quinta-feira, 23 de abril de 2009

Quanto vale a sua vida? Pergunte a quem te ama!

Recentemente, um policial me perguntou qual é a melhor maneira para se portar uma arma de fogo quando se está à paisana: se na pochete ou a tiracolo.

Bem, isso depende de quanto dinheiro você está disposto a investir.

Se você possui um plano de assistência funerária, sua família não terá nenhuma despesa com seu enterro, pois você já pagou a despesa antecipadamente, que, diga-se de passagem, pode variar de R$ 1.450,00 (plano simples) a R$ 17.280,00 (plano luxuoso).

Porém, sem um plano funeral os custos ainda podem ser altos. Um funeral simples pode ser feito por apenas R$ 300,00. Mas, se seus familiares desejarem algo melhor pra você, os gastos podem chegar a R$ 7.480,00. Nos dois casos estão incluídos a remoção, a limpeza e tamponamento do seu corpo; o caixão, flores, véu, velas, castiçais e a coroa. O que muda é o tipo de material usado, podendo ser o mais simples ou o mais aprimorado e moderno.

Para realizar o velório numa capela de um cemitério, sua família precisa pagar uma taxa de R$ 50,00. Se você já possui um túmulo, “ótimo”! Entretanto, para comprar o jazigo, talvez alguém tenha que gastar R$ 600,00 por um jazigo simples ou R$ 1.500,00 por um duplo. A maioria das pessoas provavelmente escolhe comprar o jazigo simples.

O mármore ou granito que revestirá seu túmulo pode custar de R$ 1.700,00 a R$ 4.000,00, dependendo do tipo de material e o modelo da lápide. E ainda tem o padre e a missa de sétimo dia...

Então, serão utilizados ao menos R$ 2.650,00 no seu enterro, considerando R$ 300,00 pelo funeral simples, R$ 50,00 pela capela, R$ 600,00 pelo jazigo simples e R$ 1.700,00 pela lápide simples.

Agora, do mesmo modo que seus familiares podem escolher entre um funeral simples ou aprimorado, você também pode escolher um coldre molambento, uma pochete “saque rápido” ou pode comprar um coldre importado de polímero por R$ 99,00 e um porta-carregador duplo também por R$ 99,00. No total, isso vai lhe custar R$ 198,00, quer dizer, bem mais barato que seu enterro. E não adianta comparar com o seu salário, pois ainda assim é mais barato!

Armas não combinam com pochetes ou bolsas a tiracolo. E o motivo é simples: se você for pego de surpresa, o que você acha que o assaltante vai tomar de você primeiro? Ele vai tomar sua bolsa, sua pochete, e depois as outras coisas. Então, num piscar de olhos você vai perder a única ferramenta capaz de te dar alguma chance para salvar sua vida.

E o pior, se o criminoso for um assassino nato, e se ele perceber que sua pochete ou bolsa está mais pesada do que o normal, talvez ele a abra. Se ele fizer isso, talvez atire em você simplesmente porque encontrou sua arma, mesmo que você já esteja rezando e implorando por sua vida.

Arma de fogo deve ser portada num coldre de qualidade e na cintura. O investimento parece caro, cerca de R$ 200,00, para um bom coldre de polímero. Contudo, ainda é mais barato que sua arma, muito mais barato que seu funeral, e sem comparação com a falta que você vai fazer para sua família.

Mas o que você precisa fazer para portar uma arma no coldre sem que pareça estar armado? Comprar camisas mais largas ainda, experimentá-las no vestiário da loja com a arma no coldre e na cintura. Simples assim!

Lembre-se, você não está num desfile de moda. Você está na polícia!

domingo, 5 de abril de 2009

Sua rotina pode ser mortal!

Imagine que você participou de um treinamento de autodefesa policial que incluiu estatísticas sobre policiais mortos, histórias terríveis sobre violência, e talvez um ou dois assassinatos gravados por circuitos de TV.

Você terminou o curso impressionado com o potencial de ser a próxima vítima do crime e da violência mesmo sendo um policial. Então, você fica alerta, consciente, observa as redondezas, sendo mais cauteloso sobre pessoas que considera potencialmente suspeitas. Mas, quantos dias você acha que isso vai durar?

Com o tempo, a ausência de consequências perigosas reais faz você relaxar. E apesar de você estar interessado na sua segurança e possuir o conhecimento do que deve ser feito, você não consegue agir adequadamente. Suas habilidades de sobrevivência, seu estado de alerta logo começam a desaparecer. Por quê?

Porque o cérebro está orientado para automatizar comportamentos repetitivos, pois é a maneira como os seres vivos trabalham. Muito do comportamento humano diário é automatizado, e isso acontece sem você perceber.

