“Uma tentativa de assalto na madrugada desta quinta-feira (10/11/2011) mobilizou boa parte do efetivo da Polícia Militar (PM). Cerca de oito viaturas se deslocaram até a casa, que havia sido invadida por três homens armados. Vizinhos afirmaram ter ouvido disparos de arma de fogo.
Segundo a PM, os acusados entraram na casa depois que romperam a cerca elétrica, que não estava ligada, e pularam o muro. Em seguida, quebraram uma parede de vidro e renderam a família. Um dos moradores, um agente federal, tinha uma arma em casa e disparou algumas vezes na intenção de assustar os assaltantes. Assustados, os acusados tentaram fugir, mas foram pegos pelos militares que cercavam o local.
Na tentativa de fuga, um deles se feriu ao cair da
sacada do terceiro andar do imóvel. O resgate do Corpo de Bombeiros foi chamado
para dar socorro ao rapaz. Ele foi imobilizado e encaminhado, sob escolta
policial, à Unidade de Atendimento Integrado (UAI) do bairro Pampulha, com
fortes dores nas costas. Os outros foram encaminhados à 1ª Delegacia Regional
de Segurança Pública de Uberlândia.” (Portal UIPI, 2011).
Essa foi a notícia veiculada pela imprensa local, mas é preciso contar os detalhes da ocorrência.
Por volta das 4h do dia 10/11/2011, a esposa de um
policial ouviu o som de uma porta de vidro sendo estilhaçada.
Ela avisou o marido, pegou o telefone celular, se trancou no banheiro e ligou
para um amigo oficial da polícia militar que morava nas proximidades. Enquanto isso, seu
marido vestiu uma camisa, pegou o revólver 38 (5 tiros), colocou-o na cintura,
e saiu do quarto para verificar o que estava ocorrendo.
Ao mesmo tempo, o trio criminoso, armado com facas, invadia a casa. O primeiro rendeu o filho do casal e o manteve sob ameaça com uma faca no pescoço; o segundo encontrou o policial no meio do caminho e ordenou que ele voltasse para o quarto; o terceiro bandido já vasculhava os outros cômodos da residência.
No quarto do casal, o criminoso ameaçou o policial e mandou que sua esposa saísse do banheiro. Perspicaz, a mulher deixou o telefone no banheiro para que o delinquente não percebesse que o socorro estava a caminho. Contudo, ao revistar uma gaveta, o bandido localizou alguns cartuchos de revólver e, indo em direção ao policial, perguntou onde estava a arma. Temendo ser identificado ou revistado, o policial sacou o revólver e fez três acionamentos contra o delinquente. Entretanto, os disparos falharam (negaram fogo) e o assaltante começou a brigar com o policial e sua esposa. Mesmo caído e com o invasor o estrangulando, o policial conseguiu realizar os dois últimos acionamentos que, apesar de funcionarem, não acertaram o alvo. Sem munição, o policial pediu ajuda à esposa. Então, ela pegou um vaso e o quebrou na cabeça do bandido, o que não teve qualquer efeito imediato. Aí, ela pegou o tampo de vidro duma mesa e realizou novo golpe na cabeça do invasor. Atordoado, ele tentou fugir saltando da sacada. Os comparsas fugiram, como de praxe, ao ouvirem os dois disparos que funcionaram. Os três assaltantes foram presos por policiais militares que já estavam no local.
Passado o susto, alguns colegas visitaram o policial aposentado para lhe prestar solidariedade. Questionado sobre o fato das munições terem falhado (num percentual de 60% da capacidade de seu revólver), o policial informou que aqueles cartuchos eram remanescentes de uma época distante e cuja procedência ele não se recordava. Outros policiais ficaram se perguntando por que o colega tinha apenas um revólver ao invés de uma pistola.
A esposa do policial foi, sem dúvida alguma, muito esperta.
