revólver e ordenou que eu parasse. Não vislumbrei possibilidade de reação ou fuga, então, obedeci. Os dois desceram rapidamente da moto, enquanto eu permaneci na minha. O piloto postou-se a minha esquerda e o garupa a minha direita e mais atrás. O primeiro ficou com a mão atrás do corpo simulando estar armado, e o da direita apontava o revólver o tempo todo."

"O piloto começou dar as ordens: 'Devagar, desliga a moto!' Desliguei e soltei as mãos do guidão, trazendo os braços junto ao corpo com a intenção de encobrir o possível volume de minha arma que estava do meu lado direito e sob o casaco. Ele imediatamente ordenou que eu recolocasse as duas mãos no guidão. Nesse momento fiquei bastante preocupado, achando que seria revistado. Não fui (sorte nº 1). Ele perguntou se a moto tinha alarme. Eu disse que sim e ele perguntou onde estava o controle remoto. Eu disse que estava no bolso esquerdo do casaco (sorte nº 2). Ele colocou a mão no bolso indicado e retirou o controle remoto e meu celular. Mandou que eu colocasse a moto no descanso e descesse devagar. Quando desci, me apoiando sobre a perna esquerda, girei meu corpo no sentido horário. O piloto se reposicionou de modo que ele e o comparsa ficaram lado a lado e de frente para mim, enquanto minha moto ficou a minha esquerda. Então, ele ordenou que eu tirasse o capacete. Ele pegou o capacete e o apoiou no espelho retrovisor. O capacete ficou, portanto, exatamente ao meu lado. Ele mandou que eu retirasse as luvas. Retirei. Mandou que eu tirasse o casaco. Nesse momento, sabendo que ao tirá-lo, minha pistola ficaria visível, soube que algo iria acontecer. Levei a mão até o zíper do casaco, mas não o abri de imediato. Ele mandou que eu tirasse o casaco rápido. Então, eu olhei para trás dos dois e disse: 'É que tem um pessoal ali olhando!' Por incrível que pareça, como num filme (não que eu tivesse planejado o resultado), ambos deram uma rápida olhada pra trás (coisa de frações de segundo), quando, então, eu saquei a pistola e atirei na direção dos dois criminosos. Percebi que ambos se sobressaltaram quando levei minha mão rapidamente à cintura ao mesmo tempo que dava um passo pra trás. O garupa atirou imediatamente, ao mesmo tempo que se virava, assustado, na intenção de fugir. Aliás, os dois saíram correndo, patinando. O garupa patinava tentando correr, olhava para trás e atirava (tudo ao mesmo tempo).”

“Lembro-me que atirei quatro vezes no criminoso armado com o revólver. Mas a agonia de ter que sacar tão rápido uma pistola que estava sob um casaco comprido e pesado, sob a mira de uma arma, fez com que meus quatro primeiros tiros fossem disparados enquanto a arma não estava bem empunhada e enquadrada. Além disso, eu atirava contra um alvo em movimento, enquanto eu mesmo tentava me esquivar dos tiros recebidos. Outros dois tiros foram disparados frações de segundos depois, mas tempo suficiente para que a arma estivesse mais bem empunhada. Acho que por isso o piloto recebeu os dois tiros e morreu!”

“O piloto caiu metros adiante. Contudo, o garupa atravessou a rua e, vez ou outra, enquanto fugia, se virava para mim e atirava (fez isso duas vezes). Com a pistola bem empunhada e com visada, eu respondi aos tiros, mas em razão da distância, da movimentação (minha e do criminoso) e dos carros que passavam entre nós, não o alvejei.”

“Bem! Confesso que a sensação foi muito ruim, enquanto estava rendido, vulnerável, sem saber qual seria o desfecho. Depois do resultado espantoso, fiquei muito feliz por estar vivo, ter dado tudo certo, e voltado pra minha família.”

“Procurei manter a calma, apesar de tudo. E enquanto pensava na possibilidade de reagir, se tivesse uma chance, mentalizei que teria que ser rápido e preciso.”

“Ao apanhar meu capacete, aquele que havia sido colocado sobre o guidão da minha moto, ao meu lado, percebi uma perfuração.”

“Dei sorte, graças a Deus!”

O relato que você acabou de ler foi enviado por um colega da NO e exemplifica a natureza da maioria dos confrontos armados envolvendo policiais. É quase sempre assim, quer dizer, você trabalha diariamente contra o crime e a violência, investigando ações suspeitas, prendendo criminosos profissionais, atendendo ocorrências no meio da madrugada, patrulhando áreas perigosas, realizando buscas em residências de bandidos e esperando encontrar as piores pessoas nos piores lugares. E você treinou para isso ou aprendeu com a experiência! Entretanto, nada acontece. Aí, depois de um dia normal trabalho, você troca de roupa, esconde sua arma debaixo da camisa, se despede dos colegas, pega seu veículo e volta para casa. Distraído, sozinho, dentro do carro preso pelo cinto de segurança ou esperando ser atendido pelo caixa da padaria, se passando por uma pessoa comum, você é incluído no rol de vítimas em potencial. E justo quando você está mais vulnerável, alguém aparece e tenta assaltá-lo! E isso não estava no programa de treinamento de sua organização policial.

O episódio é pertinente porque demonstra muito daquilo que todo policial precisa esperar num conflito armado: a duração, as miras, o tiro baixo, a luminosidade, o índice de acertos ou erros, as distrações, a sorte e a concentração mental e visual.

Confrontos a curtas distâncias duram pouco tempo porque a munição acaba rápido demais ou alguém foge ou morre. Dentre outros fatores, isso se deve ao fato de que a maioria dos disparos erra o alvo, e tanto criminosos quanto policiais continuam atirando até que alguém seja incapacitado ou fuja. Em virtude do estresse, os envolvidos no tiroteio podem não perceber que foram atingidos, e sem esta percepção, é possível que permaneçam de pé resistindo até que os ferimentos provoquem a incapacitação de alguém. Na mesma linha, aquele que atira não consegue perceber os efeitos de seus disparos contra o alvo, o que força o atirador a continuar disparando até que algo demonstre que seus tiros surtiram o efeito desejado (normalmente isso ocorre quando o agressor cai).

Além disso, muitos criminosos utilizam suas armas como meio de garantir a fuga, pois eles sabem que a permanência prolongada no local aumenta as chances de serem presos ou mortos. Por isso, eles atiram e fogem ou fazem isso simultaneamente, o que implica afirmar que você estará disparando em um alvo em movimento.

Em eventos dessa natureza, uma dúvida persiste: é possível usar o aparelho de pontaria? Não existe, ainda, um convencimento sobre a impossibilidade de ver as miras em todos os confrontos armados. Obviamente, isso depende de muitos fatores. Um deles é se você foi ou não pego de surpresa e o início da reação foi prejudicado. Se um ataque ocorrer de repente e o criminoso estiver perto demais, o tempo para reagir será curto, e assim atirar em alguém perto será uma necessidade. Nesse evento, o policial, se conseguir reagir, responderá com sobressalto e instintivamente, o que não possibilitará a visão das miras. Talvez não haja tempo sequer para empunhar a arma com as duas mãos. Por outro lado, o mais importante é o aumento da velocidade de reação já que você não precisa, conscientemente, usar as miras da arma como pré-requisito para atirar. Entretanto, o aumento da velocidade de reação produz erros durante o processo, tais como atirar baixo ou quando a arma não está, pelo menos, apontada para o agressor. Pesquisas americanas informam que mais da metade dos policiais envolvidos em tiroteios utilizam o tiro instintivo, ou seja, o disparo da arma sem o uso das miras, o que poderia explicar os baixos índices de aproveitamento dos disparos (22% para a Polícia de Nova Iorque e 25% para a Polícia de Miami). Contudo, os defensores do tiro instintivo (dentre os quais me incluo) alegam que as academias de polícia não ensinam os policiais a atirar instintivamente focando o alvo, mas exigem algum tipo de tiro visado ou, pelo menos, o foco na massa de mira. Acredita-se até que o baixo aproveitamento dos tiros ocorra em função do uso das miras em confrontos a curtas distâncias, quando o policial “perde” o alvo porque está olhando para a arma. Debate à parte, a regra é simples: curta distância igual a tiro instintivo com foco no alvo e senso de alinhamento da arma com o alvo. Há uma técnica de tiro que ensina a disparar a arma na linha da cintura contra alvos a curtíssimas distâncias (Speed Rock Drill*). Alguns instrutores americanos têm insistido no ensino do tiro instintivo como meio de contornar o problema das miras.