Psicólogos estimam que mais de 90% desse comportamento humano diário ocorre sem consciência ou pensamento deliberado. Atividades repetitivas tornam-se ações automáticas para liberar sua atenção para coisas que são novas, desconhecidas ou ameaçadoras. Se não fosse dessa maneira sua mente ficaria sobrecarregada e seria sobrepujada com a mais simples das tarefas.

Assim, pessoas expostas periodicamente a lugares altos reduzem seu medo de altura. Pessoas com dificuldade de falar em público sentem-se mais confiantes em frente desse público depois de exposições habituais. Do mesmo modo, pessoas que são rotineiramente expostas a situações potencialmente perigosas tornam-se menos cuidadosas em tais situações. Isso se chama habituação.

É bem verdade que o hábito ou a rotina facilita e põe ordem no seu trabalho e na sua vida, pois é sua experiência acumulada ao longo do tempo trabalhando para você de modo automático. Contudo, exposições habituais a determinadas ocorrências, mesmo que perigosas, entediam seu mecanismo de autodefesa. Então, a rotina trabalha contra você quando se é exposto muitas vezes a situações potencialmente arriscadas onde nada acontece, e depois de uns 10 anos, ela mata um número considerável de policiais.

De acordo com os relatórios anuais do FBI sobre policiais mortos e agredidos, o tempo médio de serviço dos policiais mortos nos Estados Unidos é de 10 anos, e a média de idade desses policiais é de 36 anos. Nem um “novinho”, nem um “antigão”, mas alguém no meio da carreira, se você considerar que um policial brasileiro precisa ter 20 anos de serviço estritamente policial para se aposentar.

“Nada é rotina!”, “Evite a rotina!” e “Os maiores inimigos do policial são: a rotina e o excesso de confiança!” são algumas das frases que nós, instrutores, repetimos desde que começamos a falar sobre sobrevivência policial. Mas, você já deve estar cansado de ouvir isso!

A realidade é que barreiras policiais, buscas e apreensões, prisões, entrega de intimações, entrevistas e interrogatórios, condução de presos e outras ocorrências onde nada acontece são, de fato, rotina. Você pode chamá-las do que quiser como “baixo risco”, “alto risco”, mas o nome não altera as mudanças inconscientes que ocorrem dentro da sua mente quando você realiza tarefas sem consequências centenas de vezes ao longo dos anos.

O fato é que palavras ou frases não protegem nem matam policiais. Mas, o que você precisa perceber é que atividades diárias realizadas repetidas vezes, ano após ano, tornam o risco inerente cada vez mais invisível, e quando isso acontece você tende a fazer uma de duas coisas: se torna complacente com os perigos dessas atividades ou aumenta sua exposição ao risco para satisfazer sua necessidade natural de emoção. As duas coisas caminham lado a lado e se complementam. Não é por acaso que a complacência e o comportamento de risco estão diretamente ligados a um grande número de policiais mortos não só por criminosos, mas também por acidentes.

Você também precisa entender que enquanto abordagens de modo geral tendem a ser a atividade mais comum, qualquer coisa pode se tornar rotina se feita muitas e muitas vezes sem que algo ocorra para estimular sua percepção de que qualquer operação é um evento desconhecido cheio de riscos e imprevistos.

Talvez você não acredite, mas o perigo, o risco e a incerteza são alguns componentes que tornam o trabalho policial atraente para muitos policiais ou pelo menos para os policiais natos. Por isso, eles têm não só certa tolerância ao perigo, mas uma verdadeira necessidade dele. Não é incomum esse tipo de policial se sentir desestimulado e “sem rumo” ao ser designado para atividades administrativas ou consideradas sem importância.

É fato que alguns policiais ajustam seu comportamento para manter a exposição ao risco no nível que precisam. Eu chamaria isso de regulador fatal.

Deste modo, se a rotina torna o risco existente na atividade policial invisível, você irá inevitavelmente assumir riscos adicionais. E isso acontece quando você não espera o reforço, avança um sinal vermelho sem diminuir a velocidade, entrega sozinho uma intimação, vai só ao encontro com um informante, algema o preso para frente ou não algema, dorme dentro da viatura, confia na denúncia anônima, etc. Mas a verdade é simples: quanto maior o risco assumido, maior a chance de você morrer.

Não estou dizendo que policiais querem ser mortos, mas eles procuram estar presentes em uma variedade de situações arriscadas ou não se sentem policiais. Afinal de contas, eles correm em direção ao perigo, e não ao lado da multidão em pânico.

O mesmo tende a ocorrer com a complacência. Nada melhora suas habilidades de sobrevivência quanto ter um criminoso tentando ferí-lo ou matá-lo. O problema com este tipo de “motivação” é que você se arrisca a ser ferido gravemente ou morto no mundo real. E essa não é uma espécie de motivação que faça qualquer sentido.

