O
treinamento com armas de fogo é parte fundamental na atividade policial pela
importância da salvaguarda dos cidadãos e dos próprios policiais em todo o
mundo. Em mãos criminosas, a arma é um instrumento de ataque. Já nas mãos do
cidadão e da polícia é uma ferramenta de defesa.
Mas, só
porque o policial tem uma arma, foi ao estande e atirou contra um alvo de
papel, não significa que ele seja capaz de perceber o perigo e agir
corretamente num confronto real. E isso é um contrassenso! Por quê? Se
perguntarmos a qualquer policial que foi forçado a sacar a arma e atirar num
agressor, ele vai dizer que as coisas são bem diferentes quando alguém está
tentando matá-lo. Apesar disso, essa diferença não enfraquece ou elimina a
importância do treino com armas de verdade. Pelo contrário, a distância entre a
realidade e o treinamento precisa ser diminuída (considerando os parâmetros de
segurança) e o treino com tiro real tem de ser constante, consistente,
profissional, técnico e objetivo (uma raridade nas polícias brasileiras).
Então,
alguns policiais têm a ideia equivocada de que possuir uma arma e dispará-la
algumas vezes é o suficiente para ter EXPERIÊNCIA,
saber o quê e quando fazer, e estar protegido contra os criminosos. Por causa
da arma na cintura e do treino convencional, eles acreditam que são capazes de usá-la
na hora da necessidade, disparando uma quantidade determinada de tiros para
incapacitar o agressor e repelir a ameaça com eficácia.
Para
diminuir esse perigoso erro de avaliação, outro modelo de treinamento policial,
em complemento ao atual, precisa ser utilizado para permitir a interação real entre
os participantes e a capacidade de pensar e responder, da melhor maneira
possível, ante o IMPREVISTO.
Para isso,
já existem as tecnologias do tipo Force-on-Force
(Simunition®, Airsoft) e os simuladores virtuais de tiro.
O Airsoft está ganhando força no
Brasil e, pessoalmente, espero que melhore cada vez mais. Na verdade, desejo
que todo cidadão possa portar uma arma de fogo ESTRANGEIRA e comprar munição em boa quantidade; que o esporte de
tiro ganhe mais e mais praticantes; que estandes de tiro de excelência propaguem
pelo país; e finalmente, que a compra de
material bélico policial seja submetida EXCLUSIVAMENTE
à análise de quem faz polícia e está numa guerra verdadeira e diária.
Bem, essas tecnologias
obrigam o policial a experimentar a ANSIEDADE
de uma ação ou reação policial, os conflitos sobre o uso da força letal, as
dificuldades dos confrontos em ambientes confinados e/ou com baixa visibilidade,
a viabilidade e dificuldade de emprego de determinados equipamentos (coldres, uniformes,
roupas civis, rádios HT, lanternas) e procedimentos (verbalização, técnicas, comportamento,
etc.). São instrumentos capazes de ensiná-lo a fazer o que precisa ser feito, a
fim de se proteger, mas, sobretudo, SOBREVIVER
ao confronto.
Os
exercícios Force-on-Force (simulando
situações reais, inclusive as vivenciadas por outros colegas policiais,
conforme os ESTUDOS DE CASOS – outra
raridade nas polícias nacionais) permitem a construção da EXPERIÊNCIA PRÁTICA. Outra forma de construir esse conhecimento é a
participação em confrontos armados reais, cujo risco não vale o benefício.
Instrutores
e gestores PROFISSIONAIS precisam aprimorar
a formação do policial em algumas das seguintes áreas:
Treino sob estresse: treinamento sob estresse é importante porque
quando estamos sob estresse sempre recorremos às coisas que conhecemos por
instinto, ou seja, aquilo que é básico em nossa formação. Por isso, não conseguimos
realizar tarefas complicadas capazes de serem feitas quando estamos calmos ou
num ambiente controlado. Além disso, mesmo que estejamos familiarizados com
alguma técnica, a quantidade de estresse pode simplesmente destruir nossa
capacidade de autodefesa. Nós já escutamos histórias de policiais experientes
que foram vítimas de criminosos. Certamente, eles não foram vítimas porque não
sabiam lutar, mas porque talvez não soubessem lidar emocional e mentalmente com
o estresse da coisa real. Assim, se o policial possui uma arma, ele precisa ser
capaz de operar com ela quando o estresse se iniciar. Ele precisa ter ideias e
métodos simples de ação/reação armada para praticá-los até que se tornem
automáticos. Felizmente, o estresse emocional é facilmente obtido por meio da
ansiedade de um treino ou atividade em ambientes ou cenários desconhecidos, a
chave das tecnologias Force-on-Force,
quando o aluno policial interage com outras pessoas e com a surpresa de cada
situação. Além disso, a necessidade de ter que selecionar a melhor opção de
reação no menor tempo possível para uma dada situação é o elemento que provoca
o estresse emocional que o aluno deve se acostumar.