Infelizmente, atirar baixo é tão comum quanto errar os disparos. Essa realidade provavelmente não é intencional, contudo também é o resultado da distração com pensamentos introspectivos (aqueles sem relevância imediata para a situação tática, tais como a morte ou processos judiciais) ou da falta de foco naquilo que realmente interessa quando alguém está a um metro de distância, com uma arma na mão e plenamente disposto a matar você. A solução para o tiro baixo é paliativa, mas pode funcionar, ou seja, continuar atirando até que sua arma esteja enquadrando o alvo. Você ainda pode utilizar a técnica de tiro na linha da cintura ao passo que se afasta do agressor até que tenha condições de empunhar a arma com as duas mãos e melhorar o enquadramento no alvo*. Essa é a vantagem que a pistola possui sobre o revólver: você tem mais que o dobro de disparos até começar a acertar o agressor no centro de massa.

Outro dado, que você já deve conhecer também, é que a maioria dos tiroteios ocorre durante períodos de baixa luminosidade. Porém, você precisa entender que baixa luminosidade não significa apenas o período da noite, mas aqueles locais escuros ou mal iluminados, ainda que durante o dia. O FBI calcula que 59% dos confrontos armados ocorrem das 18h até às 6h do dia seguinte, com um incremento no período de 20h às 22h. Já a Polícia de Miami informa que 62% de seus incidentes ocorreram em circunstâncias com baixa luminosidade e a Polícia de Nova Iorque relata que isso ocorreu em 77% de seus confrontos armados. Considerando que a maioria dos incidentes acontece nesta ocasião (baixa luminosidade), é natural esperar algum tipo de declínio no percentual de aproveitamento dos disparos realizados pelos policiais. E é exatamente o que diz a Polícia de Baltimore, num estudo que compreendeu o período de 1989 a 2002. O estudo demonstrou que durante o dia (luminosidade normal) o índice de acerto dos disparos foi, em média, de 64%. Mas este indicador caiu para 45% nos momentos de baixa iluminação, quer dizer, um declínio na ordem de 30%. A Polícia de Los Angeles reporta um declínio de 24% no aproveitamento nestas mesmas condições.

Com tanta coisa podendo dar errado, algumas pessoas dizem que o principal fator durante uma reação armada é a sorte. Mas enquanto a sorte é um elemento em cada confronto, é certo que não se deve torná-la um fator importante durante os treinamentos. Algumas pessoas dizem que quando se está perto demais do perigo, não é preciso ser bom, mas ter sorte, o que é de certa forma verdade. Talvez a resposta para esse problema seja não se preocupar em usar ou não as miras, por exemplo, mas estar concentrado naquilo que acontece a sua volta para perceber as "janelas de oportunidades" para sua reação. Percebendo que não haveria chance para reagir, o policial federal usou a dissimulação para enganar os criminosos e criar a oportunidade para se salvar. Quando você se concentra, você avalia a ocorrência em busca de uma solução para o problema. Isto, por si só, elimina as distrações mentais que podem encobrir a única oportunidade de reação.

Em um estudo de 2002, da Drª Alexis Artwohl, co-autora do livro Deadly Force Encounters, entrevistou 157 policiais que se envolveram em tiroteios. O estudo revelou os seguintes resultados em relação à percepção:

  • 84% dos policiais experimentaram a exclusão auditiva;
  • 79% experimentaram a visão em túnel;
  • 74% experimentaram pouco ou nenhum pensamento consciente;
  • 71% experimentaram a embranquecimento visual;
  • 62% perceberam o tempo em câmara lenta;
  • 52% não se recordaram de parte do evento;
  • 46% não se recordaram do próprio comportamento;
  • 39% sentiram um estado de dissociação ou irrealidade;
  • 26% experimentaram pensamentos introspectivos;
  • 21% experimentaram distorções visuais, auditivas e de memória;
  • 17% perceberam o tempo transcorrer em velocidade maior que a verdadeira;
  • 7% experimentaram uma paralisia temporária (“congelamento”).

Portanto, esteja certo de que você também passará por experiências semelhantes.

A questão da concentração no evento e no alvo é tão importante que o desempenho do policial pode melhorar ou piorar em razão do local onde seus olhos e sua atenção estão focados durante o confronto. É o que afirma o Dr. Bill Lewinski, professor da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos.

Sua pesquisa estabeleceu um paralelo entre a fixação do olhar e da atenção de grupos distintos de policiais (os de grupos táticos ou mais experientes e os convencionais ou novatos) durante conflitos armados. O cenário simulava o interior de uma embaixada, onde o policial, designado para prestar serviços de segurança, foi previamente informado sobre um possível tiroteio no local. Dois atores interpretavam uma funcionária e um visitante (que irritado com o atendimento iniciava uma discussão). O visitante, de costas para o policial, em dado momento se virava para o policial com uma arma ou um telefone celular na mão. As armas do experimento utilizavam a tecnologia Simunition, e monitores especiais avaliavam o movimento dos olhos do policial em conexão com dispositivos instalados no visitante. Desse modo, o pesquisador podia determinar para onde o policial estava olhado em cada seguimento do evento, bem como avaliar o índice de acerto do disparo.

À medida que o evento se tornava mais hostil, os policiais veteranos antecipadamente direcionavam sua atenção para o conjunto braço/mão do suspeito, como se esperassem o pior. Eles aumentavam o percentual de fixação visual para aquele conjunto de 21% no início do evento para 71% nos dois últimos segundos (quando o visitante se virava apontando um objeto para o policial). Durante os disparos, os veteranos direcionavam 86% de sua fixação visual para a mão do suspeito, revelando um notável grau de foco e concentração durante o confronto armado. O estudo explicou que estes policiais tiveram tempo para um período de super concentração, e com isso, seus olhos permaneceram ajustados num local definido do alvo enquanto pressionavam o gatilho. Os policiais novatos não demonstraram a mesma atenção ao conjunto braço/mão do suspeito, e quando ele apontava a arma e disparava, a fixação visual dos novatos era de apenas 33%.

Talvez o mais interessante tenha sido a descoberta de diferenças entre os dois grupos em relação à mudança abrupta da fixação visual antes do disparo da arma. O movimento final dos olhos dos novatos, especialmente entre aqueles que erraram os disparos, ocorreu ao mesmo tempo em que eles tentaram engajar o alvo e apontar a arma. Neste momento crítico, os policiais novatos, em 82% das vezes, deixaram de focar o alvo numa tentativa de olhar para a própria arma, tentando encontrar ou confirmar o alinhamento das miras enquanto apontavam. Com isso, os novatos disparavam sem ver o suspeito, o que contribuiu para o baixo índice de aproveitamento e pelo erro de julgamento quando o suspeito tinha nas mãos apenas um telefone celular no lugar de uma arma de fogo.

O pesquisador propôs a possibilidade de que o treinamento dos policiais novatos tenha contribuído para o baixo desempenho no teste. Isso porque eles aprenderam a focar primeiro a alça de mira, então a massa de mira, e depois o alvo, alinhando os três itens antes de pressionar o gatilho. Obviamente, esse é um processo lento e que demonstrou ser mal sucedido no experimento. Além disso, é impossível focar três elementos que estão em distâncias diferentes. Isso significa que você precisa decidir, preferencialmente antes do conflito, em que elemento vai focar sua visão (na massa, na alça ou no alvo). E se você estiver vendo o aparelho de pontaria de sua arma com clareza, esteja certo de que o alvo, na melhor das hipóteses, se transformará numa imagem indistinta.

