domingo, 30 de junho de 2019

Lançamento do livro POLICIAIS: COLETÂNEA



Eu acabei de completar meu 22º ano de trabalho policial, mas só após o 10º ano que passei a observar com cuidado a cultura da profissão.

Não é uma cultura encontrada em todos os lugares. E embora muitas práticas sejam positivas, é preciso reconhecer que outras não são.

Por incrível que pareça, esses problemas incluem coisas que controlamos, como usar coletes balísticos, cintos de segurança, adquirir equipamentos de qualidade superior, desenvolver e participar de treinamentos profissionais, atuar como equipe coesa, modificar nossa mentalidade e nosso comportamento.

Eu sinceramente acredito que isso, por si só, reduziria o número de colegas mortos em serviço e fora dele.

Vinte e dois anos atrás, quando ingressei na polícia, recebi um conselho logo no primeiro minuto: “Fale pouco, ouça muito e não confie em ninguém!” Ao longo do curso, aprendi um pouco do trabalho, mas ninguém me orientou sobre como me proteger para fazer esse trabalho.

Nunca esquecerei uma aula sobre barreira policial e abordagem veicular. Durante o exercício, um instrutor me entregou uma espingarda e disse: “Fique aqui!”. Eu não questionei. Cinco minutos depois, outro instrutor gritou: “Oh, o que você tá fazendo aí? Você tem que ficar lá!”. Também não questionei; e como o segundo instrutor foi enfático, mudei minha posição. Na prova teórica sobre a matéria, lá estava a questão: Qual o posicionamento correto do policial que faz a segurança usando a arma longa numa barreira policial? No croqui, marquei a posição indicada pelo segundo instrutor, mas a alternativa estava ERRADA. Conclui o curso e assim que comecei a trabalhar, o treinamento ruim se transformou em incerteza e entrou em contato com a tradição, resumida pela sigla N.H.S. (na hora sai).

Nos últimos 12 anos, eu tenho alertado sobre a necessidade de mudança de parte da cultura policial que promove comportamentos ruins e, portanto, custa a vida de muitos de nossos colegas. Infelizmente alguns desses erros produzem tragédias que poderiam ser evitadas, e muitos deles podem ser atribuídos a uma cultura que nos ensinou comportamentos inseguros. Mas nós devemos atacar esse problema cultural dando aos policiais informações, equipamentos e treinamentos adequados. Mudar uma cultura ruim envolve a formação e o treinamento de cada policial, inclusive sobre sua parcela pessoal de responsabilidade.

Muito da história da polícia brasileira tem sido escrita com o sangue de nossos colegas. Porém pouco nos esforçamos para aprender a lição, mesmo quando nos deparamos com nossas galerias de heróis.

Precisamos ter autocrítica, divulgando, explorando e corrigindo nossos erros em benefício da salvaguarda dos colegas que persistem no serviço policial. Não podemos cruzar os braços e imaginar que não há nada a ser feito porque as “coisas são assim mesmo”. Essas mudanças podem salvar vidas e isso é o suficiente para agirmos AGORA.

Assim, podemos mudar para melhor, eliminando o comportamento inadequado, ou nos inclinarmos à evolução natural do mundo MAIS TARDE.

Por isso, o livro POLICIAIS: COLETÂNEA (2019, 474 páginas, formato A5) incorpora artigos escritos no período de 12 anos, para que você os incorpore na sua vida e no seu trabalho hoje e sempre.

Humberto Wendling