Mas
lembre-se: TREINO SOB ESTRESSE É
DIFERENTE DE “PRESEPADA”. Técnica (conhecimento) e fanfarronice são como
água e óleo; não se misturam. Onde há técnica não há presepada! E se há
fanfarronice, infelizmente o aluno policial está no lugar errado! Vocês
entenderam...
Treino com tomada de decisão: nem toda pessoa para quem o policial aponta uma
arma, tem de ser baleada. Num ambiente com diversas pessoas e possíveis
criminosos armados, ele ainda tem que usar o bom senso. Treinamentos que
ensinam o policial a identificar agressores e inocentes são extremamente
importantes. Tanto para evitar um problema jurídico quanto a perda de vidas indefesas.
Treinamentos com tomada de decisão sobre o uso da força letal são capazes de
incutir o pensamento do tipo “eu só atiro quando tenho certeza!”, frase do
professor, amigo e Agente Federal Agrelli. Outra vantagem desse tipo de
treinamento é que ele exige do policial plena concentração na tarefa. Por sua
vez, a concentração e a necessidade de avaliação do cenário no qual o policial
se encontra, faz com que ele aplique as técnicas policiais com melhor qualidade
e segurança para todos.
Familiarização com o porte e o saque de arma
dissimulada: se o
policial estiver num confronto com seu adversário e sacar sua arma, ele precisa
estar familiarizado com ela e com o método de porte dissimulado que escolheu. Que
passos são necessários para que o policial levante a camisa e saque a arma do
coldre? Ele está usando equipamentos com travas de segurança? Isso é importante
porque as coisas nem sempre são fáceis de fazer durante o estresse. O policial
também tem que levar em conta a roupa que está vestindo. Com a camisa que ele
está vestindo no treino Force-on-Force,
é possível livrar toda a arma sem que parte da roupa se enrosque nela?
Treinamentos
sob estresse, com tomada de decisão em cenários realísticos não são permitidos
com o uso de armas de fogo sob pena de uma falha do policial provocar um
disparo acidental com ferimento. Nenhum desses problemas ocorre com as
tecnologias Force-on-Force. Por essas
razões, o NONO/NON/NO e o NON/NO há anos treinam com um dispositivo denominado Simunition. Entretanto, devido ao alto
custo de aquisição dos kits de conversão (que transformam as armas de fogo em
instrumentos não letais), o custo da munição, dos equipamentos de proteção
individual (para todo o rosto e tronco), da impossibilidade de utilização do
aparato em qualquer ambiente, a inovação tecnológica produziu outro instrumento
de treino chamado Airsoft.
Em resumo,
as armas Airsoft são réplicas de
armas de fogo (pistolas, submetralhadoras, fuzis de assalto, rifles,
espingardas) que funcionam com gás comprimido ou baterias recarregáveis e
lançam pequenas esferas plásticas. Sob todos os aspectos, o Airsoft é mais econômico e fácil de
operar se comparado com o Simunition,
inclusive permitindo que o policial treine com os mesmos equipamentos que
dispõe para a atividade diária (roupa, coldre, lanterna, etc.). O equipamento
individual se resume a proteção do rosto (óculos de proteção e mascara para
nariz e boca), e o local para o treino não exige especificações técnicas como
um estande de tiro, por exemplo. Isso significa que o efetivo policial pode ser
treinado no próprio local de trabalho, o que gera ainda mais economia de
recursos e nenhuma preocupação com as condições climáticas (calor, frio, chuva).
Também permite que o policial mantenha sua agenda de treinamento com elevada carga
de disparos e simulações (com baixo custo), impossíveis de serem efetivadas com
as armas de fogo ou o Simunition.
Airsoft já é popular entre as forças armadas e policiais de países
desenvolvidos e com larga experiência em combate. Entusiastas, em todo o mundo,
formam equipes de competidores e simulam conflitos bélicos, inclusive com a
participação de militares experientes, devido à semelhança com a realidade.
Além do mais, usar Airsoft aumenta o
entusiasmo e o desejo de treinar mais vezes quando comparado com os exercícios
em seco.
Finalmente,
o Airsoft ainda permite o treinamento
policial em três frentes: primeiro, auxilia na recuperação dos conceitos
relacionados ao tiro daquele policial que se manteve afastado do contato com a
arma de fogo; segundo, permite que novos policiais aprendam os fundamentos do
tiro (visada, empunhadura, controle do gatilho, base, apresentação, respiração)
sem a preocupação com o recuo e o estampido; terceiro, permite o aprimoramento
das técnicas de sobrevivência policial sem a possibilidade de um ferimento real
causado por um disparo acidental. Em seguida, todos os policiais, novos e
antigos, podem graduar para o uso de armas de fogo ou a aplicação de técnicas
avançadas no treino convencional.
Na próxima
vez que sua organização policial investir em algum equipamento, sugira aquele
que pode valorizar o treinamento e trazer o sucesso num conflito.