Em algum momento do aprendizado e da experiência, os policiais veteranos aprenderam o processo de modo inverso: o foco imediato e predominante é na mão ou arma do suspeito. Com o olhar concentrado ali, estes policiais trazem a arma até sua linha de visada e “enxergam” as miras por meio da visão periférica. Eles possuem a capacidade de perceber para onde a arma está apontada em razão do senso de cinestesia, ou seja, “a capacidade em reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos e a posição de cada parte do corpo em relação às demais, sem utilizar a visão.” (Wikipedia, 2011). Em comparação com o processo utilizado pelos policiais novatos, a estratégia de foco no alvo dos veteranos foi simples, mais rápida e eficaz, conforme pontuou o estudo.

Portanto, no seu próximo treino, experimente aplicar a técnica Speed Rock*; apague algumas lâmpadas do estande de tiro; atire rápido trabalhando séries irregulares de 5, 3, 2, 4 disparos; movimente-se para trás, para frente, na diagonal ou lateralmente; concentre-se num ponto específico do alvo, atire sem usar as miras e depois veja se acertou próximo ao local pretendido; observe se sua arma está na linha de visada, sem que tenha usado o aparelho de pontaria; coloque diversos alvos, um ao lado do outro, e dispare em cada um deles sequencialmente para simular um alvo em movimento; treine com a roupa que você usa diariamente.

Sabendo o que esperar, você estará mais preparado para se concentrar na tarefa, sobrepujar seu agressor e vencer o conflito.

*Certifique-se de que o instrutor conhece e sabe aplicar a técnica com propriedade para evitar que você seja surpreendido por panes no armamento durante a execução da manobra.

domingo, 11 de setembro de 2011

Treinando para a hora da verdade! (Parte 2)

A primeira parte deste artigo tratou do porte e treinamento com saque de arma dissimulada, principalmente do treino em seco.

Contudo, só porque você tem uma arma, foi ao estande algumas vezes e disparou contra o alvo, não significa que se você tiver que sacar a arma e atirar em alguém num confronto real, você será capaz de fazê-lo. Tal ideia parece um contrassenso, uma vez que o treinamento é parte fundamental na atividade policial e conduta desejável em qualquer unidade policial do mundo. Mas, pergunte a qualquer policial que já precisou sacar a arma e atirar em alguém e ele vai lhe dizer que as coisas são bem diferentes quando o alvo está revidando e tentando matá-lo.

Infelizmente, algumas pessoas têm a ideia equivocada de que possuir uma arma e dispará-la algumas vezes é o suficiente para criar uma barreira invisível que irá protegê-las dos criminosos. Em função da arma, elas acreditam que serão capazes de sacá-la na hora da verdade e, em seguida, disparar uma quantidade determinada de tiros, a fim de incapacitar o agressor e repelir a ameaça.

Por causa dessa dificuldade, outro modelo desejável de treinamento policial para o futuro, em complemento ao atual, poderia ser empregado para permitir a interação entre os participantes para ensiná-los a fazer o que eles precisam fazer, a fim de não só se protegerem, mas sobreviverem ao conflito. Para isso, já existem as tecnologias do tipo Force-on-force (Simunition®, Airsoft) e os simuladores virtuais que obrigam os policiais a experimentarem as ansiedades de uma ação ou reação policial, os conflitos sobre o uso da força letal, as dificuldades dos confrontos em ambientes confinados e/ou mal iluminados, e a viabilidade de emprego de determinados equipamentos (coldres, rádios HT, etc.) e procedimentos (verbalização, técnicas, etc.).

Obviamente, como você já deve ter imaginado, isso tudo é algo que talvez ocorra daqui a 20, 30 ou 40 anos. Mas até lá, como dono de uma arma, você precisa buscar uma formação em algumas das seguintes áreas:

Treino sob estresse: treinamento sob estresse é importante porque quando estamos sob estresse sempre recorremos às coisas que conhecemos por instinto, ou seja, aquilo que é básico em nossa formação. Por isso, você não consegue realizar tarefas complicadas que é capaz de fazer quando está calmo ou num ambiente controlado. Além disso, mesmo que você esteja familiarizado com alguma técnica, a quantidade de estresse pode simplesmente destruir sua capacidade de autodefesa. Por isso, você já deve ter escutado histórias de policiais experientes que foram vítimas de criminosos. Certamente, eles não foram vítimas porque não sabiam lutar, mas porque talvez não soubessem lidar emocional e mentalmente com o estresse da coisa real. Assim, se você possui uma arma, você precisa ser capaz de operar com ela quando o estresse se iniciar. Você precisa ter ideias e métodos simples de ação/reação armada para praticá-los até que se tornem automáticos. Vale lembrar que muito desta prática pode ser alcançada com treinamentos em seco. Você também pode treinar o controle emocional nas atividades do cotidiano, como por exemplo, no estresse do trabalho, do trânsito, das discussões familiares, etc. Claro que nem sempre é possível manter o equilíbrio, mas é uma forma de treino. É bom informar, porém, que o ESTRESSE EMOCIONAL não possui nenhuma relação com esforço físico ou com alguém gritando ou atirando perto de você, como é costume ver em alguns treinamentos. Contudo, o estresse emocional é facilmente obtido por meio da ansiedade de um treino ou atividade em ambientes ou cenários desconhecidos, a chave dos simuladores virtuais e das tecnologias Force-on-force, quando o aluno policial interage com outras pessoas e com a surpresa de cada situação. Além disso, a necessidade de ter que selecionar a melhor opção de reação no menor tempo possível para uma dada situação é o elemento que provoca o estresse emocional que o aluno deve se acostumar.

Treinos com tomada de decisão: nem toda pessoa para quem você aponta uma arma, tem de ser baleada. Num ambiente com diversas pessoas e possíveis criminosos armados, você ainda tem que usar o bom senso. Treinamentos que ensinam o policial a identificar bandidos e espectadores inocentes são extremamente importantes. Tanto para evitar um problema jurídico quanto a perda de vidas inocentes. Certa vez, numa ação de combate ao tráfico de drogas, os policiais à paisana e de armas em punho abordaram uma quadrilha num posto de gasolina. Alguns criminosos tentaram fugir ao cerco policial, bem como um frentista que acreditou tratar-se de um assalto. Em meio à confusão, o funcionário do posto foi baleado no braço por um policial que o confundiu com os criminosos. Então, treinamentos com tomada de decisão sobre o uso da força letal são capazes de incutir o pensamento do tipo “eu só atiro quando tenho certeza!” Outra vantagem desse tipo de treinamento é que ele exige do policial plena concentração na tarefa. Por sua vez, a concentração e a necessidade de avaliação do cenário no qual o policial se encontra, faz com que ele aplique as técnicas policiais com melhor qualidade e segurança, contrariando a velha dinâmica das polícias brasileiras resumida na sigla NHS, ou seja, “Na Hora Sai”. Portanto, só porque você está autorizado a atirar em alguém não significa que você tem ou deve fazer isso.

Familiarização com o porte e o saque de arma dissimulada: se você estiver num confronto com seu adversário e sacar sua arma, você precisará estar familiarizado com ela e com o método de porte dissimulado que você escolheu. Que passos são necessários para que você levante sua camisa e saque sua arma do coldre? Você está usando equipamentos com travas de segurança? Isto é importante porque as coisas nem sempre são fáceis de fazer durante o estresse e com todos os botões e travas que você tem que lidar nesses tipos de coldres. Você também tem que levar em conta a roupa que está vestindo. Com a camisa que você está vestindo agora, é possível livrar toda a arma sem que parte da roupa se enrosque nela? Muitas pessoas pensam que a arma vai aparecer milagrosamente na mão enquanto, na verdade, ela provavelmente ficará presa na camisa, no cinto ou no coldre com trava ou irá cair no chão.

Sobre isso e complementando a primeira parte deste artigo, realizei um teste empírico para aferir o tempo gasto entre o saque de uma arma dissimulada (a partir de coldres e posições diferentes) e o primeiro disparo em seco. As posições de saque foram: frontal, lateral e nas costas. Os coldres usados foram: Fobus GL2, DeSantis The Insider IWR, Galco Small of Back. Vestuário para porte dissimulado: camiseta de manga curta. Quantidade de repetições aproveitadas: 20. Medida de tempo: segundos e centésimos de segundo. Arma usada: pistola Glock. Timer usado: Surefire para Iphone. Treino prévio: nenhum.