Portanto, é hora das organizações policiais introduzirem gradualmente treinamentos que previnam a complacência e o comportamento de risco independentemente do tempo de serviço dos policiais. Pois é tarefa de cada policial se preparar para estar no auge da capacidade de sobrevivência, não importando as vezes que você já atendeu o mesmo tipo de ocorrência, na mesma cidade, no mesmo bairro, no mesmo comércio, procurando pelo mesmo bandido de sempre, no mesmo beco, nestes últimos 10 anos.


Quer levar um tiro?

Depois de um dia de trabalho, um policial encerrou sua atividade, tirou o uniforme e voltou para casa. Enquanto dirigia seu carro, ele percebeu uma barreira policial logo à frente. Como profissional experiente, o policial reduziu a velocidade, baixou os vidros, desligou o farol – mantendo apenas o farolete – e tentou localizar algum colega para saber se seguia ou não seu caminho. Ele fez isso porque queria facilitar o trabalho dos colegas. Ele viu um policial ocupado, e então continuou dirigindo devagar. De repente, uma policial mandou que ele parasse enquanto gritava: “Num está vendo que é uma abordagem? Quer levar um tiro?”. Pronto! O policial parou o carro, se identificou e a confusão se instalou.

Parece fantasia, mas isso aconteceu realmente, e numa cidade do interior. E apesar de você, como policial, estar “acostumado” com o crime e a violência, nunca há espaço para entender e aceitar a brutalidade e o despreparo com os quais alguns colegas lhe abordam.

A narrativa releva três graves e tristes fatos em relação aos incontáveis desentendimentos entre colegas policiais.

O primeiro fato é que muitos policiais desconhecem a importância do seu trabalho para a sociedade. Assim, é preciso aprender e reconhecer que para se perpetuar a paz deve-se combater a violência, e não promovê-la desnecessariamente. Pouquíssimos homens são capazes de negar a necessidade de se combater os assassinos, os torturadores, os assaltantes, os ladrões, os estupradores, os traficantes, os contrabandistas, os falsificadores, os golpistas, os corruptos, etc. No mundo inteiro, o preço por esta democracia e pela civilização é pago por cada policial engajado neste confronto de vida ou morte. Assim, cada policial deve entender que seu dever fundamental é servir à sociedade; resguardar vidas e propriedades; proteger o inocente contra a artimanha; o fraco contra a intimidação; a tranquilidade contra a violência e a desordem; respeitando os direitos de todo cidadão em benefício da liberdade, da justiça e da paz. Portanto, no dever policial não há lugar para se combater outro policial.

O segundo fato é que sempre que um policial avança um sinal vermelho, faz um retorno proibido, dirige em alta velocidade, xinga, grita, saca uma arma ou pergunta se você quer levar um tiro – tudo isso sem necessidade – ele envia uma clara mensagem de que está despreparado para exercer bem e de modo confiante sua tarefa de proteger e ajudar o cidadão. Além do mais, perguntar para qualquer pessoa insuspeita se ela quer levar um tiro, demonstra o quanto é perigoso para alguém – e para outros policiais também – ser abordado nestas barreiras. Significa que o policial que faz uma pergunta desta natureza não sabe em que circunstância está autorizado a usar a força letal. Muitas pessoas não param nas blitze porque são surdas, não enxergaram o comando para parar, estão com medo, etc. Algumas vezes, estas operações são tão descoordenadas que um policial manda o motorista seguir, e outro manda o mesmo motorista parar.

E o terceiro fato, mas não menos importante, é que enquanto alguns policiais brigam entre si, todos perdem a capacidade de perceber quem é o verdadeiro inimigo. Você sabe que seu dever como policial é perigoso. As responsabilidades que acompanham sua tarefa são muitas: prisão e interrogatório de criminosos, investigação de situações e pessoas suspeitas (arrombamentos e roubos em andamento), atendimento às ocorrências de distúrbios (discussões entre familiares, brigas em bares, pessoas armadas e disparos em vias públicas), operações de inteligência (infiltração em ambientes hostis, vigilância e ações veladas), perseguições automotivas, barreiras policiais, trato com indivíduos mentalmente perturbados e custódia de prisioneiros, para citar algumas. Se isso não bastasse, muitos policiais tornam-se vítimas de emboscadas criminosas simplesmente por causa de suas escolhas profissionais. Pense nisto: enquanto policiais brigam, criminosos cavam túneis e fogem. Amanhã, eles estarão livres para matar alguém que você ama.

Portanto, o trabalho contra o crime e a apreensão em relação à sua segurança não podem eliminar sua habilidade de se adaptar às circunstâncias e sua capacidade para ser um profissional firme, porém cordial com o cidadão que precisa confiar em você. Ainda mais se este cidadão for um colega de trabalho que algum dia pode salvar sua vida.