Ao ouvir o barulho da porta de vidro se quebrando, ela imediatamente deduziu tratar-se de um arrombamento. Enquanto a
maioria das pessoas iria ver o que estava acontecendo (correndo o risco de ser
surpreendido no meio do caminho), ela simplesmente pegou o telefone e pediu
socorro. Certamente, a atitude desta mulher foi que evitou uma tragédia.
Se você está armado e vivencia uma situação de risco, há três coisas que não podem falhar: você, a arma e a munição. Se você falhar, sua arma poderá ser usada contra você e sua família. Se a arma ou a munição falhar, você estará em apuros já que talvez não tenha tempo ou frieza para sanar o problema, principalmente num conflito de vida ou morte. Nesse último caso, você vai precisar de todo ódio e toda força bruta para sobreviver se a questão for decidida corpo a corpo. É quando o treinamento mental e o condicionamento físico (este adquirido com a prática de esportes, mas muitas vezes negligenciado pelos policiais) fazem a diferença entre os perdedores e os vencedores.
Você falha quando acha que está sempre seguro mesmo em sua própria casa ou realizando atividades rotineiras. Falha quando acredita que a violência só atinge as outras pessoas ou está restrita a certos lugares. Erra quando não aproveita a primeira oportunidade para reagir ou quando reage no momento errado. Falha quando não pratica atividades físicas constantes. Erra quando usa munição de qualidade incerta, velha ou de procedência duvidosa. Falha quando não limpa sua arma e não treina com ela. E erra quando acha que a aposentadoria lhe afastou do grupo de risco do qual fazem parte todos os policiais do mundo.
Por isso, com tanta coisa para dar errado, você não
pode correr o risco de aumentar sua chance de ser vitimado simplesmente porque
não trocou a munição da sua arma por outra nova ou não limpou a arma ou não
treinou um pouco (mesmo num treino em seco).
Certa vez, um colega me presenteou com uma caixa de munição 9 mm da marca Lapua. Ele também me avisou que a munição estava guardada havia mais de 10 anos. Então, fui ao estande, ainda com certo grau de desconfiança naquela munição, e fiz cinquenta acionamentos. Confesso que me arrependi imediatamente, pois todos os acionamentos resultaram em disparos efetivos. Meu pesar foi pela vergonha em não ter confiado na marca e na qualidade do presente e porque fiquei sem aquela excelente munição para um treino mais elaborado.
Quando eu ainda era um aluno de um centro de formação militar, os alunos do
curso de Artilharia realizaram, pela primeira vez, um treinamento real com os obuses
de 105 mm. Considerando a necessidade de preservar a munição nova em virtude do
contingenciamento de recursos, a munição utilizada foi aquela que estava
estocada há mais tempo. Resultado: o treino foi um fiasco, pois a munição não
funcionou. Quer dizer, gastou-se dinheiro, tempo e motivação para um resultado
nulo. Durante um treino de tiro recente, os policiais que foram convidados utilizaram
a munição recarregada pela própria corporação da qual faziam parte. E o que
deveria ser um treinamento com exercícios dinâmicos, tornou-se fragmentado pela
necessidade de se interromper os exercícios sempre que a munição falhava.
Assim como um paraquedas, a munição é algo que não
pode falhar nunca, principalmente aquela desenvolvida para o uso em serviço.
Considerando esta realidade, as organizações policiais deveriam ser autorizadas
a comprar a melhor munição disponível no mercado mundial e em quantidade
suficiente para promover a correta substituição dos cartuchos de todos os
policiais, conforme orientam as próprias empresas fabricantes. E as empresas
produtoras de cartuchos deveriam elaborar produtos mais resistentes, avaliando,
inclusive, o modo inadequado como muitas pessoas guardam suas munições. Já que
as armas modernas são testadas sob condições extremas, o mesmo deveria ser
aplicado à munição.
Então, você deve substituir a munição velha por outra nova e limpar sua arma se assumiu a responsabilidade pela própria segurança. Além disso, as instituições policiais poderiam designar uma pequena quantidade de cartuchos para os colegas aposentados, já que eles representaram a polícia por mais tempo do que aqueles que continuam trabalhando.