Ao final do teste, fui surpreendido pelos resultados. Ou seja, apesar de pregar o uso de coldres na lateral do corpo e portar minha arma dessa maneira, o melhor resultado final foi do saque frontal sem coldre (1,26s). Mas os melhores resultados individuais foram com o saque lateral com coldre Fobus (1,07s). Significa que usar coldre é melhor? Que o porte lateral é o mais rápido? Nada disso! Significa que cada policial apresenta o melhor resultado de acordo com seu modo particular de comportamento e treino. Este é um tipo de teste que você pode fazer no conforto da sua casa, com a arma em segurança total e sem gastar dinheiro com munição e estande. Tome nota dos resultados e observe se seu modo de portar uma arma é realmente o melhor para você. Obviamente, não recomendo o porte traseiro sem coldre com arma invertida (2,95s), pois das repetições de saque que realizei (e foram muitas), aproveitei apenas três.

Ações em ambientes confinados e/ou mal iluminados: um ambiente confinado normalmente é um local desconhecido, cheio de armadilhas e coisas que podem ser usadas para lhe atacar. Um ambiente confinado também pode ser o interior do seu carro, o banheiro do posto de gasolina, a garagem da sua casa ou o espaço entre você e o criminoso. Em locais assim, as técnicas policiais convencionais podem não funcionar adequadamente. Então, só porque você tem uma arma não significa que ela será eficaz em todos os cenários ou que é a única coisa que você pode precisar. Você ainda pode ter que lutar contra um assassino (mano a mano) até que você consiga sacar sua arma, apontar para ele e atirar. Talvez você tenha que lutar pela única arma disponível no momento: a do bandido. Conhecer métodos simples de luta, que serão lembrados e executados quando você estiver sob estresse, é uma necessidade. O agressor tem uma faca e vai atacá-lo, então preste atenção! Se ele é destro e desfere um ataque de cima para baixo, basta você segurar o punho do atacante enquanto posiciona seu pé esquerdo junto ao pé direito dele. Agora é só puxar o braço dele para baixo fazendo um círculo no sentido horário tendo seu pé esquerdo como eixo. Pegue o dedo mínimo da mão direita do agressor e o torça até que ele solte a faca. Pronto! Agora preste ainda mais atenção! Esqueça esta bobagem e não acredite em técnicas espalhafatosas de defesa pessoal, pois uma briga real está mais para um confronto tipo UFC do que para um dia de aula no tatame. Você pode até imobilizar o agressor, mas isso só vai acontecer depois que ele estiver atordoado e caído no chão. Assim, aquele agressor vai lhe atacar com uma faca. Então, corra enquanto tenta sacar sua arma, pois é a técnica mais simples que um policial pode aplicar. Se você não pode correr nem sacar sua arma, prepare-se para receber alguns ferimentos antes de utilizar toda sua raiva e energia contra o agressor, pois na luta pela sobrevivência a natureza não espera que você siga as regras. Continuar a luta quando você já está cansado e sem fôlego é uma obrigação, do contrário, você pode morrer. Por isso, a prática de atividades físicas na função policial é fundamental.

E se sua organização policial não está realmente atenta para essas coisas, pratique exercícios físicos por conta própria e treine com sua arma assim mesmo, pois é você quem está na linha de frente.






quarta-feira, 27 de julho de 2011

E se a polícia dormir?

Mais uma vez me deparo com um artigo que usa parte da matemática para comprovar que a polícia brasileira é assassina por natureza, seja por sua inabilidade no trato com a violência ou pela herança do regime militar. Neste caso, a estatística é uma excelente ferramenta para provar o que se quer dizer, seja lá o que for, especialmente quando os números surgem num país que não apresenta um sistema de dados completo e integrado, e aquele que existe é difícil de mapear, conforme relata o próprio artigo.

“Mais do mesmo!”, pensei, ao ler o artigo denominado “Polícia mata uma pessoa no Brasil a cada cinco horas”, publicado no site da FENAPEF em 25/07/2011, e que parece demonizar a atividade policial brasileira. A mesma polícia a quem todos recorrem quando são vitimados pelo crime e pela violência. A mesma polícia que é obrigada a mediar conflitos quando cada uma das partes acha que tem plena razão. A mesma polícia que procura, apesar dos contratempos, do estigma e do desânimo, zelar pela segurança alheia e pela democracia.

A ideia de que a polícia mata uma pessoa a cada cinco horas, perfazendo 141 homicídios por mês ou 1.693 assassinatos ao ano, segundo o texto, dá a entender que a polícia brasileira é uma máquina maquiavelicamente criada e cronometrada para matar quem quer que esteja em seu caminho na hora fatídica. Os termos “pessoa morta”, “assassinatos”, “violência”, “mortes”, “acobertar”, “execuções”, “ocultando o cadáver” e “letalidade” usados no texto sugerem que a polícia talvez seja a única e verdadeira culpada pelos problemas de violência no país.

Infelizmente, a estatística e o cruzamento dos dados do Ministério da Saúde e das ocorrências policiais que fundamentaram o texto não foram capazes de clarificar quantas mortes foram provocadas em confrontos armados reais; quantos dos mortos eram criminosos que reagiram à ação policial; quantos tinham antecedentes criminais, quais ocorrências podiam ser solucionadas sem o uso da força letal e quais os resultados nefastos a atividade criminosa produziria se não fosse a intervenção policial.

Da forma como os dados foram apresentados, parece que a polícia matou apenas pessoas inocentes. Essa ideia é corroborada pela frase "Pelo menos 1.791 pessoas já perderam a vida pelas mãos dos homens fardados." Mas quem são estas 1.791 pessoas? São criminosos ou são inocentes? A estatística não diz e o artigo também não.

Apesar de serem pessoas, os criminosos que reagem à ação policial assumem o risco de matar, serem presas, feridas ou morrer. Mas porque algumas pessoas pensam que é sempre o policial quem tem que perder o confronto? Porque o policial jurou sacrificar a própria vida em benefício do próximo? Conversa mole! A polícia tem que vencer! Seja nas investigações, seja nas buscas, nas prisões ou nos confrontos armados legítimos, a polícia tem que vencer.

Obviamente, essa ideia não condiz com a realidade, pois os criminosos também querem vencer, mesmo que tenham que matar inocentes, policiais, homens, mulheres, idosos, jovens, crianças, bebês, pais, mães, filhos, etc. A estatística não informa quantas pessoas foram mortas pelas mãos dos homens encapuzados. Do mesmo modo, o artigo. Também não diz quantos policiais foram mortos ou feridos durante o trabalho e nas horas de folga.


O artigo trás um dado mais que conhecido: "70% dos mortos são jovens de 15 a 29 anos." Para quem assiste os noticiários da TV não é novidade ver crianças de 13 anos fumando maconha, furtando badulaques ou roubando carros. Portanto, à medida que envelhece e adquire experiência, o jovem criminoso se qualifica para ações mais violentas e ousadas. Portanto, confrontar a polícia faz parte da dinâmica do jovem delinquente, assim como confrontar as leis e a sociedade. O bandido até poderia morrer de velhice se não fosse o risco da profissão, dos acertos de contas entre desafetos, e a intervenção da polícia na tentativa de realizar sua prisão para levá-lo à justiça. Além disso, todo policial sabe que a terceira idade de todo criminoso começa aos 35 anos. E a estatística também não traça o perfil da vítima; nem o artigo.

Assim, a morte desses jovens não pode ser creditada inteiramente à polícia, visto que o próprio Ministério da Saúde informa que “Na faixa etária de 15 a 19 anos, as agressões (homicídios) caracterizam-se como a principal causa de morte, superando todas as outras formas de morte violenta e todas as enfermidades, gerando, em 2001, um total de 9.908 óbitos (7.041 entre os homens e 590 entre as mulheres). Nesta faixa etária, o risco de morte dos homens foi 11,8 vezes o risco das mulheres.” (Ministério da Saúde, 2004).

Mas ainda ficam algumas dúvidas: quem eram esses jovens? Com quem eles se relacionavam? Onde eles moravam? Onde eles estavam no momento do crime? Como foram as circunstâncias das mortes? Quando e em que horário eles foram mortos? Para responder essas perguntas, recorro, novamente, aos noticiários da TV e dos jornais locais. Creio, inclusive, que você também já tenha traçado um perfil da maioria das vítimas. Então, imagino que eram jovens do sexo masculino, sem ocupação fixa, integrantes de famílias de baixa renda, moradores de locais reconhecidamente violentos, que mantinham relações com criminosos locais ou eram parceiros destes delinquentes, que deviam dinheiro ou eram desafetos destes, que foram assassinados perto de casa durante o período noturno. É possível que neste universo haja vítimas inocentes de maus policiais? Claro que sim! Mas não é a maioria. E qual o perfil dos algozes destes jovens? É o mesmo perfil de grande parte das vítimas. Por isso, você já deve saber que as vítimas de amanhã serão os criminosos de hoje. Isso é pura lógica.

Na sequência, o texto publica uma opinião de que a polícia oculta cadáveres ou elabora autos de resistência para dissimular as execuções que pratica. Isso pode ser verdade? Claro que pode! No entanto, mais uma vez, a estatística e o artigo não informam quais óbitos resultaram de confrontos legítimos e quais foram forjados. Na vala comum dos dados, o texto insinua que as mortes ocorreram em circunstâncias ilegais. O texto só não diz que o Auto de Resistência é uma demanda do artigo 292 do Código de Processo Penal.

Contudo, talvez haja alguma explicação para a suposta letalidade da polícia brasileira. Listarei algumas:
  1. Já que os criminosos não querem ser presos e nem respeitam a autoridade, eles reagem com mais frequência forçando a polícia a escalar o nível de força;
  2. Criminosos morrem em maior quantidade porque são mal preparados nas técnicas de tiro;
  3. Os criminosos morrem em maior número porque a polícia não está tão mal preparada;
  4. Os criminosos morrem mais porque existem aproximadamente 700.000 policiais civis, federais, rodoviários federais, militares e guardas civis no Brasil trabalhando contra o crime e a violência diariamente. Então, 1.693 óbitos anuais representariam 0,24% do possível potencial de letalidade desta força de segurança. Além disso, levaria 413 anos para que a força policial alcançasse 100% deste potencial, considerando que cada policial precisasse usar a força letal ao menos uma vez durante a carreira. Mesmo considerando apenas o efetivo das polícias militares e civis, o potencial de letalidade ainda seria pequeno.
Mas, afinal, a polícia brasileira mata mais ou prende mais? Considerando os dados do Ministério da Justiça referentes à população carcerária no Brasil em 2010 (496.251 presos), pode-se afirmar que a polícia prende mais, pois 496.251 presos para 700.000 policiais representam 70,89% do potencial de trabalho sem violência da força policial, considerando que durante um ano cada criminoso tenha sido preso por apenas um policial. E não é só isso! A cada ano a população carcerária aumenta numa proporção maior que os óbitos provocados pela polícia. Só para você ter uma noção, de 2000 (232.755 presos) a 2010, a população nas unidades prisionais cresceu 113,20%. Além disso, outro relatório do Ministério da Justiça informa que as polícias militares e civis brasileiras prenderam 4.838.345 criminosos em virtude de delitos em flagrante, mandados de prisão e recaptura em 2007. O número de presos, eu repito, foi de 4.838.345. E você sabe quanto representa a morte de 1.693 pessoas (supostamente atribuídas aos policiais brasileiros) em relação ao total de presos? 0,03%.

Alguém ainda pode afirmar que é inadmissível a morte de uma pessoa sequer. Concordo! Entretanto, também é inaceitável a morte de um policial ou de cidadão inocente, do mesmo modo como é inaceitável que alguém morra no trânsito, na maca de um hospital ou durante o trabalho. Infelizmente, é como tudo acontece.

Outro número que você não encontra no artigo é das 2.022.896 ocorrências registradas pelas polícias civis referentes aos crimes perpetrados pelos delinquentes brasileiros no ano de 2005, conforme dados do Ministério da Justiça. E ainda existem os casos não registrados.

Antes de finalizar, é importante relembrar o que já disse no artigo “Por que policiais portam armas?”: “... é necessário um equilíbrio delicado entre a autoconfiança na capacidade de usar a força letal, se for preciso, e o desejo desenfreado de QUERER usar esta força. Este equilíbrio deve alcançar os novos alunos das academias de polícia quando treinados no uso da força letal, pois a polícia precisa de profissionais capazes de atirar sem hesitação, mas que preferem que isso nunca aconteça, tanto quando deve atingir aquelas pessoas que querem matar e vivem para ver este dia chegar. É preciso se LIVRAR deste tipo de pessoa também.”

Agora, e se ao invés de trabalhar em prol do país, o policial decidir correr menos riscos e tirar uma soneca? Bem! Talvez você leia outro artigo informando o crescente número de furtos, roubos, extorsões, roubos seguidos de mortes, sequestros, estupros, homicídios dolosos, tráfico de entorpecentes, maus-tratos, dano, estelionato, fraudes, receptação, etc.

Fontes:
http://www.fenapef.org.br/fenapef/noticia/index/34234
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/saude_brasil_2004.pdf
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJD574E9CEITEMIDC37B2AE94C6840068B1624D28407509CPTBRIE.htm
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDD6879A43EA3B4F1691D2CAFD1C9DDB19PTBRIE.htm
http://portal.mj.gov.br/data/Pages/MJCF2BAE97ITEMIDDBAD310EDF8442E2A21D7EF680172592PTBRIE.htm

terça-feira, 19 de julho de 2011

Autodefesa

Caros amigos,

enquanto eu trabalhava na unidade de repressão ao tráfico de entorpecentes, recebi um convite para participar de um curso profissional na academia de polícia. Agraciado com o título de professor de Armamento e Tiro da NO, retornei ao trabalho decidido em promover um treinamento para os policiais federais da unidade onde eu atuava.

Contudo, ouvindo as histórias contadas por diversos policiais, percebi que muitas das vítimas do crime e da violência sequer conseguiam usar suas armas de fogo ou suas habilidades em artes marciais. O motivo era que os policiais haviam falhado na prevenção contra o crime, no condicionamento mental e no entendimento e gerenciamento do medo antes e durante as situações de perigo das quais sobreviveram, talvez por sorte.

Assim, a ideia de elaborar apenas um manual de armamento e técnicas de tiro foi ampliada e se tornou um projeto concluído no formato de livro em 2010. Registrado na Biblioteca Nacional, o livro intitulado AUTODEFESA CONTRA O CRIME E A VIOLÊNCIA tem sido submetido às análises de algumas editoras. Contudo, a avaliação do material, em alguns casos, tem levado até um ano sem uma resposta conclusiva. Ocorre que um ano, um mês ou mesmo um dia é tempo precioso demais para aqueles que estão sujeitos a serem vítimas de criminosos violentos. Tempo é um luxo indisponível para as pessoas que estão na iminência de serem assaltadas, agredidas, sequestradas, torturadas, violentadas ou assassinadas.

Ao acompanhar as notícias na TV sobre pessoas vitimadas (civis, policiais, homens, mulheres, adultos, jovens, famosos, anônimos, etc.) percebo que muitas delas poderiam estar a salvo se conhecessem as informações disponíveis no livro, pois saberiam que diante da violência existem escolhas além da simples obediência. Então, dada a urgência, tomei uma decisão: publicar o material eu mesmo.

Das 14 capas que desenvolvi, separei três para que vocês possam avaliar e escolher. Assim, basta clicar na imagem para ampliá-la e depois deixar um comentário com o número correspondente ao da capa selecionada (1,2 ou 3).

Obrigado e forte abraço!

Humberto Wendling é policial, instrutor de armamento e tiro e autor dos livros Autodefesa contra o crime e a violência – um guia para civis e policiais e Sobrevivência Policial – morrer não faz parte do plano.

sexta-feira, 1 de julho de 2011

Treinando para a hora da verdade! (Parte 1)

Todo atirador ou policial acerta quando afirma que cada tiro deve ser rápido e preciso. Na verdade, toda simulação “em seco” ou treinamento prático com armas de fogo tem relação com a precisão e a rapidez dos disparos. No IPSC ou Tiro Prático, se o atirador for rápido demais a ponto de errar alguns tiros, ele perde. Se ele for preciso e muito lento, ele perde. Então, o fundamental é o equilíbrio entre a precisão e a velocidade da ação. É como diz um colega: “Primeiro você deve ser preciso, já que a velocidade é adquirida com o treino!”

Mas e quando o policial não está mais num estande de tiro, e sim numa padaria, num posto de combustível ou numa casa lotérica? E quando o policial não está usando o coldre ostensivo? E quando ele está sozinho confrontando dois suspeitos? Pensando sobre isso, acredito que o princípio do equilíbrio continua válido. E se a velocidade vem com a prática, então é preciso treinar. Contudo, existem modos de portar uma arma que são mais acessíveis e rápidos que outros, assim como existem treinamentos que podem ser realizados todos os dias.

Policiais se orgulham de sua capacidade de estabelecer perfis e determinar se alguém é suspeito e se ele está armado. Às vezes, a pessoa observada é um suspeito de fato, e por vezes, é um policial de folga. No entanto, quantas vezes eles pensam na possibilidade de serem identificados como policiais com base no modo como se vestem, se comportam e portam suas armas quando estão de "folga"?

Quando se fala em porte de arma fora do serviço, o que, como e onde o policial porta sua arma é uma questão de estilo de vida, ou seja, cada um faz ao seu modo. É quando você quer estar armado, mas sem parecer que tem uma arma. Na verdade, a maioria dos policiais deseja passar despercebida quando está à paisana. Infelizmente, isso não foi possível para o Policial Federal C.A.C., que foi sequestrado por dois homens armados e depois assassinado após ser reconhecido como policial em 05/04/1987.

Para evitar que se encontrem numa situação vulnerável semelhante ao do Policial Federal C.A.C., alguns policiais carregam uma segunda carteira desprovida de qualquer coisa que possa identificá-los como policiais. Outros carregam suas identidades funcionais em áreas menos acessíveis do corpo. Mas esconder uma arma é bem diferente! E sacar uma arma escondida (enquanto o agressor está perto) é outra coisa!

Tempos atrás eu escrevi sobre algumas medidas que os policiais podem adotar quando estão de folga. Também disse que não existe técnica perfeita ou que possa ser utilizada em todas as situações e que o importante é ter opções. No caso do porte de arma dissimulada, estas ideias não mudam.

O ideal no porte ostensivo duma arma deve ser a segurança, o conforto, a facilidade de acesso e a rapidez do saque. Entretanto, quando você quer que sua arma fique imperceptível ao público, você acaba sacrificando alguma coisa. Quer dizer, justamente quando o policial está mais vulnerável ao ataque dos criminosos, ele tem o acesso e a rapidez no saque prejudicados.

Parte do problema é uma questão de condicionamento ruim: inexistem treinamentos intensos que preparem o policial para reagir, sob condições de intenso estresse, sacando uma arma que está escondida. O que se vê, normalmente, são policiais alinhados sacando armas de coldres ostensivos. Treinos com saque de arma dissimulada são importantes porque o estresse prejudica (e muito) a precisão, e a arma escondida dificulta o acesso e diminui a velocidade da reação. Além disso, poucos policiais realizam treinos “em seco” com suas armas sob a camisa. E o pior: a maioria é resistente a experimentar novos procedimentos. Infelizmente, tais hábitos podem ser fatais para o dono da arma!

Então, se o porte dissimulado é uma questão estilo; se é importante ter opções; se existem modos mais eficazes para portar uma arma; você precisa considerar se seu comportamento atual oferece segurança para as situações mais perigosas. Você precisa avaliar o uso de coldres de qualidade para porte dissimulado que proporcionem a colocação da arma na frente, na lateral e atrás do corpo. Eu disse COLDRES DE QUALIDADE! São eles que protegem sua arma e deixam o porte confortável, evitando que você use as pochetes de "saque rápido" ou deixe sua arma dentro do carro. Certamente, você também precisará de mais de um tipo de coldre para portar sua arma com conforto nas atividades diárias. Você deve treinar em seco (e muito) e com tiro real nestas três disposições para saber qual delas é a melhor, mais acessível e mais rápida para uma determinada circunstância. E você necessita treinar com roupas diferentes também.

Apesar de possuir alguns coldres e já ter portado minha arma nas três posições, frequentemente uso o posicionamento lateral para o uso velado, pois é o mais natural e eficaz, tanto pela acessibilidade quanto pela rapidez no saque, além de ser menos incômodo. É uma posição excelente para quando você está vestindo um paletó ou uma blusa de frio. Já o porte frontal é bom, porém incômodo na hora de se sentar, o que leva o policial a “ajeitar” a arma constantemente na cintura (ajeitar alguma coisa sob a camisa é um indicativo de alguém armado). Contrariando minha preferência pelo porte lateral e frontal, eu usava um coldre Small of Back quando minha hora da verdade chegou. Obviamente, a rapidez no saque de uma arma dissimulada em determinada posição tem relação direta com a quantidade de prática que o policial possui com aquele coldre e naquela posição. Portanto, eu sobrevivi porque treinava com aquele coldre.

O que poucos sabem ou querem entender é que para praticar, você não precisa necessariamente atirar de verdade, já que o treino real nem sempre é viável pela carência de munição, estandes disponíveis, tempo, etc. Daí a importância do treinamento “em seco”.

O treino em seco é a oportunidade para você perceber o que está fazendo de certo ou de errado. Como o subconsciente não sabe a diferença entre uma simulação e algo real, a visualização mental e a repetição são colocadas em prática no treino em seco de maneira que a mente e o corpo interajam para melhorar as habilidades psicomotoras que estão em desenvolvimento.

Entretanto, a aquisição e a conservação destas habilidades requerem não só muita repetição, mas uma frequente manutenção do que foi aprendido, já que tais habilidades são perecíveis.

Para evitar exaustivos treinos em seco, você deve realizar breves sessões com muita concentração e com a arma em total segurança. Treinos extensos irão sobrecarregar sua capacidade e provavelmente terão pouco resultado positivo. Então, o treinamento deve ser frequente ao invés de muito longo.

Seja como for e onde quer que você porte sua arma quando está de folga, por favor, pratique o saque de arma dissimulada e treine vestindo as roupas que você usa no cotidiano. Há uma grande diferença entre o saque e o disparo de sua arma quando você está à paisana e quando você está uniformizado na linha de tiro de um estande.

Portanto, não espere para descobrir essa diferença no pior momento da sua vida!

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Dando sorte para o azar!

Talvez este seja o menor texto que eu escreva. Talvez seja apenas a necessidade de desabafar ou um sintoma do cansaço. Felizmente, porém, ainda me resta a possibilidade de desenvolver e aplicar treinamentos de tiro para os amigos policiais, pois não consigo imaginar nenhum deles caído com o rosto no chão em meio ao próprio sangue ou curvado e imóvel dentro da viatura perfurada por balas. E se um dia eu novamente estiver diante do cano duma arma, sei que após o confronto as primeiras pessoas a quem pedirei ajuda serão estes policiais!

Contudo, cada treino é, na verdade, um exercício de perseverança em respeito aos policiais que desejam aprender, aprimorar suas habilidades e corrigir velhos e péssimos hábitos. Esta é a compensação pelo árduo e invisível trabalho de projetar (durante as madrugadas), desenvolver (nas horas de folga) e aplicar os treinos de tiro (sob o sol e a poeira). Até porque, para cada indivíduo que se nega a treinar (e as desculpas para isso são muitas), existem milhares que vibram apenas com a possibilidade do treino ocorrer; para cada policial que se arrasta até o estande reclamando do calor, da terra ou da chuva, existem outros tantos que sorriem sob estas condições; e enquanto há aquele que acha que sabe tudo, existe alguém que, mesmo conhecendo muito, não perde a chance de ouvir e aplicar as técnicas propostas no treinamento.

Eu sei que nenhum policial é ingênuo a ponto de acreditar que existe a técnica perfeita para todas as situações, sendo que o mesmo princípio se aplica ao policial designado como instrutor. Além disso, reclamar e observar pontos falhos num equipamento, treino ou técnica é um comportamento comum aos policiais que acreditam que algo pode melhorar. Afinal, cada produto deve funcionar no pior momento da vida de um policial, e os treinamentos devem simular, até onde a segurança permitir, as situações reais encontradas no cotidiano policial.

Entretanto, quanto mais técnicas básicas ou avançadas, comuns ou diferenciadas o policial aprende, mais opções ele tem para desenvolver seu trabalho e se livrar dos riscos que corre diariamente. Também sei que as pessoas adquirem hábitos que julgam eficazes (porte sem coldre, arma descarregada, ausência do carregador sobressalente, etc), e se adaptam melhor com determinadas armas, produtos, procedimentos e técnicas. Não é à toa que o mercado de equipamentos policiais (pelo menos o mercado internacional) oferece uma variedade desses itens e cada Organização Policial, mundo afora, ensina técnicas distintas.

Mas se um policial acredita que já sabe tudo, então ele não precisa de treinamento orientado. Basta que ele dê uns “pipocos” numa lata de tinta no sítio de um amigo. Certamente, sua vaga e sua munição serão mais bem aproveitadas por alguém que queira se aperfeiçoar. E ele também não serve para ensinar, porque não há benefício naquele que não consegue ampliar o próprio horizonte.

Se mesmo num dos setores mais especializados da NO, que é o nononononononnn (non), jamais encontrei alguém sem disposição para aprender, por que não me incomodar com os policiais que insistem em fazer certas coisas do modo incorreto? É neste momento que ouço a maior parte das explicações sobre o porquê alguém se comporta do modo errado. Normalmente a explicação padrão é “Eu já me acostumei deste jeito!” ou “Eu sempre fiz assim e funcionou!” Mas uma coisa é fazer algo certo de modo particular, e outra é fazer a coisa errada sempre do mesmo jeito.

Durante um treinamento recente, os policiais foram orientados a realizar a inspeção das armas. O procedimento, que visa evitar disparos acidentais e que desde 2006 segue a orientação do NON, consiste numa inspeção visual (quando o atirador retira o carregador da pistola, observa se ele está vazio, passa a palma da mão fraca por baixo do alojamento do carregador para verificar se ele foi mesmo retirado e observa se a câmara da arma está vazia), numa inspeção tátil (quando ele insere o dedo indicador na câmara de explosão para se certificar sobre a ausência, de fato, de um cartucho na arma) e numa inspeção material (quando o policial fecha o ferrolho, aponta a arma para o alvo e pressiona o gatilho). O processo é redundante, e é assim que deve ser, pois do contrário, um disparo acidental é bem provável. Certa vez, fiz a inspeção ensinada pelo Exército: retirei o carregador, manobrei o ferrolho três vezes e apertei o gatilho. E até hoje me recordo do meu primeiro disparo acidental! Porém, o que eu não entendo é por que os policiais insistiam em fazer a inspeção do modo incorreto, mesmo tendo visto e executado, momentos antes, a verificação da arma do modo certo. Pode ser desleixo ou excesso de confiança do policial! Talvez a insistência em fazer determinadas coisas do modo errado só se resolva quando um disparo não intencional ocorrer. O problema é que aí alguém pode morrer simplesmente pela teimosia do policial.

No mesmo treino, os policiais receberam instruções de como portar os carregadores adicionais de suas pistolas nos porta-carregadores. Ou seja, cada carregador deveria ser inserido de cabeça para baixo e com os cartuchos apontando para frente. Desse modo, no caso de uma troca de carregador, ele seria retirado do porta-carregador e inserido na arma rapidamente, desde que sua retirada fosse realizada no modo correto. Mas alguns policiais persistiam em portar os carregadores invertidos (com os cartuchos apontando para trás). Então, quando o policial retirava o carregador do jeito certo (em forma de pinça), ele não entrava na arma, pois era impossível inseri-lo voltado para trás. Desse modo, o colega perdia tempo girando o carregador até ele ficar na posição correta. Aí veio a brilhante solução típica do Professor Pardal: retirar o carregador com as pontas dos dedos enquanto o pulso era torcido para ajustar o carregador à arma. Pra que simplificar, né?

Não seria mais fácil aproveitar os ensinamentos para corrigir o erro principal? E não seria mais simples aproveitar o treino para praticar o modo correto de se fazer as coisas?

Outro problema diz respeito ao entendimento das regras de segurança e condutas no estande. Todo mundo sabe quando é só um treino, mas talvez ainda reste alguma dúvida sobre os perigos de se manusear ARMAS DE FOGO E MUNIÇÃO REAIS. Infelizmente, é possível que alguém só perceba que o perigo não faz distinção entre um treino e a vida real quando outra pessoa for baleada sem querer. Por isso, antes da atividade, foi informado que era proibido manusear qualquer arma de fogo atrás da linha de tiro, e ainda assim, alguns colegas fizeram exatamente o que não era permitido. E o pior: enquanto sacavam as armas, eles diziam que elas estavam descarregadas. O sujeito, que já errou o procedimento de inspeção, aponta a arma pra você e ainda tem coragem de dizer que ela não apresenta risco.

Finalmente, quando o colega instrutor percebe que os demais policiais fazem o melhor que podem e interagem para aperfeiçoar suas habilidades pessoais e o próprio treino, ele entende que seu trabalho é útil e que existe campo fértil para desenvolver novos treinamentos com total segurança para todos. Mas quando ele precisa trabalhar com os “sabichões”, aí é osso duro de roer!


quarta-feira, 30 de março de 2011

É errado se proteger?

A maioria das pessoas não tem o luxo de um segurança particular, de um carro blindado ou duma arma de fogo. Para algumas dessas pessoas, o que as protege contra a violência é simplesmente a sorte. Para outras, é Deus. E para algumas (a minoria, infelizmente), é a prevenção ou a ação rápida. Entretanto, todas possuem algo em comum: desejam que a polícia faça bem seu trabalho e mantenha a cidade a salvo de criminosos ávidos por trazer a dor e o prejuízo aos cidadãos. E para alcançar esse objetivo, a polícia dispõe de uma das mais antigas e valiosas ferramentas: a busca pessoal.

Normalmente, quando ocorre um crime e as informações ainda são incompletas, a polícia vasculha lugares e pessoas. O objetivo é localizar as ameaças (os criminosos), os lugares onde eles podem estar escondidos e os objetos que podem ser utilizados para ferir ou matar pessoas. Então, o policial pode verificar vários ambientes antes de encontrar o lugar exato. Ele ainda pode parar, entrevistar e realizar uma busca em dezenas de pessoas antes de pegar a certa. Mas se isso não for feito, então os delinquentes jamais serão alcançados.

Contudo, o grande problema da busca, principalmente da busca pessoal, está no fato de que algumas pessoas acham que fazem parte de um grupo seleto e, portanto, isento de ser submetido ao procedimento. Seja pela cor da pele, pela religião, pela riqueza ou profissão que possuem, as alegações para não serem vistoriadas são inúmeras. A indignação e o constrangimento entre essas pessoas são sentimentos corriqueiros. Agora, pergunte a alguém que já foi assaltado ou agredido se ele se incomoda com as entrevistas e as buscas pessoais naqueles que se encaixam na descrição do suspeito. Pergunte à família de alguém que foi assassinado se ela se importa. Pergunte a uma pessoa que foi violentada se ela se aborrece com isso.

Eu entendo que pessoas inocentes se sintam constrangidas com essas buscas pessoais, uma vez que o procedimento é invasivo. Eu mesmo já fui revistado antes de ser policial. Meu carro já foi vistoriado e até a viatura descaracterizada que eu dirigia já foi parada. Sei também que o procedimento é desconfortável eventualmente. Porém, negligenciar a possibilidade de alguém estar armado é sempre perigoso tanto para o policial quanto para o cidadão. Mas se você é inocente, não há nada com que se preocupar.

Mas um caso interessante ocorreu com um policial no Estado do Paraná. Ele narrou a seguinte situação:

“Um indivíduo, aparentemente sob efeito de entorpecente, varou a via preferencial e colidiu o veículo dele no meu. Eu estava acompanhado de minha família, eis que o indivíduo desceu do veículo e veio em minha direção dando a impressão de estar armado, colocando a mão sob as vestes. Achei necessário sacar minha arma e me identificar como policial para realizar a abordagem e a busca pessoal para garantir minha integridade física e de minha família, já abalada com o acidente. Ocorreu que o indivíduo se sentiu ofendido, pois para realizar a busca pessoal ordenei que o mesmo ficasse de joelhos, cruzasse as pernas e entrelaçasse os dedos atrás da nuca. Dessa forma fiz a busca pessoal, mas agora estou respondendo a um processo administrativo.”

Bem! Não conheço técnica que ensine o policial a fazer abordagens e buscas pessoais quando está sozinho. Mas uma coisa eu posso afirmar: o policial paranaense agiu certo e de acordo com aquilo que aprendeu no tocante à busca pessoal. Alguns instrutores podem até dizer que o policial errou ao contrariar a orientação de que jamais se deve atuar sozinho. Isso se aplica perfeitamente ao trabalho policial coletivo, mas é sem valor quando se está na iminência de uma agressão. Então, tanto faz se ele está sozinho ou com um colega ou com um batalhão. Alguém que percebe que vai ser atacado deve fazer alguma coisa para se defender.

Antes de avaliar o procedimento adotado pelo policial paranaense, é importante falar sobre a PERCEPÇÃO DE AMEAÇA1. A percepção de ameaça é aquilo que norteia a conduta do policial. Quer dizer, muito daquilo que o policial faz está baseado nas ações do suspeito. Se ele é obediente, então o policial se aproximará calmamente, fará uma entrevista e, se achar necessário, fará a busca pessoal. Entretanto, se o suspeito resiste ou dá dicas de que vai reagir, então o policial aumentará o nível de força para alcançar seu objetivo. E adivinhe que objetivo é esse? Estar a salvo! Mas não se engane com suspeitos de comportamento submisso, pois eles estão avaliando a atitude do policial para concluir se atacam ou obedecem. Assim, um policial de atitude frouxa ou relaxada pode provocar a reação do suspeito. E como não é possível determinar se a pessoa abordada é um cidadão ou um criminoso, o policial deve sempre ser cauteloso e firme. E é aqui que a atitude do policial esbarra nos sentimentos daquelas pessoas que se acham acima de qualquer suspeita.

A equação no caso narrado pode ter sido a seguinte: noite + desrespeito à sinalização + acidente de trânsito + motorista com raiva + motorista se aproximando com olhar fixo + motorista colocando a mão sob a camisa + possível arma escondida = iminência de um ataque. Foi isso que deu início à reação do policial, e o fato do motorista estar blefando ao simular a posse de uma arma não faz a menor diferença. Naquele instante, o policial precisava garantir sua segurança e de sua família. Ele sabia que a situação estava contra ele, pois o motorista já estava fora do veículo caminhando diretamente em sua direção e a um ou dois segundos de sacar uma arma sob a camisa.

A capacidade de um homem armado persuadir seus opositores é tão grande que mesmo que ele não mostre a arma ou apenas simule a intenção de sacá-la já é suficiente para provocar medo. Talvez, esse homem ainda seja capaz de provocar uma fuga em massa. Apenas para ilustrar esta real possibilidade, relato outro fato ocorrido há cerca de 20 anos no Mirante, um conhecido ponto de encontro em Belo Horizonte/MG. Neste local, as pessoas aproveitavam o fim da madrugada para namorar, conversar com amigos, etc. Certo dia, eu estava numa rua que dava acesso ao ponto mais alto do Mirante quando vi um homem sendo perseguido por quatro vendedores ambulantes que trabalhavam nas redondezas. Em dado momento da perseguição, a vítima fez meia-volta, levantou a parte detrás da camisa com uma mão e alcançou um objeto escondido com a outra. Quando vi a cena, logo pensei: “Ele está armado!” Os perseguidores também entenderam o gesto e chegaram à mesma conclusão. E o que eles fizeram? Fugiram num piscar de olhos! Mas para minha surpresa, a vítima não estava armada, mas apenas blefando para se safar do espancamento certo.

Assim, muito da atitude do policial do Paraná se relacionou com a comunicação não-verbal, ou seja, os gestos e posturas que possuíam um significado óbvio no momento. Ele entendeu a mensagem do motorista e tomou a única decisão adequada ante a iminência do ataque. Ele também se identificou, o que é de grande importância, já que o motorista poderia ser um policial. Agora, imagine se ele hesitasse ou aguardasse para ter certeza se o motorista estava armado ou não. Se houvesse uma arma, então ele não teria tempo para se salvar.

Mas ordenar que o suspeito se ajoelhe não parece um exagero, já que é possível realizar uma busca pessoal com ele de pé? Sim e não! Se o policial estivesse realizando a abordagem com auxílio de outro policial, então haveria segurança para permitir uma busca com a pessoa de pé. Mas o policial estava sozinho e o motorista se comportou como se estivesse armado. A solução foi colocá-lo de joelhos e com as pernas cruzadas para restringir sua mobilidade, uma vez que é mais fácil se aproximar e controlar a situação quando o suspeito está imóvel.

Outra vantagem em interagir com alguém que está relativamente imobilizado tem relação com o processo de ação e reação. Quando um suspeito faz um movimento, o policial assiste esse movimento, depois processa a informação e só então reage. Assim, o policial está sempre atrasado em relação à ação do suspeito. Por isso a ação é mais rápida que a reação. Portanto, manter alguém ajoelhado e com as pernas cruzadas força esse indivíduo a realizar mais movimentos antes de iniciar uma fuga ou um ataque (primeiro ele precisa descruzar as pernas, depois tomar impulso e aí ficar de pé). O excesso de movimentos do suspeito dá ao policial tempo adicional (segundos ou décimos de segundo) para perceber o que está ocorrendo e se preparar para agir.

Curiosamente, é mais difícil girar o tronco quando se está de joelhos e com as pernas cruzadas ou contra uma parede e com as pernas abertas em comparação à posição de pé. Uma pessoa de pé pode girar o tronco e observar tudo que ocorre a sua volta, já que as pernas colaboram na torção do corpo sem que se perca o equilíbrio. Mas quando se está ajoelhado e com as pernas cruzadas, a capacidade de torção do corpo se limita ao giro do tronco, restringindo o campo visual do suspeito. Isso representa uma vantagem tática para o policial, já que o suspeito não consegue observar tudo que se passa ao seu redor. É mais difícil agir contra o desconhecido!

Uma frase é unânime nas academias de polícia do mundo inteiro. E ela diz que “as mãos matam!” Por isso não há nada de estranho em determinar que alguém com um comportamento hostil mantenha as mãos sobre a cabeça. O objetivo disso é apenas dificultar o acesso à arma escondida, mesmo que ela não exista.

Finalmente, todos sabem que as ruas são perigosas e que bons homens morrem todos os dias. Mas quando os bandidos estão à solta, é sempre a polícia a única responsável por trazer a segurança que todos desejam. Parar, entrevistar e revistar alguém ajuda a fazer exatamente isso!

1 “O objetivo de todo treinamento sobre o uso da força deve ser a percepção de ameaça, fazendo o policial reconhecer as dicas de ameaça e responder na hora certa. Esse tipo de treinamento deveria se concentrar nos indicadores ou sinais que mostram uma intenção hostil e a capacidade do criminoso de colocá-la em prática. O treinamento de uso da força deve ser aplicado na percepção de ameaça para que os policiais possam reagir a uma agressão iminente e não a um ataque atual. Para isso, é fundamental o policial se concentrar nas dicas de ameaça que indicam a capacidade do suspeito em ferir e/ou matar, e então responder de modo adequado, sem sugestões para esperar a agressão ocorrer. A falta dessa avaliação pode colocar o policial em desvantagem, inibindo sua ação e deixando pouco tempo para uma resposta eficaz. A avaliação da ameaça permite que o policial inicie a ação e assuma o controle da situação antes do criminoso. Uma política de uso progressivo da força não deve determinar que o policial espere até que a agressão ocorra, pois a ação é sempre mais rápida que a reação. Um policial não pode determinar o que há na mente de um criminoso a não ser pelo que ele disser e a linguagem corporal indicar. O policial precisa agir a partir de dicas de ameaça percebida antes que o suspeito o faça, colocando assim, o policial em vantagem.” (Humberto Wendling, A interferência do medo e do estresse nas habilidades policiais treinadas para o enfrentamento de situações com confronto armado, 2007).